Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

2019: o ano em que vou (continuar) a apostar em mim.

 Não tenho, por norma, o hábito de fazer resoluções ou traçar objectivos de ano novo ou de aniversário. Acredito que a mudança deve acontecer quando queremos, numa segunda-feira ou numa quarta-feira, em qualquer altura do ano, e por nada em específico, só porque queremos mudar algo na nossa vida. No entanto, apesar da contradição das minhas palavras, o próximo ano será o ano em que quero muito apostar em mim... ou continuar.

 

20373439_sh7iq.png

(Imagem: Acredita em ti e voa!)

 

No início deste ano, algures depois das festividades dos Reis, decidi que iria mudar a minha alimentação e apostar na minha saúde. Nunca fui, desde os meus dez anos, uma miúda de corpo delicado, magro e de auto-estima elevada. Pelo contrário, desde essa idade e até aos meus presentes trinta anos, sempre fui gordinha, de fraca auto-estima e com problemas de acne. Não posso, segundo o dermatologista que consultei à uns anos, resolver o problema do acne mas posso lutar contra o resto... e foi isto que procurei fazer ao longo dos últimos ano. Lutei, ano após ano, contra os meus complexos e medos, procurando descer os números do meu peso na balança, mas se consegui atingir níveis satisfatórios relativamente à minha auto-estima, o mesmo não o posso afirmar com os números na balança (e quem me segue no blogue à mais anos, sabe do que falo). Não tenho uma auto-estima ao nível dos cem porcento mas, talvez não exagere se a considera a uns setenta quando, na minha meninez e adolescência, equivalia a uns vinte. Não acredito, todavia, que algum dia esteja a cem porcento, porque isto é uma luta que nunca acaba, mas quero evitar ir-me abaixo de cada vez não caibo numas calças.

 

Posto isto, no início deste ano decidi que iria mudar a minha alimentação, praticar mais exercício físico e reduzir os valores do meu colesterol. Se consegui o último, o mesmo não posso afirmar do segundo e o primeiro, embora já não viva sem a minha sopa à hora do almoço, ficou um bocadinho longe dos meus planos. A ideia era, ao mudar a minha alimentação, comer mais legumes e fruta, preparar refeições mais saudáveis, reduzir nos doses e refrigerantes, beber mais água e comer mais sopa... de tudo isto só consegui reduzir nos refrigerantes e aumentar o consumo de sopa. Os restantes sofriam de picos de humor: ora passava semanas sem tocar num chocolate e dias a comer fruta seguidas, como podia passar três dias a enfardar chocolates e nada de fruta. É, a convulsão alimentar, uma das minhas lutas de há anos e que não sei se jamais a conseguirei enfrentar... porque é na comida que muitas vezes encontro refugio e consolo para os meus medos e dramas, embora saiba que também me causa mais e mais problemas. 

 

46893566_2293769397314281_4787451924314062848_n.jp

(Imagem: Facebook Disney Ironica)

 

A mudança a nível profissional veio desmobilizar os meus planos de saúde iniciais. Eu estava a conseguir perder peso. A adaptação a um novo ritmo e estilo profissional, mais sedentário que o anterior, levou-me a ganhar o peso que tinha perdido. Senti-o nas calças que outrora tanto usara, senti-o nas roupas que em lojas ditas normais outrora conseguia caber e deixei de conseguir, senti-o na minha saúde. Conjugar o meu horário de trabalho com o pouco tempo que me sobrava é, ainda hoje, uma tarefa que estou a aprender (a escrita e a leitura sentiram tanto com esta mudança profissional). Inscrevi-me num ginásio mas não o fiz por mais de três meses... estava a pagar para nunca o frequentar porque chegava sempre muito tarde a casa. E é isto que quero mudar e não o quero só no próximo ano, quero-o já. Para tal e, porque a nível profissional não me sinto numa situação muito estável, decidi retomar as aulas de zumba, com duas sessões semanais. O objectivo não é, mais uma vez refiro-o, emagrecer mas sim tornar-me mais saudável e activa.

 

Não quero que dois mil e dezanove seja o ano de mudar, pelo contrário, quero que seja um ano de continuidade, aquele em que vi que podia ser mais. Não vou esperar por Janeiro para o fazer, mas começar agora... um novo ano é quando quisermos começar verdadeiramente a mudar. Dois mil e dezanove é o ano em que vou continuar a apostar em mim... a nível pessoal, profissional e de saúde.

 

46516849_2289396821084872_5385349893478940672_n.jp

(Imagem: Facebook Disney Ironica)

 

Pessoal:

- Aprender a língua inglesa: adiei durante meses e meses iniciar uma formação nesta língua mas não posso continuar a negar a minha lacuna nesta área e na necessidade em investir na aprendizagem. 

- Ler um livro por mês e escrever, pelo menos, um a dois posts por semana.

- Gerir melhor as minhas finanças: aprender a pensar duas vezes antes de comprar e registar diariamente (na agenda ou numa folha excel) os meus gastos, bem como tentar colocar todos os meses um valor fixo numa conta poupança.

 

Profissional:

- Mudar de trabalho (obviamente).

