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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Oito mitos sobre o excesso de peso.

Eu sempre fui gorda... gordinha, grande, cheiinha, com curvas. Diversos termos para designar o meu corpo. Convivo com o excesso de peso desde os meus dez anos e, aos vinte e sete, quase vinte e oito, vivi experiências e senti sentimentos que moldaram a minha personalidade e relação com o meu corpo e peso. 

 

Quando adolescente, na idade em que o corpo e a imagem ganham importância, escutei diversas vezes comentários negativos e destrutivos sobre o meu peso ou tamanho das minhas ancas. A ideia, no caso de palavras proferidas pelos familiares mais próximos, era incentivarem-me realmente a perder peso porém, porque é nos amigos e colegas de escola que mais valorizamos opiniões, os comentários negativos conseguiram afundar-me mais. Pai e mãe nunca, em fase alguma, compreenderam que procurava na comida o refúgio para os meus problemas de peso, auto-estima, amor e amizade. É uma fase da qual pouco menciono, onde procurei diversas formas de perder peso, apesar de voltar sempre à comida, e corresponder àquilo que as pessoas achavam bonito: o ser-se magra através de dietas loucas, longos períodos sem comer e tentativas de forçar o vomito. Enfim... a adolescência é um período complexo para meninas e meninos, definindo personalidades e sentimentos em relação à nossa imagem e àquilo que somos. Uma fase onde os comentários negativos são levados ao extremo e, por vezes, pais e mães desconhecem o impacto que tal provoca.

 

Na fase adulta, no entanto, eu ainda não sabei lidar com este problema de peso. A dificuldade em encontrar roupa a meu gosto, os comentários depreciativos vindos de um ex-namorado e a personalidade introvertida e de baixa auto-estima ainda hoje marcam o que sou. Abandonei dietas malucas e a ideia de um dia pesar quarenta e cinco quilos, como todas as amigas de adolescência. Não me sinto totalmente confortável nos meus noventa mas, ainda assim, aceito-me melhor do que antes e, em vez de procurar refúgio à comida levando-me a pesar mais de cem quilos, reencontro-me nos livros. Não suporto fotografias de corpo inteiro porque odeio as minhas pernas e coxas mas, procuro caminhar e fazer frente a comentários negativos sobre as mesmas. Procuro, em vez de me auto-destruir como na adolescência, maneiras de me aceitar como sou. Não sou, confesso, totalmente feliz mas recuso-me a ser escrava do meu corpo: viver em permanentes dietas, sempre com medo de engordar, proibir-me de comer o que gosto, agradar aos demais em vez de a mim mesma. 

 

O drama do peso e a forma como o encaro é um tema que, diversas vezes, abordei no blogue. Porém, não era sobre mim exactamente que queria falar...

 

Mitos. É dos mitos sobre o peso que quero abordar. Nos meus vinte e sete anos ouvi diversos comentários negativos que, com o tempo, compreendi serem associados a pessoas gordas. Homens e mulheres com problemas de peso marcados por ideias pré-concebidas e descabidas... resumidamente, mitos do excesso de peso. E, perguntam vocês, quais são? Ora aqui vai a lista...

 

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| Os/As mais divertidos.

Diz-se que o homem ou a mulher gorda são sempre os mais sociáveis e divertidos. Culpa do excesso de peso e da necessidade em esconder os seus complexos, adoram conversar e fazer rir os demais, frequentemente, são os primeiros a proferirem comentários negativos sobre o próprio peso. Diz-se que é uma forma de esconderem os problemas de confiança e de imagem.... Mentira. Sou mulher e sou introvertida e pouco dada a conversas com desconhecidos. Odeio comentários sobre o peso e jamais brinquei sobre o mesmo - fosse comigo ou com alguém conhecido. E, como eu, havia um colega de curso na Universidade com problema de peso e dificuldade em interagir com os demais. É claro que, igualmente, tinha um amigo que confirmava a regra mas, na prática, isto não passa de um mito extremamente associado a pessoas com excesso de peso. 

 

| Não sentem tanto a dor.

Diz-se que por termos mais carne que somos mais susceptíveis à dor... bem, também já escutei o inverso, ou seja, por termos mais gordura não sentimos dor. Mas... Eu, de facto, comprovo-o. Não suporto dor, seja ela qual for e nem falamos sobre o ver sangue... e descobri, à conta do meu actual trabalho, que rapidamente fico marcada por nódoas negras (e, por este facto, é bom não ter namorado...). Porém, o meu irmão e o meu pai fogem à regra: ambos sentam-se numa cadeira de dentista e arrancam os dentes sem qualquer anestesia.  

 

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| É-lhes mais difícil encontrar o amor.

