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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

A Livraria dos Finais Felizes de Katarina Bivald.

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 A Livraria dos Finais Felizes de Katarina Bivald é, tal como o título já induz, uma história sobre livros.

 

A jovem heroína é Sara, uma sueca recém desempregada de uma livraria, a quem os pais e irmã pouco ligam e sem namorado. É, no entanto, uma apaixonada por livros. Sara vive para ler. O seu mundo é feito de releituras e novas descobertas literárias, os amigos vivem mergulhados nas páginas de um livro, incapaz de estabelecer relações socias. A protagonista sueca revela uma personalidade insegura, desastrada, reservada e introvertida, numa vida sem sabor ou quais perspectivas. 

 

Amy é, porém, a única pessoa com quem Sara conversa. Na verdade, Amy vive numa pequena cidade no estado do Iowa, EUA, e trata-se de uma senhora de 65 anos com quem Sara troca cartas. A amizade nascida nas cartas, graças aos livros, levará Sara a visitar Amy, a cidade e gentes que tanto descreve e menciona, Broken Wheel. Todavia, uma vez em Broken Wheel (e isto não é nenhum spoiler), Sara descobre que Amy morreu... e o mundo de Sara mudará nesta pequena cidade, descobrindo o sentimento de pertença, o valor da amizade e o poder do amor. 

 

- Consegues senti-lo? O cheiro de livros novos. Aventuras por ler. Amigos que não conheceste, horas de escape mágico à tua espera.

 

A Livraria dos Finais Felizes era um livro que desejava mesmo muito ler. O título é chamativo e a sinopse fez-me encontrar em Sara um pouco de mim. O interesse cresceu quando a Magda, do blogue StoneArtBook, referiu que o iria reler mal terminasse a leitura... e a verdade é que o releu mal terminou de o ler. E, confesso, não pensei em aguardar: mal o descobri num hipermercado da minha zona de residência, trouxe-o comigo - e, bem sei que, aguardando, o teria a um preço mais amigável. Não lhe resisti... confesso que - e é mau, muito mau - deixei A Promessa de Lesley Pearse um bocadinho de lado para ler este livro. É um livro onde qualquer apaixonado por livros se pode rever, identificando-se com Sara ou nos peculiares e excêntricos habitantes de Broken Wheel. Um livro sobre livros. 

 

É preciso ser-se um pouco sonhador para gostar de livros...

 

Numa escrita encantadora, Katarina Bivald mostra-nos o poder dos livros e o significado dos mesmos. A fluidez das palavras leva-nos a não desejar largar o livro. Por outro lado, tratando-se de um livro sobre livros, Bivald mostra-nos conhecimentos sobre uma série de livros e de escritores, num bom trabalho de pesquisa, revelando detalhes e histórias sobre os mesmos. Fiquei, admito, extremamente bem surpreendida com este de estreia da sueca Katarina Bivald. Adorei a leitura.

 

A Livraria dos Finais Felizes é, resumidamente, um livro para os apaixonados por livros... ficaram apaixonadamente encantados!

 

Há sempre um livro para cada pessoa e uma pessoa para cada livro.

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Título Original: (é sueco e não o consegui encontrar)

Autora: Katarina Bivald, Suécia

ISBN: 9789896650704

Páginas: 528

Editora: Suma de Letras, 2016

Sinopse:

Se a vida fosse um romance, o da Sara certamente não seria um livro de aventuras. Em vinte e oito anos nunca saiu da Suécia e nenhum encontro do destino desarrumou a sua existência. Tímida e insegura, só se sente à vontade na companhia de um bom livro e os seus melhores amigos são as personagens criadas pela imaginação dos escritores, que a fazem viver sonhos, viagens e paixões. Mas tudo muda no dia em que recebe uma carta de uma pequena cidade perdida no meio do Iowa e com um nome estranho: Broken Wheel. A remetente é uma tal Amy, uma americana de 65 anos que lhe envia um livro. E assim começa entre as duas uma correspondência afetuosa e sincera. Depois de uma intensa troca de cartas e livros, Sara consegue juntar o dinheiro para atravessar o oceano e encontrar a sua querida amiga. No entanto, Amy não está à sua espera, o seu final, infelizmente, veio mais cedo do que o esperado. E enquanto os excêntricos habitantes, de quem Amy tanto lhe tinha falado, tomam conta da assustada turista (a primeira na história de Broken Wheel), Sara decide retribuir a bondade iniciando-os no prazer da leitura. Porque rapidamente percebe que Broken Wheel precisa de um pouco de aventura, uma dose de auto-ajuda e, talvez, um pouco de romance. Em suma, esta é uma cidade que precisa de uma livraria. E Sara, que sempre preferiu os livros às pessoas, naquela aldeia de poucas gente, mas de grande coração, encontrará amizade, amor e emoções para viver. E finalmente será a verdadeira protagonista da sua vida.

