Oito mitos sobre o excesso de peso.
Eu sempre fui gorda... gordinha, grande, cheiinha, com curvas. Diversos termos para designar o meu corpo. Convivo com o excesso de peso desde os meus dez anos e, aos vinte e sete, quase vinte e oito, vivi experiências e senti sentimentos que moldaram a minha personalidade e relação com o meu corpo e peso.
Quando adolescente, na idade em que o corpo e a imagem ganham importância, escutei diversas vezes comentários negativos e destrutivos sobre o meu peso ou tamanho das minhas ancas. A ideia, no caso de palavras proferidas pelos familiares mais próximos, era incentivarem-me realmente a perder peso porém, porque é nos amigos e colegas de escola que mais valorizamos opiniões, os comentários negativos conseguiram afundar-me mais. Pai e mãe nunca, em fase alguma, compreenderam que procurava na comida o refúgio para os meus problemas de peso, auto-estima, amor e amizade. É uma fase da qual pouco menciono, onde procurei diversas formas de perder peso, apesar de voltar sempre à comida, e corresponder àquilo que as pessoas achavam bonito: o ser-se magra através de dietas loucas, longos períodos sem comer e tentativas de forçar o vomito. Enfim... a adolescência é um período complexo para meninas e meninos, definindo personalidades e sentimentos em relação à nossa imagem e àquilo que somos. Uma fase onde os comentários negativos são levados ao extremo e, por vezes, pais e mães desconhecem o impacto que tal provoca.
Na fase adulta, no entanto, eu ainda não sabei lidar com este problema de peso. A dificuldade em encontrar roupa a meu gosto, os comentários depreciativos vindos de um ex-namorado e a personalidade introvertida e de baixa auto-estima ainda hoje marcam o que sou. Abandonei dietas malucas e a ideia de um dia pesar quarenta e cinco quilos, como todas as amigas de adolescência. Não me sinto totalmente confortável nos meus noventa mas, ainda assim, aceito-me melhor do que antes e, em vez de procurar refúgio à comida levando-me a pesar mais de cem quilos, reencontro-me nos livros. Não suporto fotografias de corpo inteiro porque odeio as minhas pernas e coxas mas, procuro caminhar e fazer frente a comentários negativos sobre as mesmas. Procuro, em vez de me auto-destruir como na adolescência, maneiras de me aceitar como sou. Não sou, confesso, totalmente feliz mas recuso-me a ser escrava do meu corpo: viver em permanentes dietas, sempre com medo de engordar, proibir-me de comer o que gosto, agradar aos demais em vez de a mim mesma.
O drama do peso e a forma como o encaro é um tema que, diversas vezes, abordei no blogue. Porém, não era sobre mim exactamente que queria falar...
Mitos. É dos mitos sobre o peso que quero abordar. Nos meus vinte e sete anos ouvi diversos comentários negativos que, com o tempo, compreendi serem associados a pessoas gordas. Homens e mulheres com problemas de peso marcados por ideias pré-concebidas e descabidas... resumidamente, mitos do excesso de peso. E, perguntam vocês, quais são? Ora aqui vai a lista...
| Os/As mais divertidos.
Diz-se que o homem ou a mulher gorda são sempre os mais sociáveis e divertidos. Culpa do excesso de peso e da necessidade em esconder os seus complexos, adoram conversar e fazer rir os demais, frequentemente, são os primeiros a proferirem comentários negativos sobre o próprio peso. Diz-se que é uma forma de esconderem os problemas de confiança e de imagem.... Mentira. Sou mulher e sou introvertida e pouco dada a conversas com desconhecidos. Odeio comentários sobre o peso e jamais brinquei sobre o mesmo - fosse comigo ou com alguém conhecido. E, como eu, havia um colega de curso na Universidade com problema de peso e dificuldade em interagir com os demais. É claro que, igualmente, tinha um amigo que confirmava a regra mas, na prática, isto não passa de um mito extremamente associado a pessoas com excesso de peso.
| Não sentem tanto a dor.