 

Saúde:

- Retomar (já este mês) as aulas de zumba e/ou caminhar pelo menos trinta minutos.

- Beber mais água e continuar a cortar nos refrigerantes.

- Procurar passar um mês sem consumir açúcar (não sei se consigo mas vou tentar... li o desafio neste blogue).

- Continuar a comer diariamente um ou dois pratos de sopa e comer mais fruta e legumes. 

Oito mitos sobre o excesso de peso.

Eu sempre fui gorda... gordinha, grande, cheiinha, com curvas. Diversos termos para designar o meu corpo. Convivo com o excesso de peso desde os meus dez anos e, aos vinte e sete, quase vinte e oito, vivi experiências e senti sentimentos que moldaram a minha personalidade e relação com o meu corpo e peso. 

 

Quando adolescente, na idade em que o corpo e a imagem ganham importância, escutei diversas vezes comentários negativos e destrutivos sobre o meu peso ou tamanho das minhas ancas. A ideia, no caso de palavras proferidas pelos familiares mais próximos, era incentivarem-me realmente a perder peso porém, porque é nos amigos e colegas de escola que mais valorizamos opiniões, os comentários negativos conseguiram afundar-me mais. Pai e mãe nunca, em fase alguma, compreenderam que procurava na comida o refúgio para os meus problemas de peso, auto-estima, amor e amizade. É uma fase da qual pouco menciono, onde procurei diversas formas de perder peso, apesar de voltar sempre à comida, e corresponder àquilo que as pessoas achavam bonito: o ser-se magra através de dietas loucas, longos períodos sem comer e tentativas de forçar o vomito. Enfim... a adolescência é um período complexo para meninas e meninos, definindo personalidades e sentimentos em relação à nossa imagem e àquilo que somos. Uma fase onde os comentários negativos são levados ao extremo e, por vezes, pais e mães desconhecem o impacto que tal provoca.

 

Na fase adulta, no entanto, eu ainda não sabei lidar com este problema de peso. A dificuldade em encontrar roupa a meu gosto, os comentários depreciativos vindos de um ex-namorado e a personalidade introvertida e de baixa auto-estima ainda hoje marcam o que sou. Abandonei dietas malucas e a ideia de um dia pesar quarenta e cinco quilos, como todas as amigas de adolescência. Não me sinto totalmente confortável nos meus noventa mas, ainda assim, aceito-me melhor do que antes e, em vez de procurar refúgio à comida levando-me a pesar mais de cem quilos, reencontro-me nos livros. Não suporto fotografias de corpo inteiro porque odeio as minhas pernas e coxas mas, procuro caminhar e fazer frente a comentários negativos sobre as mesmas. Procuro, em vez de me auto-destruir como na adolescência, maneiras de me aceitar como sou. Não sou, confesso, totalmente feliz mas recuso-me a ser escrava do meu corpo: viver em permanentes dietas, sempre com medo de engordar, proibir-me de comer o que gosto, agradar aos demais em vez de a mim mesma. 

 

O drama do peso e a forma como o encaro é um tema que, diversas vezes, abordei no blogue. Porém, não era sobre mim exactamente que queria falar...

 

Mitos. É dos mitos sobre o peso que quero abordar. Nos meus vinte e sete anos ouvi diversos comentários negativos que, com o tempo, compreendi serem associados a pessoas gordas. Homens e mulheres com problemas de peso marcados por ideias pré-concebidas e descabidas... resumidamente, mitos do excesso de peso. E, perguntam vocês, quais são? Ora aqui vai a lista...

 

Plus-Size-IamNoAngel-5.jpg

 

| Os/As mais divertidos.

Diz-se que o homem ou a mulher gorda são sempre os mais sociáveis e divertidos. Culpa do excesso de peso e da necessidade em esconder os seus complexos, adoram conversar e fazer rir os demais, frequentemente, são os primeiros a proferirem comentários negativos sobre o próprio peso. Diz-se que é uma forma de esconderem os problemas de confiança e de imagem.... Mentira. Sou mulher e sou introvertida e pouco dada a conversas com desconhecidos. Odeio comentários sobre o peso e jamais brinquei sobre o mesmo - fosse comigo ou com alguém conhecido. E, como eu, havia um colega de curso na Universidade com problema de peso e dificuldade em interagir com os demais. É claro que, igualmente, tinha um amigo que confirmava a regra mas, na prática, isto não passa de um mito extremamente associado a pessoas com excesso de peso. 

 

| Não sentem tanto a dor.

Diz-se que por termos mais carne que somos mais susceptíveis à dor... bem, também já escutei o inverso, ou seja, por termos mais gordura não sentimos dor. Mas... Eu, de facto, comprovo-o. Não suporto dor, seja ela qual for e nem falamos sobre o ver sangue... e descobri, à conta do meu actual trabalho, que rapidamente fico marcada por nódoas negras (e, por este facto, é bom não ter namorado...). Porém, o meu irmão e o meu pai fogem à regra: ambos sentam-se numa cadeira de dentista e arrancam os dentes sem qualquer anestesia.  

