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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

27 | Na minha estante... O Rapaz Que Venceu Salazar.

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 O Rapaz Que Venceu Salazar é uma viagem, à década de 1960, na pacatez de uma vila alentejana e à descoberta de um grupo improvável de amigos na era da ditadura e dos medos. 

 

É importante, antes de falar sobre o livro de Jacinto F. Matias, explicar o que me levou a adquirir e ler este livro. Acompanho, no facebook, grupos onde todos os meses são publicadas as novidades literárias e foi por lá que se deu o primeiro contacto... foi o título que me despertou a curiosidade e a sinopse deixou-me conquistada. Por outro lado, embora eu adore romances históricos, confesso que o período da ditadura salazarista é daquelas temáticas que pouco leio... ou porque não me sinto cativada pelas sinopses ou por receio de leituras extremamente detalhadas historicamente. A verdade é que sentia necessidade em ler algo relacionado com um período histórico português que não se focasse na vida das Rainhas - como os romances bibliográficos de Isabel Stiwell... e eu leio poucos romances históricos sobre Portugal. O livro de Matias facilmente me seduziu e não me contive em rapidamente adquiri-lo. Uma das melhores compras do ano de dois mil e quinze. 

 

(...) quanto mais intensamente se vive, mais tendemos a não cuidar das memórias, a não avaliar e aprender com o caminho que percorremos. Temos sempre pressa de partir, absorvidos pelo desafio do próximo destino, até que partimos de nós próprios para destino nenhum. 

 

O Rapaz Que Venceu Salazar centra-se na aventura de um grupo invulgar de amigos que, em Vila de Duque, secretamente se reunem para jogar à sueca, comer, beber e ouvir as ilegais rádios Moscovo e BBC. Os quatro amigos discutem sobre as gentes da vila, mulheres, gastronomia, as mudanças internacionais, sobre a política de Salazar e, sem o saberem, um espião acompanha-lhes as discussões e posições. Os amigos Zé Maria, Carapau, Tonico e Martinho Lutero desejam liberdade e, por isso, quando afixam um cartaz do MUD na vila, incentivando à participação nas eleições - a farsa da ditadura - os quatro pagam pela ousadia de lutar contra a ditadura. Numa época em que reina o receio dos agentes da PIDE, um país abalado pela guerra colonial e a liberdade de expressão é sufocada, uma criança luta contra isto, desencadeado uma reacção ao medo e à obediência. Uma criança que luta pela felicidade e liberdade dos castigos impostos aos quatro amigos.

 

O romance de Jacinto F. Matias é sublime, invocando a força da amizade, a dignidade e o sabor da inocência. Numa escrita subtil, profundamente bem planeado e estruturado, recheado de humor e ternura, O Rapaz Que Venceu Salazar convida-nos a conhecer um período marcante e real de Portugal... mais do que isso, é um convite à reflexão sobre as mudanças sociais e políticas de um país. Uma pequena vila onde pequenas coisas se tornam enormes acontecimentos. Pontuado por pequenos detalhes sobre os acontecimentos nacionais. Personagens, peculiares nos nomes mas tão reais, homenageiam aqueles que se arriscaram em nome da liberdade. Um romance que é, de alguma forma e para mim, uma espécie de crítica à sociedade actual... onde nada arriscamos.

 

Quando um frágil se levanta contra um medo que é de todos, é inspirador, envergonha e desperta. E pior se por causa disso o castigarem, pois cresce a indignação e um dia explode a revolta - é por aí que vão as revoluções - Digo-te mais: quando olho para trás, convenço-me de que tudo isto, a Liberdade, começou na nessa noite em que o cineteatro inteiro se levantou para aplaudir os nossos amigos. 

 

O Rapaz Que Venceu Salazar de Jacinto F. Matias foi um dos melhores livros que li em dois mil e quinze. Um romance essencial para amantes da leitura e apaixonados por História. 

 

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Jacinto F. Matias (via wook)

J. F. Matias é um moçambicano das serranias, beirão dos trópicos, tinha 20 anos no 25 de Abril. Gostava de poesia, mas estudou economia. Paciência! Cidadão do mundo, que percorreu vendendo coisas várias, encontrou um dia, num hotel de Frankfurt, um afegão enfezado que vendia tapetes e reviu-se nele. Foi aí que, já tendo feito filhos e plantado árvores, decidiu que um dia escreveria um livro, ainda que ninguém o lesse, e aconselhou o afegão a fazer o mesmo. 
Orgulhoso o suficiente para escrever, humilde quanto baste para perceber que ao leitor o que mais interessa é o livro, pouco lhe importando quem o escreveu.

É da sua autoria A Guerra do Salavisa (2014).

+50...

...livros.

