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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Cara Mariana...

Mariana Vieira da Silva, actual ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, segundo vários meios de comunicação social (aqui e aqui), pretende que o dia 7 de Março, véspera do Dia Internacional da Mulher, seja um dia dedicado ao luto nacional pelas vítimas da violência doméstica.

 

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Cara Mariana, 

Enquanto mulher e sua colega de profissão, embora sem nunca ter exercido (porque, como é evidente, não nasci em berço de ouro nem sou filha de um homem com o mesmo prestígio que o senhor seu pai ministro), tenho a escrever que não preciso de um dia nacional de luto pelas vítimas. As vítimas de violência doméstica ou no namoro não precisam de um dia que lhes lembrem que, um dia, podem fazer parte da negra estatística. Mulheres, homens (porque eles, em menor número, também sofrem - aqui) e crianças não precisam de um dia onde se valorizem números. O que precisamos, o que a sociedade precisa, é de medidas e de menos juízes, como Neto de Moura (mas, o que é que o homem tem contra as mulheres?!). De pouco ou nada serve mais um dia como esse que a senhora pretende criar. Um filho que perdeu a mãe às mãos da violência de um pai precisa que, de facto, se tomem medidas que começam nas mais diversas áreas: da escola aos tribunais, das policias às equipas que apoiam e acompanham as vítimas. Existe tanta coisa mais importante por onde começar... do que um dia nacional de luto. 

 

Acredito, senhora Mariana, que um dos primeiros passos para combater a violência doméstico e no namoro comece nas escolas, junto das meninas e dos meninos, ensinando-lhes a importância do respeito mútuo e da igualdade entre sexos. Acredito, senhora Mariana, que formar os profissionais que lidam diariamente com estes casos, seja médicos, enfermeiros, polícias ou juízes, para a não responsabilização da vítima seja um outro caminho para combater a violência antes de se declarar um dia específico pelos que já partiram. Acredito, senhora Mariana, que apoiar as vítimas em vez de as punir com a fuga de casa para uma casa abrigo e responsabilizar o agressor seja mais importante. Inclusive, acredito, senhora Mariana, que se deve trabalhar com o agressor para que este lide com os sentimentos de possessão, agressividade, controlo e vingança contra a vítima. Acredito, senhora Mariana, que enquanto ministra, terá uma equipa muito mais capaz e, talvez, mais preparada do que eu para lhe indicar o melhor caminho para combater e diminuir o número de vítimas da violência... só não consigo compreender como é que considera que criar um dia de luto pode ajudar a mudar a estatística. 

 

Cara Mariana, enquanto mulher que um dia viveu um relacionamento possessivo e de controlo (porque a violência não escolhe graus académicos, profissões, género, religião...), acredite que o caminho não é esse e medidas como a que pretende de nada servem... no dia de 7 de Março falaremos sobre as mulheres que morreram às mãos da violência doméstica mas, se o caminho se mantiver, nos restantes dias, falaremos sobre as novas Maria(s), Lara(s), Inês(es) e tantos outros nomes que a violência já matou. Morreram, desde o início deste ano, 12 mulheres... quantas mais terão de morrer?

 

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Porque hoje é o,

Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulher *, vou contar a história de uma menina-mulher a quem, um dia, lhe bastou um estalo do (suposto) príncipe encantado para por fim à violência psicológica.

 

Começa assim...

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 (in Shiuuuu)

 

Era uma vez, uma menina tímida e introvertida que sonhava todas as noites com o seu príncipe encantado. Um príncipe que gostasse dela, tal como era, protegendo-a e cuidando-a. Acreditava que, um dia, quando fosse adulta, encontraria esse príncipe e, todas as noites fazia o mesmo pedido ao céu e às estrelas: um príncipe como o dos contos das princesas e fadas que a mãe tantas vezes lhe lerá.

 

Os anos, meses, semanas passaram-se e esta menina cresceu mergulhada na insegurança e nos medos: todos lhe diziam que era feia e gorda, que nunca encontraria ninguém. Os dias de sol e calor sucederam-se aos dias de chuva e frio, a vida não parava e, a cada novo ciclo, a menina agora feita uma jovem tornava-se mais fechada. Acreditava nas palavras de cada amiga, de cada colega, achava-se feia e gorda e acreditava piamente que, alguém como ela, nunca teria um príncipe encantado que lhe dissesse o oposto. 

 

As noites deram lugar aos dias, os dias às noite e, a agora mulher, chegou à Universidade sem saber o que era amar-se a ela mesma, o sabor de um beijo ou o abraço apertado de alguém que nos ame. Num corpo de mulher, escondia-se uma menina insegura, tímida, introvertida, acreditando que a vida destinará para ela a solidão... e, quando lhe perguntavam se já tinha namorado, sentia que o mundo a julgava como se de uma falhada se tratasse, porque com a idade de vinte e dois anos já deveria ter tido, pelo menos, um namorado e saber o que se sentia a beijar alguém. 