O Prisioneiro do Céu de Carlos Ruiz Zafón.

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 O Prisioneiro do Céu de Carlos Ruiz Zafón é uma viagem de reencontro às personagens d' A Sombra do Vento e d' O Jogo do Anjo. A releitura do último volume da trilogia O Cemitério dos Livros Esquecidos permitiu-me relembrar detalhes e compreender aspectos que, numa primeira leitura, pareciam pouco relevantes. A verdade é que, embora eu considere este último livro como o mais fraco da saga, considero-o relevante para compreender o destino trágico de algumas personagens d' O Jogo do Anjo. Porém, ao suscitar novas dúvidas no leitor em virtude da revelação de um segredo, O Prisioneiro do Céu mergulha numa áurea de mistério e suspeita, cabendo ao leitor imaginar o futuro dos protagonistas e a forma como a revelação do marcante segredo influenciará os seus destinos.

 

A história d' O Prisioneiro do Céu é relatada a partir de uma das personagens mais cómicas e queridas d' A Sombra do Vento, Fermín Romero de Torres que nos presenteei com uma história de sobrevivência e amizade. Nos anos longos da Ditadura Franquista, Fermín é tortura e preso numa prisão sobrelotada de Barcelona. É aqui que conhece o David Martín, conhecido pelos prisioneiros como o Prisioneiro do Céu e principal herói d' O Jogo do Anjo que, entre ataques de loucura e acessos de raiva, relata a Fermín a sua história e segredos de vida. É ele quem ajudará Fermín a escapar da prisão e lhe pedirá um favor irrecusável... 

 

Carlos Ruiz Zafón é mestre na arte de cativar o leitor. Numa escrita acessível, fluida e misteriosa, Zafón não permite que o leitor caía em aborrecimentos, incluindo pontos de suspense nos momentos adequados. Os três livros que compõem O Cemitério dos Livros Esquecidos lêem-se por qualquer ordem embora, para mim, faça sentido a leitura por A Sombra do Vento, O Jogo do Anjo e O Prisioneiro do Céu. 

 

O Cemitério dos Livros Esquecidos é uma trilogia indicada para amantes de livros... dos livros malditos e proibidos numa Barcelona apaixonante. 

 

- Nesta vida, perdoa-se tudo, menos dizer a verdade.

 

- Não sei agora onde terei lido que, no fundo, nunca fomos a pessoa que julgamos ter sido, que só nos lembramos do que nunca aconteceu...

  

- O futuro não se deseja, merece-se.

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Título Original: El Prisionero del Cielo, 2011
Autor: Carlos Ruiz Zafón, Espanha
ISBN: 9789896573003
Páginas: 400
Editora: Editorial Planeta, 2012
Sinopse:
Barcelona, 1957. Daniel Sempere e o amigo Fermín, os heróis de A Sombra do Vento, regressam à aventura, para enfrentar o maior desafio das suas vidas. Quando tudo lhes começava a sorrir, uma inquietante personagem visita a livraria de Sempere e ameaça revelar um terrível segredo, enterrado há duas décadas na obscura memória da cidade. Ao conhecer a verdade, Daniel vai concluir que o seu destino o arrasta inexoravelmente a confrontar-se com a maior das sombras: a que está a crescer dentro de si.

O Jogo do Anjo de Carlos Ruiz Zafón.

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 O Jogo do Anjo de Carlos Ruiz Zafón, segundo volume da trilogia O Cemitério dos Livros Esquecidos, é uma trama intensa e delicada, onde reencontramos velhas personagens d' A Sombra do Vento e novas e importantes personagens que apimentam a narrativa e a tornam marcante.