Diz-se que por termos mais carne que somos mais susceptíveis à dor... bem, também já escutei o inverso, ou seja, por termos mais gordura não sentimos dor. Mas... Eu, de facto, comprovo-o. Não suporto dor, seja ela qual for e nem falamos sobre o ver sangue... e descobri, à conta do meu actual trabalho, que rapidamente fico marcada por nódoas negras (e, por este facto, é bom não ter namorado...). Porém, o meu irmão e o meu pai fogem à regra: ambos sentam-se numa cadeira de dentista e arrancam os dentes sem qualquer anestesia.
| É-lhes mais difícil encontrar o amor.
Não tenho namorado à uns três anos e, de facto, o meu campo amoroso sempre foi complicado... mas eu não sou exemplo neste campo. Pode ser difícil mas não é impossível. Nos meus curtos anos de vida conheci homens e mulheres com excesso de peso que encontraram o amor e são felizes. Quiçá demore um pouco mais mas, como a qualquer outra pessoa, acaba por chegar. Por outro lado, uma das coisas que mais me irrita é quando me dizem que preciso de emagrecer para arranjar um namorado... juro que quando o dizem tenho de controlar o meu impulso assassino... no meu caso, diz-se que, por um lado, o amor me demora porque o meu karma amoroso é lento (não sei exactamente o que isto quer dizer), por outro, eu mesma tenho dificuldade em vencer os meus medos à conta de experiências passadas. Mas, bom, seja como for, o meu irmão sempre foi gordinho e encontrou um amor...
| Só comem porcarias.
Não como bolos nem bebo bebidas com gás, à anos que não como uma hambúrguer no McDonalds e sou a pessoa mais esquisita a comer que conheço. O problema é que, no fundo, sou extremamente preguiçosa e quando estou mais nervosa tenho tendência a comer mais. É, na verdade, um problema de ansiedade que, contrariamente à maioria, não me retira o apetite. Não sou exactamente reflexo daquilo que como, como se diz. E sei que não sou a única assim... Nem todos somos gordos/as por comer porcarias: algumas pessoas são-no por sofrem com problemas de tiróide ou qualquer patologia do foro psicológico (e estás, infelizmente, mantêm-se negligenciadas).
| Gordos/as são preguiçosos/as.
Confesso-me: sou extremamente preguiçosa. Eu sou-o mas nem todos somos gordos/as por passarmos a tarde sentados no sofá a comer porcarias. Conheço pessoas com excesso de peso que praticam imenso desporto. O meu irmão é um desses exemplos: sempre foi forte, até alguns meses, e praticava andebol e futebol de salão. Ah! Já vos falei da minha professora de zumba? É professora de educação física, dá aulas de andebol, futebol de salão, pilates e zumba, no entanto, embora toda a genica e actividade, é mulher gordinha, acima do peso ideias das mulheres cuja profissão se baseia no peso.
| Menos susceptíveis ao frio.
Eu sinto sempre frio. Sempre! Eu passo grande parte do Inverno a queixar-me do frio... sempre! O meu Inverno é passado com três camadas de roupa e umas cinco camadas de cobertores na hora de dormir.
| Gordos/as devem vestir-se mediante o seu tamanho.
Quem diz isto? A moda? E o que é a moda? Pergunto isto porque, para mim, a moda sou eu que a faço! Quando não gosto de uma peça de roupa, por mais na moda que esteja, jamais a usaria. Uso o que me faz sentir confiante, bonita e feliz. Não uso o que dizem ser indicado para o meu tamanho. Confesso que não faz o meu género, também não gosto de o ver em raparigas ditas magras mas, se me desse na real gana usar aqueles tops curtos a mostrar a barriga, julgam que só por ser gorda não o usaria? A moda sou eu! Somos o que quisermos vestir...
| Namoram com outros/as gordos/as.
O ponto é este: há homens que preferem mulheres mais cheiinhas, há mulheres que preferem homens mais gordos e por aí fora, bem como o oposto. Não existe, em lado algum, nenhuma regra de obrigue uma mulher gordinha a namorar um homem gordinho. Conheci homens que preferiam uma namorada com curvas a uma mulher magra e vice-versa. É uma ideia descabida...
Os oito mitos acima descritos foram, como escrevi anteriormente, baseados na minha experiência e comentários negativos que escutei e escuto à anos.