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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Sobre os programas da Sic e Tvi: a minha opinião.

No domingo passado, eu e o meu namorado decidimos assistir ao programa de estreia da SIC, Quem quer namorar com o agricultor?. Pessoalmente, este género de programas, quer o da SIC quer o da TVI - Quem quer casar com o meu filho? e que acabei por ver uma parte no dia seguinte - não me atraem, tal como não me cativou os similares que os mencionados canais já transmitiram no passado. Todavia, assisti para também puder falar e argumentar sobre os mesmo. 

 

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Muito se escreveu sobre eles: sobre a falta de criatividade das televisões portuguesas, sobre a procura de exposição mediática dos participantes, sobre a objectivação da mulher e a reprodução de estereótipos. A Cristina Ferreira, no seu instagram, defendeu o formato transmitido pela SIC, como sendo uma forma de mostrar que Portugal é mais do que Lisboa: "Portugal não é Lisboa. Portugal não é urbe. Portugal é também campo, isolamento, tradição e solidão. Para perceberes o pensamento tens de perceber as condições. A minha tarefa é ajudar na mudança. Mas é também perceber a diferença. E saber que tudo muda, mas devagarinho." Sim, de facto o formato mostra uma realidade que talvez poucos conhecem mas não deixa de colocar a mulher numa posição ingrata e desvalorizar o amor. Mas, tal como o formato mostra o outro lado de Portugal, também acredito que os criativos de conteúdo do canal de Paços de Arcos conseguiriam fazer nascer um programa que mostrasse esse lado desconhecido, sem expor as mulheres como gado. Em oposição, o programa da concorrência mostra-nos meninos de 20, 21, 22 anos com desejos de casar (eu, com 30, não tenho esse desejo mas, cada um com a sua tolice), em que as mamãs dos pequenos avaliam e escolhem as futuras noras, com base em premissas como o saber cozinhar ou arrumar a casa, fumar ou ter filhos. Resumindo, se um coloca as mulheres como se de uma venda de gado se tratasse, o outro opta por retroceder no tempo como se as mulheres de hoje se assemelhassem às nossas avós, bisavós e às do século XVIII.

 

Os formatos são errados mas, infelizmente, traduzem e reflectem a realidade. A luta das mulheres pela igualdade não termina nem terminará nos próximos tempos e estes programas mostram-nos. A SIC e a TVI são, com os programas do género que já transmitiram e pretendem transmitir, o espelho da sociedade. Ficamos chocados com a forma como uma mãe questiona uma mulher sobre os conhecimentos de cozinha para, futuramente, alimentar o seu filho... mas, quantas de nós já não ouviu o choque de outrem, homens e mulheres, por não sabermos cozinhar? Ou quantos de nós, homens e mulheres, não fomos condenados por termos filhos fora do casamento ou assumirem novo relacionamento com filhos de outrem? Quantos de nós, homens e mulheres, não recebemos olhares negativos relativamente ao aspecto físico? Nada disto é correcto mas, infelizmente, é a realidade e este género de programas demonstra-os. Obviamente que, na guerra das audiências, o objectivo dos programas não é educar ou fazer-nos reflectir sobre o que precisamos de mudar, mas acabam por ser um género de chamada de atenção para todos nós e na forma errada como educamos... seria de prever que esta geração de mamãs e filhos fosse menos retrogada mas enganamo-nos redondamente. 

 

Cabe a cada um de nós, homens e mulheres, saber educar para quebrar o reflexo que estes programas transmitem. Não é objectivo dos canais privados educar a sociedade, mas cabe a cada um de nós, homens e mulheres, educar para a igualdade. É chocante e revoltante a forma que ambos os programas assumem, mostrando um retrocesso nos direitos e na luta das mulheres mas, e se, no fundo, esse progresso em que tantos de nós acreditavamos estar a acontecer, na verdade, nunca tivesse passado de uma ilusão? Existe tanto por fazer, tanto por lutar, tanto por mudar.

 

No meio de tudo o que já se escreveu e que eu mesma escrevi, saltaram-me algumas questões à mente, como:*

 

O que é que leva mulheres jovens e bonitas a participar neste género de programas? O que leva jovens citadinas e independentes a considerarem que o amor das suas vidas está no campo? E o que leva aqueles homens a acharam que é num programa televisivo que vão encontrar a parceira ideal?

