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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

A mãe S.,

têm 28 anos - dois anos mais velha do que eu -, trabalha para o meu pai e, certa tarde, quis saber a minha opinião e, do qual procurei reproduzir nosso diálogo,

 

- O meu P. agora diz que quer usar brincos com a irmã.

- Hum... e?

- E? Achas bem? Ele diz que quer usar brincos como a irmã! - altera a voz e acentua as últimas palavras.

- Continuo a não perceber...

- Primeiro, porque ele é menino e os meninos não usam brinco.

- Ah! Mas... - preparava-me para argumentar quando, a mãe me interrompe.

- E, segundo, porque ele só têm oito anos.

- Oh S., desculpa lá, uma coisa é o rapaz só ter oito anos. Pronto. Aceito que por isso não lhe queiras furar as orelhas mas, agora, dizeres que por ser menino e menino não usa brinco, desculpa, mas é uma idiotice. 

- Só os maricas é que usam brincos e o meu filho não é nenhum maricas.

- Oh S. poupa-me. Se o teu filho tiver que ser alguma coisa, há-de ser quer queiras quer não queiras...

 

desigualdade-na-escola.jpg

 

Primeiro: a mãe S. é a mesma mãe que diz Deus me livre que os meus filhos sejam gays mas, se realmente o rapaz ou a rapariga o assumirem jamais rejeitarei os meus filhos por isso mas prefiro que não sejam.

 

Segundo: a mãe S. é a mesma mãe que diz praticar uma educação pela igualdade. Ou seja, segundo ela, rapaz e rapariga realizam tarefas domésticas em casa e educa-os de maneira a que o rapaz respeite uma mulher e vice-versa ou a que ela se defenda de quem a maltrata. Porém, aí do rapaz que se lembre de pintar as unhas ou de usar a mala Hello Kitty da irmã e, à miúda diz-lhe senta-te como uma mulher... seja lá o que isso for. É, igualmente a mesma que diz às crianças, não comas isso porque ficas feia e gorda ou os meninos não choram

 

Terceiro: a mãe S. é a mesma que me diz só dizes essas coisas porque não és mãe e que quando tiveres filhos e um homem, quero ver se vai ser igual. 

 

Quarto: a mãe S. é o reflexo de tantas mães que se dizem modernas e progressistas mas que, cuja realidade é distinta e, quando toca nos seus, um Deus me livre escapa-lhes da boca...

Restaurantes: crianças, pais e a impaciência.

Recentemente, num restaurante da zona, assisti a uma cena que, para mim, foi no mínimo caricata: um homem para lá dos seus trinta anos grita (e a bem grita) com o empregado, na casa dos vinte, porque o seu almoço ainda não tinha sido servido e a criança de sete anos estava cheia de fome. De facto, o serviço estava atrasado e, nesse aspecto, dou razão ao senhor, embora também saiba que não situação recorrente naquele restaurante, visto que conheço o emprego - obviamente que o senhor não sabe nem tinha como saber desse aspecto. Porém, para mim, perde razão quando berra em pleno restaurante com o empregado, dizendo que a criança não aguenta mais, não dando oportunidade ao jovem empregado para argumentar. 

 

Levar a família a almoçar fora significa, por vezes, ter de esperar pela refeição. Ou seja, esperar que a mesma seja confeccionada, empratada e colocada à frente do cliente. Tudo isto demora o seu tempo. Por isso, pergunto-me, qual a necessidade, em primeiro lugar, de o homem em pleno restaurante desatar aos berros com o empregado? Não seria mais educado chamá-lo à mesa e perguntar o que se passava? Ou, em alternativa, falar, por exemplo, no exterior e averiguar o porquê da demora? A maioria é leiga nesta temática mas, quem já trabalhou ou geriu um restaurante sabe que, quando a comida é preparada na hora, as coisas demoraram... especialmente se a casa enche e ninguém possui uma bola de cristal para adivinhar que, naquele preciso dia, a maioria se vai inclinar para o peixe ou para a carne. É difícil gerir a dualidade de interesses e a dificuldade em ambas as partes lidar com o problema. 

 

O serviço estava atrasado e o senhor tinha todo o direito de manifestar a sua revolta mas...

 

Pergunto-me sobre o exemplo que terá dado aquela pai ao seu filho de sete anos. A fonte do problema foi a criança mostrar impaciência perante a falta de comida. Não tenho filhos mas embora não seja exactamente o mesmo, já trabalhei em cafés durante o verão e vejo o quão impaciente as crianças podem ser... em vários casos, tive de servir primeiro a criança antes dos restantes membros, a pedido dos mesmos, porque o menino ou menina não podiam esperar que eu chegasse à mesa com o bolo ou o ovo kinder e o restante pedido. Bom, vejo demasiadas crianças com sete anos, mais nova e mais velhas, demasiado impacientes para esperar... Todos sabemos que são os pais e, quando os existem, os irmãos mais velhos quem influenciam o comportamentos dos mais novos. O que um adulto fizer, cedo ou tarde, se reflectirá na criança. Portanto, não me admiraria que, um dia mais tarde, aquela criança de sete anos tomasse exactamente o mesmo comportamento do pai num qualquer restaurante. Estamos a criar crianças demasiado impacientes para esperar. Para esperar pelo prato da comida ou pelo simples gelado num café. Exigem-no imediatamente, na hora, mal o pedem. Seria conveniente que muitos destes pais e mães explicassem aos seus filhos e filhas que as refeições demoram o seu tempo e que ir a um restaurante não exactamente a mesma coisa que a mãe ou o pai a tratarem da refeição lá em casa para três ou quatro pessoas. Por isso, pergunto-me que imagem terá este pai passado ao filho. Que criança será está no presente e futuro? Em vez de lhe explicar que a comida demora a confeccionar, leva o seu tempo e que não está num restaurante da MacDonald's, em que cinco minutos depois - ou nem isso - está sentado a comer a bela da hambúrguer, não, optou por desatar aos berros com o empregado, à frente do miúdo. 

 

Bem sei que não é fácil manter uma criança de sete anos, a comer pão com manteiga e beber água com groselha, quieta no seu lugar, sem mais nada com que se entreter - curiosamente, a maioria dos pais já vi que opta por pegar num tablet ou no telemóvel xpto e espetar à frente da criança mas, esse é outro tema. Não o é e eu, que um dia espero vir a ter as minhas próprias crianças, talvez chegue a passar pelo mesmo. Mas, quando esse dia chegar, espero ser mãe consciente e não fazer escândalos como os que presenciei e ter sido capaz de ensinar aos meus filhos e/ou filhas a virtude da espera e paciência e a diferença entre um restaurante tradicional e um restaurante de comida rápida. 

 

Finalizo com um dos melhores vídeos sobre o tema,