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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Situação profissional: perdida.

Quando, no início deste ano, resolvi abraçar um novo projecto profissional sabia que as minhas rotinas seriam alteradas, embora não tivesse pensado muito nas mesmas.

 

O motivo principal que me levou a mudar de algo que parecia estável, nos quadros de uma grande empresa de hipermercados, foi a manifestada vontade em mudar de secção (quando tal nunca é bem encarado pelos superiores) e, por conseguinte e muito mais, a pressão psicológica que senti deste últimos. Não vou entrar em detalhes sobre o tema porque tal entra num campo muito pessoal e, neste momento, não me sinto capaz de falar mas, sentia que se algo não mudasse, eu acabaria por ter um esgotamento. Por outro lado, como licenciada e mestre, tinha ambições e objectivos que enquanto operadora de loja não conseguia combater: o sonho de trabalhar na minha área. Quando, nas inúmeras entrevistas a que fui, me colocavam a questão sobre a situação profissional era incontornável, embora eu tenha tentado evitar, confirmar que já fazia parte da empresa e imediatamente sentia as portas fecharem-se com justificações improváveis. Foram horas passadas à frente do computador, entre envios de emails, consulta de ofertas e entregas em mão do CV actualizado, sem qualquer sucesso. Sentia-me frustrada e triste porque, embora numa situação ambicionada por muitos, o meu trabalho não era reconhecido e desvalorizado (na verdade, só o foi depois de me despedir)... queria e sonhava com mais. A caminho dos trinta anos, sentia que não era de todo aquilo que eu queria fazer e, por isso, nas minhas férias, dediquei-me em exclusivo à tarefa de procurar um novo trabalho... e consegui.

 

A empresa para a qual trabalho, desde o início deste ano, não é na área comercial mas é quase como se fosse. Desloco-me para qualquer zona, em trabalhos diversos, numa viatura da empresa e telemóvel deles. Não trabalho os fins-de-semana ou feriados, como anteriormente, mas o meu horário nunca é fixo e independentemente da distância a que esteja, mais ou menos próxima de casa, não o termino mais cedo. O salário é, embora pouco significativo, menor do que quando trabalhava como operadora de loja. Os superiores contactam via email ou telemóvel, presencialmente, só quando algo de grave acontece. Não existe qualquer relação com colegas de trabalhos - pelo menos, no meu caso. Parece, aos olhos de muitos, um bom emprego mas não o é para mim. É rotineiro porque, apesar de nunca ser no mesmo local, não se alterar. Não existem possibilidades de crescimento. É fisicamente desgastante pelas horas que passo no automóvel e sinto, novamente, a sensação de frustração e tristeza porque não me sinto activa, plena nem desenvolvida intelectualmente. Sinto que me atirei de cabeça, sem ponderar nos benefícios e desvantagens de mudar, pela necessidade e pressão que sentia e que acabariam com a mudança de superiores passados três meses de me mudar profissionalmente... foi, para muitos, a melhor coisa que fiz mas eu não tenho tanta certeza disso.

 

Profissionalmente sinto-me completamente perdida e confusa. Procuro, tal como já o fiz no passado, diariamente novas oportunidades de emprego que não aparecem. É, na minha zona, sempre mais do mesmo: comerciais, fábricas e operadores de loja. Parece que nunca muda, embora os dias e semanas passem, os anúncios repetem-se. As poucas ofertas profissionais que encontro e às quais sinto que teria capacidades para responder e crescer, como administrativo ou recursos humanos, nunca pareço satisfazer as necessidades dos recrutadores. É esgotante. Não sinto que ser comercial seja para mim e tenho receio de trabalhar em fábricas, por tudo o que de negativo já ouvi. E são estes sentimentos meios confusos a nível profissional que me fazem pensar que se alguém me tivesse dito, no passado como seria o meu presente, talvez eu não tivesse arriscado tanto... O meu sonho e objectivo sempre foram o de trabalhar na minha área. Sempre quis mais... estudar, crescer, subir. Hoje compreendo que será realmente difícil e isso deixa-me revoltada, triste e frustrada. Embora eu não me imagine toda a vida a repor produtos alimentares, percebo que foi uma área da qual gostei e que me fez crescer pessoal e profissionalmente, mais do que a actual. E, com tudo isto, tenho receio de mudar novamente...