Não tenho namorado à uns três anos e, de facto, o meu campo amoroso sempre foi complicado... mas eu não sou exemplo neste campo. Pode ser difícil mas não é impossível. Nos meus curtos anos de vida conheci homens e mulheres com excesso de peso que encontraram o amor e são felizes. Quiçá demore um pouco mais mas, como a qualquer outra pessoa, acaba por chegar. Por outro lado, uma das coisas que mais me irrita é quando me dizem que preciso de emagrecer para arranjar um namorado... juro que quando o dizem tenho de controlar o meu impulso assassino... no meu caso, diz-se que, por um lado, o amor me demora porque o meu karma amoroso é lento (não sei exactamente o que isto quer dizer), por outro, eu mesma tenho dificuldade em vencer os meus medos à conta de experiências passadas. Mas, bom, seja como for, o meu irmão sempre foi gordinho e encontrou um amor...

 

| Só comem porcarias.

Não como bolos nem bebo bebidas com gás, à anos que não como uma hambúrguer no McDonalds e sou a pessoa mais esquisita a comer que conheço. O problema é que, no fundo, sou extremamente preguiçosa e quando estou mais nervosa tenho tendência a comer mais. É, na verdade, um problema de ansiedade que, contrariamente à maioria, não me retira o apetite. Não sou exactamente reflexo daquilo que como, como se diz. E sei que não sou a única assim... Nem todos somos gordos/as por comer porcarias: algumas pessoas são-no por sofrem com problemas de tiróide ou qualquer patologia do foro psicológico (e estás, infelizmente, mantêm-se negligenciadas). 

 

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| Gordos/as são preguiçosos/as.

Confesso-me: sou extremamente preguiçosa. Eu sou-o mas nem todos somos gordos/as por passarmos a tarde sentados no sofá a comer porcarias. Conheço pessoas com excesso de peso que praticam imenso desporto. O meu irmão é um desses exemplos: sempre foi forte, até alguns meses, e praticava andebol e futebol de salão. Ah! Já vos falei da minha professora de zumba? É professora de educação física, dá aulas de andebol, futebol de salão, pilates e zumba, no entanto, embora toda a genica e actividade, é mulher gordinha, acima do peso ideias das mulheres cuja profissão se baseia no peso.

 

| Menos susceptíveis ao frio.

Eu sinto sempre frio. Sempre! Eu passo grande parte do Inverno a queixar-me do frio... sempre! O meu Inverno é passado com três camadas de roupa e umas cinco camadas de cobertores na hora de dormir. 

 

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| Gordos/as devem vestir-se mediante o seu tamanho.

Quem diz isto? A moda? E o que é a moda? Pergunto isto porque, para mim, a moda sou eu que a faço! Quando não gosto de uma peça de roupa, por mais na moda que esteja, jamais a usaria. Uso o que me faz sentir confiante, bonita e feliz. Não uso o que dizem ser indicado para o meu tamanho. Confesso que não faz o meu género, também não gosto de o ver em raparigas ditas magras mas, se me desse na real gana usar aqueles tops curtos a mostrar a barriga, julgam que só por ser gorda não o usaria? A moda sou eu! Somos o que quisermos vestir...

 

| Namoram com outros/as gordos/as.

O ponto é este: há homens que preferem mulheres mais cheiinhas, há mulheres que preferem homens mais gordos e por aí fora, bem como o oposto. Não existe, em lado algum, nenhuma regra de obrigue uma mulher gordinha a namorar um homem gordinho. Conheci homens que preferiam uma namorada com curvas a uma mulher magra e vice-versa. É uma ideia descabida...

 

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Os oito mitos acima descritos foram, como escrevi anteriormente, baseados na minha experiência e comentários negativos que escutei e escuto à anos. 

Do excesso de peso...

É curioso como, para os demais, o excesso de peso parece incomodar-lhe mais do que à própria pessoa em si.

 

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Não falo, obviamente, de obesidade mas, de algum excesso de peso. Vi, no passado e antes de entrar na faculdade, como a balança marcava os três dígitos e as evidentes dificuldades que manifestava; com o tempo e as claras mudanças nos meus dias, o número desceu e, as tais dificuldades, escaparem-se. Sempre lidei mal com o meu peso, com os comentários, com os olhares. Evitava praias e, num determinado período da minha vida, mergulhava em dietas malucas para emagrecer. Preocupava-me. Não queria, evidentemente, ultrapassar os cem quilos antes pelo contrário, queria perder uns bons vinte quilos. Era, sempre, uma enorme alegria quando o número das calças diminuía e, com raiva e desanimo, percebia quando as mesmas deixavam de servir. Foi, desde sempre, uma luta constante entre mim, a balança e a comida.

 

