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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Memórias de um Colégio.

Era um colégio grande. A entrada principal do colégio, rodeado de enorme grades, dava para o campo de basquetebol e, subindo umas pequenas escadas de pedra, um terreno de terra, bancos de pedra e enormes árvores misturavam-se com o palco ao ar livre. Recordo-me de passar horas do meu intervalo naquele recinto aberto e, numa dessas horas, oferecer um estalo a um colega que embirrará comigo. 

 

Era um colégio bonito. A entrada para as salas de aula era formado em fila. Por vezes, quando me atrasava, via como naquele campo de basquetebol, se formavam filas de miúdos, de todas as idades, à espera de entrar na sala de aulas. Vestíamos fardas mediante a idade e o ano que frequentávamos. Um colégio para todas as idades e anos. Recordo-me de, enquanto esperava na fila, sentir um excesso de liberdade de movimentos e, quando alguém me perguntou pela minha lancheira, abandonar a fila sem qualquer autorização e correr, batendo com os joelhos nas grades, gritar pela minha mãe que, não muito longe, me veio devolver a lancheira.

 

Era feliz, naquele colégio enorme, onde os intervalos eram passados entre sonhos de princesas e cavaleiros, corridas e danças. Era um colégio onde, desde tenra idade, aprendíamos sobre o país, a História e Jesus... e, numa sala forrada de letras e números, símbolos nacionais e a cruz, aprendi a desenhar o meu nome, a escrever as primeiras palavras e a calcular as contas básicas da matemática. 

 

Era um colégio grande, bonito e onde fui feliz. Recordo-o como se amanhã pudesse voltar a entrar nele. Memórias belas que jamais esquecerei. Recordo-o como se tal me levasse a vislumbrar o futuro que nele não vivi... 

 

A vida faz-se de memórias e em saudades e nostalgia mergulhei quando, numa visita à casa da minha avó materna, a minha irmã mais nova descobriu este livro... o livro do meu primeiro ano básico de escolaridade,

 

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E, quando a vida se vestiu de mudanças, este livro atravessou o oceano. É curioso como algo tão simples representa tanto... 

 

*(o livro encontra-se dividido por quatro temas - língua e literatura castelhana, matemática, estudos sociais, estudos da natureza e higiene pessoal - separados por cores distintas... tudo num simples livro.)

O que fazer com às lembranças de ti?

Dois anos, quase três, deveriam marcar a diferença: esquecer-te. Mas, quando os meus olhos encontraram aquele saco com a caixa das lembranças do que fomos, não consegui evitar abrir e retirar cada uma das pequenas coisas do que um dia fomos. Uma caneca, uma camisola, os restos de um ramo de flores, as tuas cartas e palavras de amor, a nossa primeira fotografia, o teu peluche de infância. Pequenos momentos que sinto ao tocar em cada peça, em cada objecto, em cada lembrança. O meu coração é um tolo que desenterra pequenas lembranças do nosso passado. Naquela caixa, guardada no frio e escuro de uma garagem, tentei enterrar-nos, a ti e a mim, aos nossos maus e bons momentos. 

 

O que fazer com aos presentes de uma relação?

 

Durante anos debati-me sobre o que acontecia aos presentes dos casais. Não existe uma regra: ou se guarda ou desaparecem. Perguntava-me sobre o que aconteceria aqueles peluches, cartas e pequenas coisas que via os casais enamorados de amigos trocarem. Nunca perguntei a ninguém, amigo ou amiga, o que acontecia com aquelas pequenas lembranças dos ex-namorados mas, questionava-me. Colocava-me no lugar delas e acreditava que eu, provavelmente, os destruiria. Acreditava que, desta forma, seria mais fácil esquecer alguém. Até passar pelo mesmo...

 

Quando, à dois anos terminamos, quis destruir tudo: queimar, deitar fora ou simplesmente devolver. Achava que seria mais fácil assim. E, foi nesta altura que perguntei, pela primeira vez a alguém o que fazer com as coisas de quem um dia amamos. Disse-me essa amiga que, fosse qual fosse a minha escolha, nada apagaria as lembranças nem tão pouco o traria de volta. Ela reuniu as lembranças de ambos e guardou-as e, a mim, aconselhou-me o mesmo. Assim o fiz. Quis devolver o seu peluche que, ora me trazia boas lembranças, ora me devolvia discussões mas, faltou-nos a coragem para um último adeus. 