 

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A minha actual situação profissional é completamente perdida e confusa... preciso, urgentemente, de um mapa para me guiar. 

Medo, ansiedade e fracasso.

Eu sabia que, ao abandonar o conforto de um trabalho que conhecia bem e no qual já me encontrava nos quadros da empresa, estaria a arriscar mais do que um simples trabalho. Quando, no início deste ano, decidi abraçar um novo desafio, cansada e desiludida do anterior, na esperança de que este novo me desafiasse a lutar por mais ou, quem sabe, a abrir novas possibilidades de crescimento na minha área de formação, sabia que tudo podia correr bem ou tudo podia correr mal. O correr mal significaria o crescer de ansiedade, o medo de fracassar e o cair no zero, no desemprego ou, o correr bem e com tudo o que ele me poderia trazer. Porém, a verdade é que contrariamente àquilo que julgava, as coisas não correram tão bem como eu acreditava e a falha que cometi pode levar-me ao que mais temia mais cedo do que imaginava: o desemprego. 

 

Eu sabia que, ao mudar-me, poderia hipotecar por algum tempo outros planos... o desemprego e aqueles planos que eu tanto queria para um futuro breve. O crescer de ansiedade e o medo de constantemente falhar, o adiar de planos e o não saber o que me irá acontecer agora que cheguei aos trinta anos. Sofro por antecipação e é aquela velha história do acreditar que, o tempo passa e a vida me escapa por entre os dedos. 

 

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Das palavras mais tristes que já escrevi...

 Sinto que, aos vinte e sete anos, perdi a capacidade de sonhar. Fecho os olhos. Contemplo o mar. Inspiro o perfume dos campos. Porém, os sonhos que outrora sonhará nestes recantos de mim, que me acompanhavam em viagens e me visitavam sem pedir qualquer licença, à muito que me deixaram. Fui sonhadora... não sei mais o que sou hoje. Limito-me a viver o presente; sem a promessas de mil e um sonhos. Preciso que algo de bom aconteça na minha vida e me devolva a capacidade de sonhar. Uma vida sem sonhos é triste. Quero sonhar novamente. 

 

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Hoje não sonhei...

Da história dela e dos meus medos.

Eu não sabia os motivos, até à uns dias, quando por entre lágrimas e soluções, ela revelou que ele a traiu porque a atracção física já não existia. Uma relação de três anos que chega ao fim e em que, segundo ele, embora a ame, não sente atracção por um corpo demasiado cheio.

Ela chorava pelas duras palavras dele enquanto, nós, as amigas, a lhe dizíamos que era o melhor e que não podia deixar que aquelas palavras a afectassem. Como se fosse possível esquecer tais humilhantes palavras. Dizia que não conseguia viver sem ele e nós tentávamos convencer que um homem que a julga pelo aspecto físico não a merece. Se, em vez de usar as palavras e a traição, a tivesse ajudado a perder peso... mas não, ele optou pelo caminho mais fácil. Quantos não optam pelo caminho mais fácil? 

 Ela chorava como se o mundo fosse terminar naquele momento... e, no lugar dela, quem não o faria ou não sentiria o mesmo? Palavras duras que ficam gravadas na memória e medos que nascem deste final. Entre soluções, dizia que deveria ter tido mais cuidado, que a culpa era dela, que se desleixou... e nós, à procura das palavras correctas, dizimo-lhe que ela já era assim quando se conheceram. 

 Esta é a história de uma amiga cujo o factor 'excesso de peso' foi determinante (ou um mero argumento para fugir à culpa) para o fim de uma relação. Enquanto ela chorava foi-me impossível ignorar os meus medos. Também eu tenho medo de um dia viver o mesmo ou que o meu corpo não seja suficientemente atraente para que a vida me permita conhecer alguém... *

 

* (e, sobre este medo e a rejeição, uma experiência social)