 

David Martín é a personagem principal de um livro recheado de mistérios. Homem apaixonado pelas letras e dono de um talento para a escrita inigualável, o destino de Martín cruza-se com o de um misterioso editor francês que, a troco de fama, saúde e dinheiro, lhe propõe que escreva um livro para si. O jovem aceita a proposta do estranho admirador Andreas Corelli longe de imaginar que tal lhe roubaria os bens mais preciosos da sua vida: o amor de Cristina e a amizade de Isabella. 

 

Zafón, neste segundo volume, recupera algumas - na verdade, não muitas personagens como no terceiro volume - personagens do primeiro livro e dá-nos a conhecer a jovem Isabella, a mãe do protagonista do primeiro volume, Daniel Sempere, bem como o seu avô e traços da personalidade do seu pai. Isabella é comunicativa, energética mas extremamente leal e amiga... uma amizade pura nasce entre a jovem e David. Na verdade, o segundo volume é a história da livraria Sempere e Filhos, local de elo dos três livros.  

 

- Não tenha medo, senhor Sempere, que os livros são a única coisa no mundo que não se rouba.

 

Releitura de 2014, O Jogo do Anjo foi, na época como agora, e apesar de todo o carinho que tenho pelo primeiro volume, A Sombra do Vento, o meu livro favorito da saga. Intenso, dramático e mais misterioso que o primeiro livro, senti verdadeira empatia e familiaridade com os sentimentos de David Martín. A realidade é que A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo são narrativas diferentes, cuja histórias embora se interliguem entre si, igualmente se afastam... é difícil explicar-me porque, na época, fiquei com enormes questões na cabeça sobre David Martín que só vi resolvidas no terceiro volume, O Prisioneiro do Céu, porém e uma vez que se trata de releitura, já li os três livros da saga, conheço o destino e a verdade sobre as personagens, tornam-se complexo explicar-me. 

 

- Sabe o que têm de melhor os corações despedaçados? - perguntou a bibliotecária.

Fiz-lhe sinal negativo.

- Só se podem despedaçar uma vez. Tudo o resto são arranhões.

 

Por outro lado, Zafón é extraordinário na escrita e na forma como descreve os cenários e os traços de Barcelona... é como se de facto estivéssemos naquela cidade em meados do século XX. Uma escrita deliciosa e envolvente, o escritor possui o dom invejável da escrita.

 

Ergui o olhar para a imensidão do labirinto.

- Como se escolhe só uma livro entre tantos?

Isaac encolheu os ombros.

- Há quem prefira acreditar que é o livro que nos escolhe a nós... o destino, por assim dizer.

 

O Jogo do Anjo é uma história sobre a magia da escrita e o poder dos livros. Recomendo-o para os fãs de mistérios, magia dos livros e drama. 

 

O segundo volume da saga O Cemitério dos Livros Esquecidos foi uma leitura conjunta das bloggers Pandora,  JP, NathyCristina, Magda e Just.

 

Não há nada no caminho da vida que não saibamos já antes de o iniciar. Não se aprende nada de importante na vida; apenas se recorda.

 

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Título Original: El Juego del Ángel, 2008

Autor: Carlos Ruiz Zafón, Espanha

ISBN: 9789722037075

Páginas: 576

Editora: Dom Quixote, 2008

Sinopse:

Na turbulenta Barcelona dos anos de 1920, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe a proposta de um misterioso editor para escrever um livro como nunca existiu, em troca de uma fortuna e, talvez, de muito mais.

Com um estilo deslumbrante e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Ventotransporta-nos de novo à Barcelona de o Cemitério dos Livros Esquecidos para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos, onde o encantamento dos livros, a paixão e a amizade se conjugam num romance magistral.

Uma Praça em Antuérpia de Luize Valente.

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 Uma Praça em Antuérpia de Luize Valente é, arrisco-me a escrever, um dos meus livros favoritos de dois mil e dezasseis. Uma leitura rica e empolgante, um dos poucos livros que já li com o dom de me roubar lágrimas pelo destino das suas personagens numa trama intensa e inesquecível. 

 

O que mais me surpreendeu nesta leitura foi a escrita de Luize Valente. É uma escrita capaz de nos transportar para a narrativa, cujos detalhes históricos são explicados surpreendentemente bem, contextualizados e no decorrer da história. A escritora não se limitou a bombardear aspectos históricos num ou em vários capítulos: soube agrega-los à narrativa das irmãs gémeas, envolvendo a realidade com as personagens. Uma escrita sem excessos e simples, cativante e fluida. 