 

Sempre considerei que seria impossível alguém ler mais de cinquenta livros por ano... até, eu mesma, passar pela experiência. Questionava-me sobre a fiabilidade de algumas listas de livros com valores tão elevados, como cinquenta, oitenta ou cem, que encontrava em blogues, canais de youtube, goodreads mas, a verdade, é que não é difícil... o prazer da leitura não se mede pelo número de livros.

 

Não ligo a metas literárias porém, no goodreads, estabeleci a minha própria meta: vinte livros. Ultrapassada a meta dos vinte à vários meses, conto com cinquenta e três livros lidos - embora, os dois últimos ainda não os tenha concluídos -, fora aqueles que comecei a ler e não terminei e, jamais, em algum momento, pensei que tal seria possível. Li-a ao meu tempo, sem pressas, intercalando géneros literários e procurando realizar tempos de reflexão a cada fim de livro. 

 

Li sem me preocupar com metas. Li pelo prazer de ler. Li para viajar a mil e um lugares distintos. Li só porque sim. 

 

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Os livros que li em dois mil e quinze podem ser consultados neste albúm do facebook ou no goodreads, bem como as opiniões que escrevi sobre alguns livros aqui

26 | Na minha estante... A Contadora de Histórias.

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  A Contadora de Histórias, da aclamada escritora Jodi Picoult, romance profundo e inesquecível, é uma viagem de encontro a um passado trágico e marcante de uma família judia nos campos de concentração da II Guerra Mundial. 

 

Sager Singer é jovem, inteligente, curiosa e, porém, extremamente marcada pelos traumas do passado e incertezas do futuro. A morte dita-lhe a profissão: padeira. Sager trabalha de noite, preparando o pão e os bolos para o dia seguinte numa pequena padaria, gerida por uma ex-freira católica e a sua única amiga, e de dia refugia-se no sono para fugir à solidão e à dor pela perda da mãe. A perda trágica da mãe, pela qual Sager se responsabiliza, torna-a membro de um grupo de apoio onde trava uma amizade improvável com o velho Josef Weber. 

 

Josef Weber, no alto dos seus noventa e muitos anos, não consegue ultrapassar a dor pela perda da esposa e, no entanto, não é a única morte que o marca. Elemento querido e reconhecido pelas suas actividades de apoio à da comunidade e aos jovens de Westerbrook, Josef esconde um terrível segredo... e um favor extraordinário a pedir a Sager.

 

Suponho que quando uma liberdade nos é retirada, reconhecemo-la como um privilégio e não como um direito.

 

Os protagonistas, deste livro, e de uma estranha e invulgar amizade, transformam-se no dia em que Josef revela o seu passado a Sager. A busca pela verdade e justiça, caminhará de mãos dadas com a traição, o amor e o perdão, um segredo que mudará a vida de Sager. No fundo, são histórias de vida dentro de outras histórias de vida que, rapidamente e surpreendentemente, se cruzam com a de uma judia sobrevivente do Holocausto e de um ex-alto dirigente de um campo de concentração nazi. 

 

A Contadora de Histórias é um romance magnifico, grandioso, realista, distinto. A história de Sager e Josef tocou-me pela escrita inconfundível e maravilhosa de Jodi Picoult mas, sobretudo, pelo outro lado... poucos foram os livros que li sobre os campos de concentração nazi que revelassem os sentimentos de quem os dirigia e vigiava.

 

Se os meteres todos no mesmo saco por serem alemães, como podes ser diferente quando eles nos metem a todos no mesmo saco por sermos judeus?

 

Surpreendente e soberbo, este romance publicado pela Bertrand Editora, revela o lado alemão e a forma como os seus jovens se deixaram contagiar pelas ideias nazis, os sentimentos possíveis de quem se uniu aos campos de concentração para assassinar idosos, homens, mulheres e crianças, acima de tudo, pela religião que seguem, mas igualmente pela etnia, sexualidade ou posição política. Não é, de todo, uma justificação ou desculpa para actos imperdoáveis é, no entanto, um alerta para a facilidade com que nos deixamos facilmente influenciar por preconceitos e discursos inflamados de ódio. 

 

Incrivelmente, não foi a coisa mais deprimente que alguma vez tínhamos visto: uma noiva, arrancada ao seu próprio casamento, separada do noivo e metida num transporte para Auschwitz.

Pelo contrário, deu-nos esperança.

Queria dizer que, independentemente do que acontecesse neste campo, por muitos judeus que eles continuassem arrebanhar e matar, continuava a haver mais judeus: a viverem vidas, a apaixonarem-se, a casarem, a partir do princípio de que o amanha chegaria. 

 

Invulgar e espantoso, A Contadora de Histórias é uma leitura de cortar a respiração, cativando-nos desde a primeira página à última. Adorei cada uma das personagens, cada particularidade, cada sentimento, cada história...

 

Dentro de cada um de nós existe um monstro; dentro de cada um de nós existe um santo. A verdadeira questão é qual deles alimentamos melhor, qual deles destruirá o outro.

