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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Faz-me uma enorme confusão quando,

independentemente das idades, uma mãe ou um pai tratam os filhos por 'você' (e vice-versa). 

Quando oiço um pai ou uma mãe referirem-se a um filho ou filha por 'você isto ou você aquilo' fico com a sensação de que se tratam de pessoas desconhecidas entre si, sem qualquer afinidade. É uma forma de educação mas, para mim, é agressiva, quase como que impondo distância entre elementos que deveriam ser unidas. 

Cresci a tratar os meus pais por 'tu', por papá e mamã, entre brincadeiras mas, sempre, com respeito. A tratar os mais velhos, os familiares mais afastados ou os desconhecidos por 'você'. Por isso, por muito que tente, acho agressivo assistir a esta forma de tratamento, inclusive entre irmãos. Cresci a andar ao murro e aos nomes feios com os meus irmãos e, como é visível por quem nos conhece, somos muito unidos: quando um está mal, os outros apoiam. Não ficamos traumatizados nem deixamos de falar por isso, temos os nossos feitios e, mesmo com idade para ter juízo, ainda andamos ao murro e aos nomes. 

A minha família não é um exemplo de perfeição, temos os nossos defeitos, ainda assim, tratar os meus pais e irmãos por 'tu' parece-me uma forma mais carinhosa e de afinidade do que por 'você'. 

Tenho excesso de peso.

 

 

Não é desde sempre, desde que nasci, mas desde os meus 10 anos, mais ano menos ano. Em tempos, o meu peso deixa-me frustrada. Era sinónimo de ser feia e de que nunca conseguiria ninguém. Nos tempos de escola, o drama do excesso de peso foi pior, com insultos diários ao qual se juntava o facto de usar óculos e sofrer com o imenso acne. Foram tempos difíceis em que julguei que a única saída fosse a morte.

A chegada ao ensino secundário melhorou um pouco mais a situação. O facto de não ser a única na turma com excesso de pesa traduzia-se em conforto. A (suposta) aceitação dos outros com as diferenças era reconfortante mas não me elevou a auto-estima perdida. A verdade, o acne, os óculos e o cabelo comprido não ajudavam a sentir-me confiante e bonita. Nesta altura tive a minha primeira paixão à qual a minha fraca auto-estima e confiança transformou num amor não correspondido.

A mudança aconteceria com a chegada à universidade. Era uma das caloiras e, posteriormente, das doutoras mais feias e forte mas, o tempo, traduziu-se em mudanças. Aprendi a gostar mais de mim e a usar troques que elevassem a minha auto-estima: perdi algum peso, cortei o cabelo, comecei a usar lentes, pintei o cabelo, comecei a usar maquilhagem, fiz tratamento para o acne, aprendi a vestir-me tirando partido do meu corpo. Embora ainda mantivesse o excesso de peso, a minha confiança aumentou um pouco mais. Consegui ter as minha primeiras aventuras amorosas, no entanto, só aos 20 é que consegui saber e sentir o que era um beijo. Aos 22, tive o meu primeiro e, até agora, com 25, único namorado. Embora ele gostasse do meu corpo, achava que poderia sentir-me ainda melhor e mais atraente se perdesse um pouco de peso. Nunca fez pressão para que seguisse o seu conselho, mas mencionava-o.

Hoje, com quase 26 anos, não me sinto mal com o meu corpo. Procuro formas de me sentir atraente e bem comigo mesma, não descuido a minha apresentação e procuro sair de casa sempre a sentir-me confiante com o que visto. Não considero que seja o meu excesso de peso a impedir-me de ter um novo relacionamento mas sim os traumas que a única relação me deixou aliado ao facto de não ter praticamente amigos.

Porém, às vezes vou abaixo e desejo ser como aquelas que aparecem com altos corpões... por isso, comecei a fazer algumas caminhadas/corridas, evitando alguns tipos de alimentos e comida e, em breve, comprarei uma bicicleta. Não consigo fazer uma dieta ou ser pressionada para tal. É claro que tenho uma meta e quero lá chegar, mas quero-o fazer ao meu ritmo, sem pressões. Não me sinto mal com o meu corpo, esta é a verdade. Pode parecer contraditório, mas só percebo que tenho excesso de peso quando não encontro o meu tamanho ou quando ele não me serve... aí, deixo-me ir abaixo. Mas, no meu dia-a-dia, sinto-me bem comigo própria. A maioria das pessoas nem me dá o peso real ou até me dizem que sou uma 'gordinha jeitosa'. Não quero nem gosto de seguir os estereótipos da sociedade, em ser magra é que é bonito. Não... para mim tal não é suficiente. O que eu quero é, acima de tudo, sentir-me ainda melhor comigo mesma... mais e mais, independentemente do que diga a sociedade que é bonito.