A mãe S.,
têm 28 anos - dois anos mais velha do que eu -, trabalha para o meu pai e, certa tarde, quis saber a minha opinião e, do qual procurei reproduzir nosso diálogo,
- O meu P. agora diz que quer usar brincos com a irmã.
- Hum... e?
- E? Achas bem? Ele diz que quer usar brincos como a irmã! - altera a voz e acentua as últimas palavras.
- Continuo a não perceber...
- Primeiro, porque ele é menino e os meninos não usam brinco.
- Ah! Mas... - preparava-me para argumentar quando, a mãe me interrompe.
- E, segundo, porque ele só têm oito anos.
- Oh S., desculpa lá, uma coisa é o rapaz só ter oito anos. Pronto. Aceito que por isso não lhe queiras furar as orelhas mas, agora, dizeres que por ser menino e menino não usa brinco, desculpa, mas é uma idiotice.
- Só os maricas é que usam brincos e o meu filho não é nenhum maricas.
- Oh S. poupa-me. Se o teu filho tiver que ser alguma coisa, há-de ser quer queiras quer não queiras...
Primeiro: a mãe S. é a mesma mãe que diz Deus me livre que os meus filhos sejam gays mas, se realmente o rapaz ou a rapariga o assumirem jamais rejeitarei os meus filhos por isso mas prefiro que não sejam.
Segundo: a mãe S. é a mesma mãe que diz praticar uma educação pela igualdade. Ou seja, segundo ela, rapaz e rapariga realizam tarefas domésticas em casa e educa-os de maneira a que o rapaz respeite uma mulher e vice-versa ou a que ela se defenda de quem a maltrata. Porém, aí do rapaz que se lembre de pintar as unhas ou de usar a mala Hello Kitty da irmã e, à miúda diz-lhe senta-te como uma mulher... seja lá o que isso for. É, igualmente a mesma que diz às crianças, não comas isso porque ficas feia e gorda ou os meninos não choram.
Terceiro: a mãe S. é a mesma que me diz só dizes essas coisas porque não és mãe e que quando tiveres filhos e um homem, quero ver se vai ser igual.
Quarto: a mãe S. é o reflexo de tantas mães que se dizem modernas e progressistas mas que, cuja realidade é distinta e, quando toca nos seus, um Deus me livre escapa-lhes da boca...