 

Ler A Contadora de Histórias depois de Viver Depois de Ti, um livro extremamente marcante e que me deixou sob efeitos de uma ressaca literária, elevou a minha fasquia... mas não desiludiu, pelo contrário, surpreendeu, elevando as leituras seguintes a patamares difíceis de igualar. Na verdade, 2015 têm-se revelado um ano de leituras marcantes...

 

Jodi Picoult

Picoult1-dl_jpg_610x343_crop_upscale_q85.jpgNasceu em Nova Iorque, EUA, em 1966. Estudou Inglês e escrita criativa na Universidade de Princeton e publicou dois contos na revista Seventeen enquanto ainda era estudante. O seu espírito realista e a necessidade de pagar a renda levaram Jodi Picoult a ter uma série de empregos diferentes depois de se formar: trabalhou numa correctora, foi copywriter numa agência de publicidade, trabalhou numa editora e foi professora de inglês. Premiada com o New England Book Award, em 2003, pela totalidade da sua obra.

Dos cerca de vinte livros publicados por Picoult, apenas quinze se encontram traduzidos à língua portuguesa.

25 | Na minha estante... Viver Depois de Ti.

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 Viver Depois de Ti é uma história delicada, uma reflexão sobre a vida, um livro tocante.

 

Lou Clark sabe imensas coisas. É uma jovem invulgar, prática, divertida. Adora o seu emprego como empregada de mesa e sabe que não está apaixonada pelo namorado de longa data. Não possui grandes sonhos ou planos de vida. Will Traynor sempre foi um jovem activo, dinâmico, inteligente. Uma vida profissional agitada, amante dos desportos radicais e sedutor, Will têm grandes planos para a sua vida, até àquela trágica manhã... quando um acidente o atira para os braços da dependência de terceiros. Ele sabe que não quer viver assim, sem sonhos, liberdade ou dependente de terceiros e sentimentos de pena. O que, no entanto, nem Will nem Lou sabem é que os seus caminhos se cruzaram. O desemprego de Lou e a dependência de Will fará com que o destino dos jovens se encontrem e, em somente seis meses, as certezas de cada e a forma como encaram a vida alterem. 

 

Ouvi falar muito sobre este livro. As críticas positivas, emotivas, marcantes, despertaram a minha curiosidade... E, confesso, poucos livros me abalaram tanto quanto este. Na verdade, poucos livros me marcaram tão profundamente como este. Foi demasiado fácil colocar-me na pele dos protagonistas e compreender os seus sentimentos e escolhas. Chorei e ri alto no aconchego do meu quarto, sorri e evitei as lágrimas em público. Um livro capaz de me fazer reflectir sobre as minhas próprias escolhas... desejar largar tudo e viver tão intensamente como as personagens nos incentivam. 

 

A escrita de Jojo Moyes é mágica, simples, envolvente:  temas sensíveis e delicados são apimentados com um toque de humor, reflexão e informação. Adorei cada uma das personagens: a serenidade do Will e o temperamento jovial, alegre e inteligente de Lou. 

 

Viver Depois de Ti é um livro intenso, uma história que me acompanhará ao longo da minha vida, uma história impossível de esquecer. Poderia continuar a escrever tanto sobre este livro e tinha mesmo que escrever sobre ele... mas, o melhor que posso escrever é recomendar a sua leitura. Ninguém consegue ficar indiferente a este livro. Só quem lê Viver Depois de Ti compreender as mil emoções que este livro despertou em mim. Uma leitura obrigatória.

 

Tu só tens uma vida. É o teu dever vivê-la o máximo possível.

 

_ Um livro em filme...

Viver Depois de Ti encontra-se em fase de adaptação à tela do cinema. A MGM adquiriu os direitos cinematograficos sobre o livro, o guião é trabalhando pela prórpia Jojo Moyes em colaboração com outros roteiristas. Contará com as interpretações de Emília Clarke, d' A Guerra dos Tronos, e de Sam Claflin, d' Os Jogos da Fome, nos papeis principais de Lou e Will. 

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A estreia do filme, nos EUA, está marcada para Junho de 2016, não existindo ainda uma data de estreia para Portugal. 

 

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Jojo Moyes (resumo via wook)

Jojo Moyes nasceu em 1969 e cresceu em Londres. Estudou Jornalismo e foi correspondente do jornal The Independent até 2002, quando publicou o seu primeiro romance, Retrato de Família, e resolveu dedicar-se à escrita a tempo inteiro. Foi uma das poucas autoras a ganhar por duas vezes o prémio Romantic Novel of the Year, primeiro com Foreign Fruit (2003) e com A Última Carta de Amor (2010). Do catálogo da Porto Editora constam já os romances Silver Bay - A Baía do DesejoUm Violino na NoiteRetrato de FamíliaA Última Carta de Amor e Viver Depois de Ti.