Não fui sempre gordinha. Começou por volta dos dez anos, depois de me submeter a uma cirurgia (a que se lhe seguiu, num curto espaço de tempo, outra), as mudanças no corpo e o facto de não me sentir confortável no novo colégio - onde aliás, nunca me senti realmente integrada. E, portanto, à despreocupação dos meus pais, mais preocupados em discutirem um com o outro, foi na comida que encontrei conforto... poderia, tê-lo feito nos livros, como volta e meia o fazia nos intervalos mas, tal só iria contribuir para me dificultar a vida no colégio (sim, porque os miúdos são maus e eu já sofria por ter excesso de acne e ser das mais altas raparigas da turma). No fundo, nunca ninguém me disse que, acima de tudo, deveria gostar de mim, aceitar-me como sou e mudar por mim e não pelos demais. O primeiro (e até hoje, único) namorado surgiu aos vinte e dois embora, admita que, tivesse tido uma ou outra aventura. Quiçá pressionada pelos demais e pelos comentários que sempre escutei, deixei-me mergulhar numa relação que haveria de destruir a minha terrível e baixa auto-estima. Desengane-se quem julga que existem certas coisas, sentimentos, momentos e histórias que só acontecem aos demais... reparem, eu não me considerava inculta ou algo do género mas, a necessidade de me sentir amada e o medo da solidão permitiu que mergulha-se numa espiral de insultos e afins (e, bom, acho que também não tinha o melhor exemplo em casa). A verdade é que, imaginei uma primeira relação algo tão distinto e maravilhoso do que realmente foi na realidade. E, ainda antes de a relação terminar, antes mesmo de colocar-lhe um fim, dei por mim a comer que nem uma desalmada... e vi-me aproximar perigosamente dos cem. Resolvi inverter a tendência, colocar a pena de mim mesma de lado e, mudar-me. Não era uma dieta rígida mas, para mim, bastava-me atingir um valor confortável, com o qual sempre vivi. Longe de chegar a esse número na balança, as coisas mudaram-se novamente - porque a vida é uma constante mudança - e, mergulhei numa nova espiral de pena e sentimentos de fracasso, onde comidas e livros serviram para afogar as mágoas... pelo menos, até a meio deste ano, quando decidi parar de olhar a comida como um refúgio e procurar o conforto na dança zumba - longe de ser coordenada ou ágil, divirto-me bastante e aquela hora de dança, um verdadeiro escape. 

 

O meu drama com o peso é, desde cedo, uma história recheada de altos e baixos, de momentos de luta e fracasso. Na maior parte dos meus dias, lido bastante bem com o meu peso. Dediquei-me a seguir, via facebook, algumas modelos ditas plus size que transpiram confiança e amor próprio, esperançada de que tais me transmitissem um pouco de inspiração. Em parte, afirmo que resultou. Mas, evidentemente, não chega. E, o problema não reside em mim - na maior parte dos dias, nem me lembro que tenho peso em excesso - mas, nos demais que, vai-se lá saber o porquê, se lembram em falar. Como se não fosse suficientemente mau entrar numa loja, ver uma peça de roupa linda linda e, quando tentamos experimentar, ou não existe o nosso tamanho ou não serve... portanto, há-de haver sempre meia dúzia de almas a falar sobre o excesso de peso que temos. Tens uma cara tão gira, se emagrecesses um pouco, ficavas uma brasa dizia-me, certa vez, o meu ex-namorado, Com esse peso todo, é normal que não tenhas namorado dizem-me frequentemente as tias ou Já pensastes em emagrecer para o bem da tua saúde? dizia-me, certa vez, o meu pai. Bem sei que não são comentários ditos com más intenções (excepto uma ou outra alma) mas, a verdade é que em nada contribui para que emagreça de hoje para amanhã. E, por exemplo, no caso do meu pai, farta dos seus comentários, certa vez respondi-lhe que, se tinha problemas com o peso, a ele também lho devia, obrigando-me a encher o prato, a nunca abandonar a mesa sem tudo comido e a não me permitir praticar o desporto que realmente queria (entre outras). 

 

O meu peso incomoda, evidentemente, mais os demais, do que a mim mesma. Uma das funcionárias do meu pai começou, recentemente, a praticar futebol. Provavelmente, deveria fazer como ela, contar a minha vida aos sete ventos, não me limitar a dizer que não gosto de futebol, mencionar a dança zumba que pratico duas vezes por semana e, quiçá, evitasse os desagradáveis comentários A Maria é que precisava de ir para o futebol, para emagrecer... tu já estás magra, não precisas (como se, por ser magra, tal impedisse de exercitar o corpo). O peso, como costumo dizer, incomoda os outros, não a mim. No fundo, o que realmente me incomoda são os outros, os comentários, os olhares e as certezas de que sabem sempre tudo sobre ser-se gorda ou magra. 

 

O meu peso é, por mais que o negue, um dos meus pontos fracos. É algo que trabalho, que procuro mudar, esconder dos demais. Comecei a dar pequenos passos no caminho da mudança mas, como em tudo na vida, leva o seu tempo. Desengane-se quem pensa que uma gorda o é porque querer ou porque se dedica a comer porcarias. A verdade é que, esta questão de peso, mais não é do que uma construção social, um ideal de beleza pré-concebido com elevada tendência a mudar... se antes se promovia a beleza magra, hoje em dia promovesse a beleza real, a das curvas, celulite e afins. E, são coisas distintas, sentir bem comigo mesma com e agradar aos demais.

 

O meu peso incomoda mais aos demais do que a mim mesma... e, lamento, mas não vou pedir desculpas ao mundo por isso. Sim, tenho excesso de peso e não me vou desculpar! 

 

20 respostas para aqueles que te mandam emagrecer

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Não, para ficar magro e infeliz como você? Pois gente feliz de verdade não se incomoda com a vida alheia.