 

Tu não sabes, ninguém sabe, mas tenho apenas uma fotografia tua, nossa. A primeira que tiramos juntos naquela aldeia perdida na serra. Um dia de raiva e revolta apaguei, uma a uma, tu e nós. Não te queria ver mais...

 

Porém, uns dias antes de dizer adeus à eterna cidade que o coração adoptou e que é tua desde sempre, vi-te. Não sabes, mas mexeu imenso comigo... ver-te passar de carro (e, creio que, também me viste). Quase um ano depois, voltava a ver-te. Nessa noite adormeci agarrada aquele maldito boneco amarelo, entre lágrimas e uma caixa carregada de recordações na cabeceira. No dia seguinte ganhei coragem e enfiei o teu boneco num envelope com a tua morada... ainda hoje, a caminho dos três anos desde o fim, guardo aquele pedaço de ti fechado na solidão de uma garagem.

 

Lembrei-me de ti. Ando à uns dias a pensar em ti, a falar de ti. Não são saudades de ti ou de nós. De ti, queria apenas a amizade que me negaste, como se o que vivemos não tivesse valido nada. Para ti, talvez tenha sido mais uma mas, para mim, foi o mais próximo que tive de sentir que alguém gostava de mim de alguma maneira. Sei lá. O que sinto é um misto de saudades, de carência, de vontade de reviver os bons momentos que junto a ti vivi... mas com alguém que não tu.

 

O que vou fazer com as prendas do L.? perguntou-me a minha irmã, entre lágrimas, quando a relação deles terminou.

 

Tem dezassete anos e um mundo pela frente. Outros amores, lágrimas e sorrisos. Respondi-lhe Guardas-as numa caixa e ela, entre lágrimas, assim o fez, Porque independentemente de tudo o que sintas, nada apagará essas lembranças...

 

Porque, passem os anos que passarem, jamais esqueceremos os amores que nos marcam. 

 

E, perguntas-me, se soubesses que ainda penso em ti, porque te escrevo isto... e, a verdade, é que não sei. Queria apenas reflectir sobre os presentes que guardamos de uma relação e, inevitavelmente, o pensamento traiu-me. Falo de ti porque nunca me deixaste explicar o que sentia. Falo de ti porque acredito que já nem te recordas de mim... do meu nome e dos meus olhos, do meu corpo e da marca que caracteriza o meu rosto. Acredito que não sabes mais quem eu sou. Falo de ti porque acredito que não guardes, como eu, aquilo que um dia te ofereci... às vezes, imagino-te a destruir aquela enorme moldura com as nossas fotografias (e que tu, provavelmente, não imaginarás o trabalho que me deu!) ou aquele quadro que te pintei... ou, pior, atiradas para um caixote de lixo malcheiroso. Prefiro assim, imaginar tudo isto... e, confesso, às vezes peço às estrelas para eliminar da alma e do coração tudo o que é teu.

 

Hoje mexi naquela maldita caixa... e percebi que ainda não te esqueci. Será que se a atirar para um caixote de lixo, como acredito que tenhas feito comigo, me esqueço de ti?

 

O meu coração é um idiota... e, sei lá, eu também... por te escrever estas palavras.

Sou a única a não achar grande piada..

...à nova moda feminina de calçado?

Não me considero mulher de seguir modas, embora às vezes não lhes escape, mas esta é provavelmente aquele mais recordações me trás dos tempos de infância no meu país natal... e, neste caso, recordações negativas. 

 

Quando era miúda, por ter nascido num país de clima quente e com pouca variedade em calçado infantil, o meu calçado resumia-se a chinelo e a estas sandálias. Cedo aprendi que estas sandálias não se adaptavam aos meus pés. Em vez de sentir os pés arejados e confortáveis, senti-os como que a queimar, transpirava imenso com eles, provocava-me bolhas e feridas nos pés. A minha mãe cansou-se de comprar destas sandálias, de diferentes marcas e fabricos, mas nenhum se adaptava aos meus pés.