 

O que é que leva jovens bonitos de 20, 21, 22 anos a desejarem casar? E, sobretudo, porque é que consideram que a escolha da mãe seja a mais acertada? O que é que aquelas mães andaram a ensinar aos seus filhos sobre o que é uma mulher para casar?

 

Onde é que entra realmente o amor nestes género de programas?

 

Porque é que os mesmos formatos foram sucesso de audiências noutros países e, em Portugal, eles foram massacrados com críticas? 

 

*Se alguém tiver resposta a estás questões, por favor, deixe-as nos comentários.

 

Eu, enquanto mulher e, quem sabe, futura mãe, revi nestes programas aquilo que não quero ensinar aos meus filhos: a objectivação e desvalorização da mulher e do amor. 

Cara Mariana...

Mariana Vieira da Silva, actual ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, segundo vários meios de comunicação social (aqui e aqui), pretende que o dia 7 de Março, véspera do Dia Internacional da Mulher, seja um dia dedicado ao luto nacional pelas vítimas da violência doméstica.

 

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Cara Mariana, 

Enquanto mulher e sua colega de profissão, embora sem nunca ter exercido (porque, como é evidente, não nasci em berço de ouro nem sou filha de um homem com o mesmo prestígio que o senhor seu pai ministro), tenho a escrever que não preciso de um dia nacional de luto pelas vítimas. As vítimas de violência doméstica ou no namoro não precisam de um dia que lhes lembrem que, um dia, podem fazer parte da negra estatística. Mulheres, homens (porque eles, em menor número, também sofrem - aqui) e crianças não precisam de um dia onde se valorizem números. O que precisamos, o que a sociedade precisa, é de medidas e de menos juízes, como Neto de Moura (mas, o que é que o homem tem contra as mulheres?!). De pouco ou nada serve mais um dia como esse que a senhora pretende criar. Um filho que perdeu a mãe às mãos da violência de um pai precisa que, de facto, se tomem medidas que começam nas mais diversas áreas: da escola aos tribunais, das policias às equipas que apoiam e acompanham as vítimas. Existe tanta coisa mais importante por onde começar... do que um dia nacional de luto. 

 

Acredito, senhora Mariana, que um dos primeiros passos para combater a violência doméstico e no namoro comece nas escolas, junto das meninas e dos meninos, ensinando-lhes a importância do respeito mútuo e da igualdade entre sexos. Acredito, senhora Mariana, que formar os profissionais que lidam diariamente com estes casos, seja médicos, enfermeiros, polícias ou juízes, para a não responsabilização da vítima seja um outro caminho para combater a violência antes de se declarar um dia específico pelos que já partiram. Acredito, senhora Mariana, que apoiar as vítimas em vez de as punir com a fuga de casa para uma casa abrigo e responsabilizar o agressor seja mais importante. Inclusive, acredito, senhora Mariana, que se deve trabalhar com o agressor para que este lide com os sentimentos de possessão, agressividade, controlo e vingança contra a vítima. Acredito, senhora Mariana, que enquanto ministra, terá uma equipa muito mais capaz e, talvez, mais preparada do que eu para lhe indicar o melhor caminho para combater e diminuir o número de vítimas da violência... só não consigo compreender como é que considera que criar um dia de luto pode ajudar a mudar a estatística. 

 

Cara Mariana, enquanto mulher que um dia viveu um relacionamento possessivo e de controlo (porque a violência não escolhe graus académicos, profissões, género, religião...), acredite que o caminho não é esse e medidas como a que pretende de nada servem... no dia de 7 de Março falaremos sobre as mulheres que morreram às mãos da violência doméstica mas, se o caminho se mantiver, nos restantes dias, falaremos sobre as novas Maria(s), Lara(s), Inês(es) e tantos outros nomes que a violência já matou. Morreram, desde o início deste ano, 12 mulheres... quantas mais terão de morrer?

 

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O Carro do Amor x First Dates.