 

Uma Praça em Antuérpia é, antes de mais, uma narrativa muito bem elaborada, sobre a Guerra, segredos e pequenos "e ses" que marcariam a diferença. É, no fundo, um livro que fala como pequenas coisas, detalhes que parecem insignificantes, podem marcar destinos. A história inicia-se na voz de Olívia que, contemplando uma velha e antiga fotografia de uma família, revela à neta Tita o terrível segredo que guarda na alma e no coração. Olívia é, no alto dos seus 80 anos, uma bem sucedida empresária portuguesas em terras brasileiras que, por fim, revela a história da sua irmã gémea, Clarice... e a sua própria história de vida. Clarice e Olívia, irmãs nascidas no Norte de Portugal, sempre foram inseparáveis. Porém, o início da II Guerra Mundial e a perseguição aos judeus, uma vez que Clarice é casada com um jovem judeu pianista, marcará o trágico destino da irmãs e respectivas famílias.

 

O futuro era o minuto seguinte, nem um instante a mais. Era assim que tinha de pensar. O futuro era senta-se numa bela doçaria, comer torta de chocolate e tomar um café com leite muito cremoso. O futuro era celebrar os três anos de Bernardo, o domingo sem enjoos, Theodor de folga e a vida que crescia dentro dela.

 

A história de Olívia e Clarice e famílias decorre em cenários e países distintos: Portugal, Alemanha, Brasil, Bélgica, França e Espanha. A caracterização das diferentes personagens é extraordinária e, quando o segredo da família é revelado e sucessivas revelações acontecem, é admirável a forma como a personagem reagirá... não quero entrar em detalhes e, apenas posso escrever que fiquei chocada e surpreendida quando a história que Olívia narra se cruza com o presente da mesma. 

 

Por outro lado, a história narrada neste livro mostra uma outra perspectiva sobre os judeus, Holocausto e II Guerra Mundial: a fuga aos nazis e o papel marcante do cônsul português de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes. Aliás, este romance é inspirado no seu papel enquanto cônsul na atribuição de milhares de visto para judeus em fuga da Europa. 

 

É, admito, difícil escrever sobre um livro que me surpreendeu pela qualidade narrativa e criatividade histórica. A minha vontade é escrever, escrever e escrever tudo, detalhadamente, sobre este livro... ficou, conhecem, aquela sensação de vazio que só um bom, na verdade, excelente livro é capaz de deixar em nós?! Foi exactamente o que me aconteceu com este livro... dez estrelas! 

 

O amor é o sentimento mais nobre que um ser humano pode ter. No momento em que ele é entregue e recusado, transforma-se em tristeza, mas naquela tristeza que carrega a saude dos dias passados.

 

Uma Praça em Antuérpia é um livro inesquecível. Recomendo-o a qualquer amante a literatura, bem como a apaixonados pelo passado histórico, em particular a temática da II Guerra Mundial... ou, no fundo e resumidamente, para ficarem a conhecer um pouco mais da personalidade de uma figura portuguesa esquecida, Aristides de Sousa Mendes. 

 

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Título Original: Uma Praça em Antuérpia 

(colecção A História de Portugal em Romances)

Autor: Luize Valente, Brasil

ISBN: 9789896378448

Páginas: 352

Editora: Edições Saída de Emergência, 2015

Sinopse:

A história de duas irmãs que a guerra separou e o terrível segredo que deixaram para trás.

Há uma saga que ainda não foi contada sobre a Segunda Guerra Mundial: a história de duas irmãs portuguesas, Olívia e Clarice. Olívia casa-se com um português e vai para o Brasil. Clarice casa-se com um alemão judeu e vai morar em Antuérpia, na Bélgica. Ambas vivem felizes, com maridos e filhos, até que a guerra começa e a Bélgica é invadida.

Para escapar da sombra nazi que vai devorando a Europa, a família de Clarice conta com a ajuda de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul que salvou milhares de vidas emitindo vistos para Portugal, em 1940, enquanto atuou em Bordéus, França.

A família recebe o visto mas, ao chegar à fronteira de Portugal,um destino trágico a espera... Destino que vai mudar e marcar a vida das irmãs para sempre, por causa de um segredo que só será revelado sessenta anos depois.