Coisas nossas...
O amor é... quando ele te seca o cabelo porque tu, por preguiça, não tens vontade de o secar completamente.
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O amor é... quando ele te seca o cabelo porque tu, por preguiça, não tens vontade de o secar completamente.
Quando conheci o M., o meu namorado, à quase dois anos, ele não era dado à leitura. As leituras dele resumiam-se aos jornais, seja o desportivo ou generalista, e aos artigos específicos da sua área de trabalho. Não tinha o hábito de ler porque, como ele me confidenciou, não sabia muito bem o que ler.
Invejava, no entanto, o meu amor pela leitura. Impressionou-se com a recheada estante de livros que já tinha lido e com a pilha de leituras que parecia - e parece - nunca terminar. Comigo, onde quer que vá, anda na minha mala ou no banco do meu carro, um livro. Admirava-se que, sempre que esperava por ele, quase sempre fizesse agarrada a um livro. Cedo compreendeu que os livros eram como um amante... teria de aprender a lidar com uma mulher que adora ler.
Um dia, porém, o M. confidenciou-me que gostava de ler mais, gostava de me acompanhar nas leituras, e pediu-me que o ajudasse. Perguntei-lhe sobre géneros literários com os quais se identificasse. Queria, para começar nesta coisa das leituras, uma leitura leve e agradável, que não puxasse muito por ele. Maldito Karma (de David Safier) foi uma das minhas sugestões, por já o ter lido e ainda ter o livro na estante, que o levou a desejar embarcar em novas aventuras literárias. Seguiram-se livros como Uma Praça em Antuérpia (de Luize Valente), A Sombra do Vento (de Carlos Ruiz Zafón) ou O Cônsul Desobediente (de Sónia Louro) e, cedo identificamos o género literário do meu M.: os livros onde a História seja escrita sem ornamentos ou romances, onde a Sociedade seja analisada e compreendida. O M., contrariamente a mim que prefiro o romance histórico, devora aqueles livros pesados de História, Política ou Sociedade e, tal como eu, detesta livros de terror. Vai lendo, volta e meia, outros géneros mas regressa sempre às suas paixões.
O M. lê sempre que pode. Desliga a TV quando nada lhe agrada e lê. Porque trabalho aos fins-de-semana, lê enquanto estou a trabalhar, no café da terra. O livro não o acompanha sempre mas tira umas horas da semana para ler. Não lê todos os dias mas vai lendo. O M. descobriu o seu género literário. Não fui eu quem o incentivou a ler, foi ele quem quis compreender, com esforço, a minha paixão e acabou por ficar rendido.
O M. lê e qualquer um pode abrir um livro... basta querer. O M. lê e qualquer pessoa que não possua o hábito da leitura pode descobrir o género literário que mais lhe agrade.... basta querer. O M. lê e qualquer pessoa pode dedicar alguns minutos do seu dia à magia da leitura... basta querer. O M. guarda os livros que comprou e já leu, porque muitos outros sairam da minha estante, numa caixa de sapatos e qualquer um pode transformar uma, ou várias, caixa de sapatos numa espécie de estante privada.
Passaram dois anos mas eu sinto a tua falta. Sinto falta do teu toque, dos teus lábios, do teu cheiro. Sinto falta das nossas brincadeiras, das nossas conversas, do que fomos. Sinto falta de ti e sei que apenas eu sinto essa ausência.
Passaram dois anos e eu ainda te sinto. Talvez seja a carência, a ausência de afectos e a solidão a falarem por mim mostrando-me que, quiçá, tenha tomado a decisão errada. Não sei o que é. Às vezes julgo que aquele ano contigo foram produto da minha imaginação e, nessa altura, revivo os nossos momento presos nas lembranças... e esquecidos numa caixa. Sonho contigo. Digo o teu nome... nem imaginas o quanto necessitava de um abraço teu, um beijo na testa e aquelas palavras que me animavam.
Lamento pelo que perdi, lamento pelo vazio em que se tornaram os meus dias. E, enquanto escrevo isto, fogem-me as lágrimas.
Sinto a tua falta... ou será que sinto a falta de alguém?
Dois anos depois ainda te escrevo...