Além disso, estas sandálias, independentemente do formato, fazem-me lembrar os sapatos ortopédicos que usei em criança e que eram igualmente horríveis. 

Enfim, é tudo uma questão de moda.

Uma carta para mim mesma à 10 atrás.

Olá Maria!

 

Sim, eu, aliás, nós mesmas. Como correm os dias? Tu ainda não sabes, mas vamos viver coisas tão boas no secundário. Acredita!

Sabes a D.? Aquela mesmo que fez uma grande fita à porta da sala de aula com o E.? Essa mesma! Vamos andar às bocas, quase à chapada mas, no final, ela vai ser fundamental quando decidires trocar de disciplina. E, ficas já a saber que, no próximo ano, vais conhecer uma nova professora de português. Vais odiá-la, não tentes negar, vamos odiá-la e achar que ela é a pior professora de português do mundo... e, no entanto, nos momentos mais difíceis, será nas palavras que ela ainda ter irá dizer, que vamos procurar refúgio e conforto. 

Escrevo-te do presente para o meu passado e, assim, reflectir sobre os erros que cometemos. Escrevo-te, hoje, com 25 (quase 26) portanto, serás a Maria dos 15 (quase 16) aquela quem lê esta carta que, mais não é uma forma de reflectir sobre os erros, medos e sonhos de nós mesmas. Parece estúpido, parvo, idiota, escrever a um passado que não podemos mudar, mas que nos ajudará a reflectir sobre um futuro (ou, pelo menos, assim o espero).

Maria, vou começar por falar de coisas simples que podem mudar um bocadinho daquilo que sentes. 

Sabemos que tens medo às lentes de contacto mas, acredita, elas vão fazer por ti aquilo que os óculos nunca poderão fazer: elevar-te um pouco mais a auto-estima... assim como se cortares o cabelo (nem precisas de o pintar!). Sabes, Maria, sei que no passado, outras palavras te machucaram todavia, aquelas que aos 15 te dizem são sinceras... sei que tens medo mas, com o tempo, vais entender que as palavras destas amigas são verdadeiras e autênticas, de quem só te quer ajudar a gostares um pouco mais de ti. 

Ainda assim, quando chegares aos 25, não vais ser uma top model, nem tão pouco a típica miúda cobiçada. Terás dias em que olharás o espelho e te sentirás bonita e outros em que desejarás ter forças suficientes para não teres ataques de fúria contra ti mesma (não, o teu problema com cortes e sangue há-de manter-se para todo o sempre). Mas vais aprender a gostar um pouco mais de ti e a aceitar-te do jeito que és. É um processo lento, do qual não sabermos se algum dia conseguiremos concluir mas, espero, o importante é dar esses pequenos e importantes passos.

Quando chegares aos 12.º ano vais ter de decidir como queres que seja o teu futuro profissional. Sei que não te sentes preparada, que já quisestes ser mil e uma coisas, que tens medo de errar mas, deixa-me que te diga, não deixes que esse medo te influencie na escolha, porque ambas sabemos qual é o nosso sonho e qual é o futuro profissional que gostaríamos. Não deixes que te digam que é um curso sem saída, sem futuro, sem nada. Não te leves pelos medos mas sim pelo teu sonho para que, no futuro, não me obrigues a chorar, no nosso ano de finalista, porque o nosso sonho vai uns metros mais à frente e não fomos capazes de lutar por ele. Mas, se ainda assim, te deixares levar por opiniões alheias, aproveita a escolha, porque compreendermos que não foi assim tão errada... aos 25, só lamentarás não ter aproveitar convenientemente. 

Querida Maria, deixa-me que te diga que não vale a pena criares demasiadas expectativas sobre os demais ou sonhares em exagero. Só vai gerar sentimentos de frustação e desgosto. Portanto, toca a aprender a controlar...

Sei que estas ansiosa por saber como será com o R., se haverá algo de bom entre nós. Por deixarmos que os medos sejam maiores que nós mesmas, o R. será uma eterna paixão de secundário. Uma bonita recordação dos tempos descomplicados que insistíamos em complicar. Mas, posso-te adiantar que ele, hoje em dia, é feio e um dia riremos por nos termos apaixonado por ele. 