 

Um dia, nem ela sabe muito bem como foi ou porquê, conheceu aquele que acreditava ser o seu príncipe encantado. Os olhares cruzavam-se na mesma rua e, das primeiras trocas de palavras ao primeiro encontro, as semanas fizeram-se passar rápido. Ele dizia-se encantado pelo sorriso dela e ela, ainda sem se amar, achava que tinha encontrado um amor dos contos de fada. A menina-mulher sentia-se feliz e, quiçá, pela primeira vez, descobriu o que era sentir-se protegida. Do primeiro encontro ao primeiro beijo e consequente início de namoro passaram alguns dias e no rosto estampava um sorriso e um brilho especial no olhar. Já sabia como era sentir a barriga com borboletas e o sabor de um beijo: a pastilhas de menta que ele mastigava para disfarçar o hálito a cigarro, que ela detestava... provavelmente, o único defeito que lhe encontrou no primeiro mês de namoro. Não viu como defeito as humilhações em público, quiçá com dois meses: como aquela vez em que lhe disse que não passava de uma burra porque não sabia a marca de um automóvel ou o significado de uma palavra em inglês; nem daquela vez em que, na companhia de uma amiga, lhe chamou palerma e estúpida porque deixará entornar o café... Também não viu como defeito a noite em que ele lhe pedira o telemóvel para lhe ver as mensagens ou o filme ciumento que imaginará por passar a tarde a trabalhar com os colegas de faculdade (e, somente, porque não tinha ido com a cara deles). Tanta coisa que ela não viu (ou que não quis ver), mesmo quando a tentaram alertar, quando a amiga lhe disse que o único futuro dos dois era com ele a bater-lhe... Nem mesmo quando, distantes de casa e em acesa discussão, ele a mandou sair do carro aos gritos, mandando-a para casa a pé (e, (supostamente) arrependido, prometeu não voltar a fazer o mesmo... repetindo um semelhante episódio algumas semanas antes de completarem um ano de namoro). A menina-mulher não viu nada disto porque tinha medo da solidão, não viu como ele jogou com os seus medos e brincou com ela, lhe destruir a já frágil auto-estima e confiança. Acreditava que, com paciência, amor e a ajuda do tempo o mudaria (a palermice das mulheres acharem que conseguem mudar um homem); porque ele lhe prometera controlar o feitio impulsivo... não a queria perder e ela acreditou. Não tinham nem um ano de namoro (ou a morar juntos, como ele tanto desejava) e já tinham passado por tanto... 

 

A realidade atingiu-a dura e fria quando, certa tarde e já depois de celebrarem o primeiro ano de namoro, ele lhe deu um estalo, atirando-a contra a parede e gritando-lhe que, por ser gorda, mais ninguém a amaria como ele a ama. A menina-mulher deixou-se escorrer pela parede, lavada em lágrimas, confusa, envergonhada, revoltada; enquanto ele se refugiava nos cigarros. Passaram-se minutos, quase horas, quando ele regressou mais calmo, prometendo que não voltaria a fazê-lo, que a culpa era dele e do descontrolo que não controlava. Não foi naquele dia que terminaram mas, algumas semanas depois, a frágil e magoada menina pediu-lhe que terminassem, que já não amava, que precisava de tempo para si. Perguntou-lhe se era mesmo aquilo que queria fazer, alertando-a que, uma vez terminado não haveria retorno... e, assim foi.

 

Bastou um estalo para compreender o que não queria para a sua vida: um príncipe ciumento, impulsivo, controlador, que a fragilizava e a humilhava e onde (certamente) depois do primeiro estalo, se seguiria o segundo, o terceiro, o quarto...

 

Esta é a história das Antónias, Marianas e Joanas. De tantas meninas que sonham um príncipe encantado e se tornam mulheres vítimas de violência... daquela que lhes destrói a confiança e os sonhos, daquela que as mágoa e as marca para todo o sempre, uma dor física e uma dor psicológica. Um príncipe que as marca para sempre, pouco importa o tipo de relacionamento. Esta é a história das Sofias, Marias e Alexandras que tentam esconder, pela vergonha e revolta, a história que poucos conhecem... Uma história ficcional com tanto de real... ou será que andarei assim tão longe da realidade? Mudam-se os detalhes, mas o cenário é quase sempre o mesmo...

 

* (seria mais justo e igualitário chamar-lhe somente Dia Internacional pela Eliminação da Violência (ou de Género, algo assim, mais abrangente)... porque não é só de mulheres que se veste a violência física e psicológica)

 

** (é uma história fantasiada com detalhes de uma realidade próxima e de realidades que li e ouvi)

Conversa de café.

Durante a tarde, numa conversa de café, ouvi isto: 

 

Homem que é homem bebe pela garrafa |a cerveja|. Quem bebe pelo copo é um maricas de m***.  

 

Convém acrescentar que moro na zona Norte, em que o uso de palavrões é dominante.

Sobre o senhor em causa: não há-de ter mais de 40 anos, é casado, com filhos e um velho conhecido da terra por não esconder as suas opiniões sobre as mulheres, estrangeiros e homossexuais. 

E tu? Quando a vítima é um homem.

Associamos, quase sempre, violência doméstica ao sexo feminino (inclusive, partilhei um vídeo sobre a forma como reagimos a uma cena de violência doméstica numa rua) Mas, e quando a vítima é um homem? Como reagíamos?

Primeiro, o homem no papel de agressor; depois, no papel de vítima. 
O vídeo acima pretende alertar a sociedade para a violência doméstica contra homens. A iniciativa aconteceu nas ruas de Londres, pela fundação ManKind Initiative, que luta pelo fim da violência doméstica. 
Na faculdade cheguei a abordar a temática da violência doméstica contra homens. Sim, ela existe: em moldes distintos à violência sobre mulheres, mas igualmente preocupantes. A principal conclusão a que chegamos: por muito trabalhado e esculpido que seja o corpo de um homem, quando o psicológico não combina com o físico, qualquer um se torna vítima dos medos. A este propósito, fica uma das reportagem sobre a temática, de vítimas masculinas em Portugal.
Porque ninguém sabe os medos e pânicos que carregamos dentro de nós e como reagiremos quando alguém os aprende e sabe como jogar com eles. Seja homem ou mulher. 
PS: no Reino Unido, 40% das vítimas de violência doméstica são homens.