 

Beth Ditto Plus Size Clothing Line.jpg

 

| É-lhes mais difícil encontrar o amor.

Não tenho namorado à uns três anos e, de facto, o meu campo amoroso sempre foi complicado... mas eu não sou exemplo neste campo. Pode ser difícil mas não é impossível. Nos meus curtos anos de vida conheci homens e mulheres com excesso de peso que encontraram o amor e são felizes. Quiçá demore um pouco mais mas, como a qualquer outra pessoa, acaba por chegar. Por outro lado, uma das coisas que mais me irrita é quando me dizem que preciso de emagrecer para arranjar um namorado... juro que quando o dizem tenho de controlar o meu impulso assassino... no meu caso, diz-se que, por um lado, o amor me demora porque o meu karma amoroso é lento (não sei exactamente o que isto quer dizer), por outro, eu mesma tenho dificuldade em vencer os meus medos à conta de experiências passadas. Mas, bom, seja como for, o meu irmão sempre foi gordinho e encontrou um amor...

 

| Só comem porcarias.

Não como bolos nem bebo bebidas com gás, à anos que não como uma hambúrguer no McDonalds e sou a pessoa mais esquisita a comer que conheço. O problema é que, no fundo, sou extremamente preguiçosa e quando estou mais nervosa tenho tendência a comer mais. É, na verdade, um problema de ansiedade que, contrariamente à maioria, não me retira o apetite. Não sou exactamente reflexo daquilo que como, como se diz. E sei que não sou a única assim... Nem todos somos gordos/as por comer porcarias: algumas pessoas são-no por sofrem com problemas de tiróide ou qualquer patologia do foro psicológico (e estás, infelizmente, mantêm-se negligenciadas). 

 

0247efb0-cb41-0132-46ed-0e9062a7590a.png

 

| Gordos/as são preguiçosos/as.

Confesso-me: sou extremamente preguiçosa. Eu sou-o mas nem todos somos gordos/as por passarmos a tarde sentados no sofá a comer porcarias. Conheço pessoas com excesso de peso que praticam imenso desporto. O meu irmão é um desses exemplos: sempre foi forte, até alguns meses, e praticava andebol e futebol de salão. Ah! Já vos falei da minha professora de zumba? É professora de educação física, dá aulas de andebol, futebol de salão, pilates e zumba, no entanto, embora toda a genica e actividade, é mulher gordinha, acima do peso ideias das mulheres cuja profissão se baseia no peso.

 

| Menos susceptíveis ao frio.

Eu sinto sempre frio. Sempre! Eu passo grande parte do Inverno a queixar-me do frio... sempre! O meu Inverno é passado com três camadas de roupa e umas cinco camadas de cobertores na hora de dormir. 

 

IMG_0673.jpg

 

| Gordos/as devem vestir-se mediante o seu tamanho.

Quem diz isto? A moda? E o que é a moda? Pergunto isto porque, para mim, a moda sou eu que a faço! Quando não gosto de uma peça de roupa, por mais na moda que esteja, jamais a usaria. Uso o que me faz sentir confiante, bonita e feliz. Não uso o que dizem ser indicado para o meu tamanho. Confesso que não faz o meu género, também não gosto de o ver em raparigas ditas magras mas, se me desse na real gana usar aqueles tops curtos a mostrar a barriga, julgam que só por ser gorda não o usaria? A moda sou eu! Somos o que quisermos vestir...

 

| Namoram com outros/as gordos/as.

O ponto é este: há homens que preferem mulheres mais cheiinhas, há mulheres que preferem homens mais gordos e por aí fora, bem como o oposto. Não existe, em lado algum, nenhuma regra de obrigue uma mulher gordinha a namorar um homem gordinho. Conheci homens que preferiam uma namorada com curvas a uma mulher magra e vice-versa. É uma ideia descabida...

 

RR4A6029-590x430.jpg

 

Os oito mitos acima descritos foram, como escrevi anteriormente, baseados na minha experiência e comentários negativos que escutei e escuto à anos. 

Mulheres não se medem pelo tamanho do corpo...

A minha professora de zumba é gordinha. A primeira vez que a vi perguntei-me como era possível. Cai no erro de assumir os preconceitos e estereótipos da sociedade. Uma barriguinha saliente, os braços descaídos e pernas gorduchas. Surpreendentemente, é a mulher mais energética que conheço. Desconfio que o dia daquela mulher é iniciado por uma dose forte de redbull. E, em abono da verdade, escrevesse que ela não se limita a ser professora de zumba... é de pilates, dá aulas de andebol a miúdos e adolescentes, pratica futebol de salão, fora, evidentemente, as aulas de educação física que lecciona. Adoro-a. É divertida, incentivadora e, no entanto, capaz de nos levar a testar os limites do nosso corpo. Longe do corpo atlético e ideal que a sociedade concebe de uma professora de desporto, a verdade é que a minha G. é uma mulher cheia de chenica e vivacidade. É, resumindo, a prova de que as mulheres não se medem pela forma exterior do corpo... 

 

estereotipos.jpg

Gordo-x-Magro.jpg