Quanto a paixões, deixa-me que te diga que, embora sempre procuramos lutar pela lógica e raciocínio, um dia deixaremos que seja o coração a levar a melhor. E, quando esse dia chegar, vais deixar-te apanhar nas teias de um amor... ou isso ou pela idiotice dos preconceitos sociais, de acharem que uma rapariga que, aos 22 não namora é um extraterrestre, uma "anormal"... ou, pelo menos, assim pensaremos e, com receio de sermos estranhas, deixamo-nos levar. Ele não vai aparecer do dia para a noite. Vão-se cruzar inúmeras vezes na mesma rua. No início nem vais reparar nele... até entenderes que, naquele grupo, alguém te olha e sorri sempre que passas... e, vais achar tão estranho que, sempre que se cruzarem, vais olhar para o chão. Até que tudo aconteça ainda vão passar uns meses... por isso, porque não eliminas o teu perfil no facebook? Talvez assim evites cometer um erro que tantas lágrimas te irá roubar... porque, por ele, vais deixar de acreditar no amor e em príncipes.

Mas, se ainda assim, insistires em mergulhar nesta relação, entende de uma vez por todas que não podes agradar a todos. És uma só, somos uma só, com vontade própria. Mostra-lhe que pensas por ti e não pelos outros. Que não és mesmos fraca que as outras só porque és mais gordinha que elas. Faz-lhe entender que não te pode mudar. Sobretudo, que não te podes dividir e agradar a todos, como tanto queremos fazer e ser. 

E, mesmo quase três anos, estas lembranças te roubam uma lágrima...

Sabes que, 10 anos depois, ainda vamos continuar a gostar de música espanhola? Provavelmente, vamos envelhecer a adorar música espanhola... Ah! Tu ainda não o conheces, ainda vai demorar até o ouvires pela primeira vez (e muito antes de ele se tornar famoso por terras portuguesas), mas o nosso-quase-príncipe-encantado chamar-se-á Pablo Alborán (creio que se o juntássemos ao Enrique Iglesias, seria uma mistura explosiva). Vais ouvi-lo tantas vezes sem nunca te cansares... 

Posso-te dar um conselho? Aprende inglês. É, Maria, mesmo não gostando da língua (vamos ser consideradas um aliene por não termos interesse em conhecer Londres ou Nova Iorque) ela vai-nos ser mais útil do que aquilo que imaginamos. Portanto, vamos lá fazer um esforço para retomar o estudo do inglês. 

Quando chegares aos 25, vamos aprender a amar uma cidade. Não, não é dos 15, aquela que amamos desde o primeiro dia em que a vimos, uma outra em que viveremos momentos que nos ensinaram a crescer. Nela aprenderemos a amar, sorrir, chorar, sonhar... uma cidade que vai saber a saudade e nostálgica.

Sei que, aos 15 como aos 25, não vivemos dias fáceis mas, podes agora não acreditar, vão passar. Demora, o tempo às vezes parece estar contra nós, mas esse dia há-de chegar... terá de chegar, para nosso próprio bem. Aos 25 como aos 15, ainda não encontramos o nosso príncipe nem tão pouco elevamos a nossa auto-estima mas, aos poucos e poucos, vamos construindo um caminho. Vais voltar para casa dos pais e para a "santa terra". Vais sentir que fracassamos em algum momento da nossa vida. Vais sentir-te sozinha, perdida e sem rumo, procurando conforto em testamentos de desabafos num mundo virtual bem como no mundo dos livros. Mas, acredita, daqui a 10 anos será diferente... pelo menos, assim o espero, porque ainda não perdi a esperança.

 

Com amor, 

Maria, aos 25 anos

 

p.s.. Desculpa o testamento... sempre tivemos esta necessidade de escrever sobre tudo e sobre nada, mesmo que não tenhamos talento algum... mesmo que muita coisa ainda tenha ficado por escrever e desabafar.

A ideia de escrever uma carta a mim mesma no passado partiu de um blog que descobri, por mero acaso, no facebook. As suas publicações são uma verdadeira inspiração e um sorriso no rosto. Hypeness: inovação e criatividade para todos.

Quem sabe, um destes dias, escreva a mim mesma no futuro...