O meu namorado, o M., começou a ver Casados à Primeira Vista muito por minha culpa. Inicialmente, o programa passou-me completamente ao lado mas, com o tempo e a projecção que o mesmo tomou, acabei por me render a ele e comecei a acompanhar as emissões dos diários d' Casados à Primeira Vista. Não assisti à relação bombástica entre Lídia e Francisco e apanhei as últimas semanas do casamento entre Sónia e João e frases machistas do senhor Conde. O certo é que, se inicialmente, tanto ele como eu que não tínhamos qualquer interesse no programa, deixávamo-nos viciar e reservávamos os domingos à noite para acompanharmos os casais e conhecermos os conselhos matrimoniais. 

 

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(imagem: MAGG)

 

No fim-de-semana passado decidimos roubar tempo à nossa noite para vermos as gravações de O Carro do Amor, da SIC, e First Dates, da TVI. Eu não tinha visto nenhum deles, durante a semana, e ele desde que estreou, acompanha o primeiro. Pessoalmente, nem um nem outro me agradaram. Ficamos fã d' Casados à Primeira Vista e achamos que estes dois são um bocadinho, assim que, para o parvo. Ele, apesar de tudo, prefere ver isto do que o já repetitivo Preço Certo, da RTP. O primeiro parece ser o mais engraçado dos dois, o segundo é curto e parece não incentivar ao conhecimento - é mais decotes e atracção sexual que se salienta. Confesso que, embora eu jamais conseguisse participar em qualquer um destes programas, se participasse no Carro do Amor, não poderia ser a condutora do automóvel: não gosto de conduzir com estranhos, focando a minha atenção na condução e menos em conversar e, com os nervos, provavelmente acabaria por ter um acidente. 

 

Os canais de televisão encontraram um novo chamariz de audiências: o amor. Infelizmente, o verdadeiro e puro amor jamais poderá ser encontrado no meio de câmaras televisivas e números de audiência. A agitação dos nossos dia-a-dia, as exigências que muitos de nós colocam no parceiro, a proliferação das redes sociais que parecem convidar à solidão, levam a uma cada vez maior banalização do amor... com uma semana de namoro, a palavra "Amo-te" torna-se insignificante. O amor é muito mais do que assistimos em Casados. Os primeiros passos na construção de uma relação de amizade e amor são muito mais elaboradas do que os jogos do carro. A vida real é cheia de complexidades, altos e baixos, que os programas televisivos jamais conseguirão captar. Não sei quantos mais programas do género nascerão sob a premissa do amor mas parece que veio para ficar... e creio que a sociedade não fica mais rica por isso.

Fila de espera.

Quem já trabalhou ou trabalha em atendimento ao público sabe que, na maioria das vezes e independentemente da área, a mesma não é fácil. Existe todo o género de clientes, homens e mulheres, que em vez de procurarem simplificar e facilitar quem atende e quem aguarda em fila de espera, parecem preferir implicar com tudo. Creio que, em algumas situações, quem o faz parece esquecer-se que (e evidentemente) paga um serviço e têm todo o direito a exigir o melhor mas encontra-se, acima de tudo, perante um ser humano. Encontramos, do lado de quem serve, uma mulher ou um homem que, independentemente do gosto pela área, não são máquinas das quais seja possível "usar e deitar fora". 

 

Ontem decidi variar e ir almoçar ao Vitaminas da minha zona. A servir, em plena hora de confusão das refeições, uma jovem dividia-se entre pagamentos, preparar saladas e sandes, aquecer sopas e lavar pratos... uma jovem que não deveria ter mais de vinte e cinco anos, sempre de sorriso e simpatia no rosto, apesar dos olhares de desespero dos clientes e dos pedidos de compreensão que a mesma proferia. Nisto, a senhora que estava à minha frente, optou por complicar e implicar, apesar do "bater de pés" e ares de impaciência que eu e os demais clientes lhe lançamos. Quando, finalmente a senhora se deu por satisfeita no pedido e chegou a minha vez de pedir, senti que a moça estava a ponto de colapsar em lágrimas e, para o evitar quando lhe sorri como que a dizer-lhe "mulher mesquinha. esquece-a", a mesma encolheu-me os ombros e retribuiu o sorriso... o mínimo que pude fazer por ela foi despachar-me no pedido e, mentalmente, maldizer a chata da mulher.