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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Dia Internacional da Mulher

Confesso, antes demais, que eu tenho uma relação de amor-ódio com este dia, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Compreendo o seu significado, a sua essência, a sua importância, mas a forma que assumiu nos últimos anos, irritam-me por lhe retirarem o devido valor. A culpa talvez seja de todos nós por continuarmos a alimentar o potência económico de um dia que deveria ser, antes demais, para reflectir. 

 

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Não me desejem um feliz dia da mulher quando ainda existe tanto por fazer, tanto por lutar, tanto por mudar. Intimamente, acredito que um dia conseguiremos atingir a igualdade de géneros, não para a minha geração e, provavelmente, também não será para a dos meus netos ou bisnetos, mas acredito que mais lá para a frente (quero acredita positivamente), um dia, homens e mulheres encontraram o equilíbrio, o Mundo dará a reviravolta e este dia deixará de fazer sentido... uma recordação das inúmeras lutas das mulheres ao longo da História. Porém, até que esse utópico dia seja alcançado, muito há para fazer, lutar e mudar em busca da igualdade entre homens e mulheres.

 

Não me desejem um feliz dia da mulher quando existem mulheres a sofrer diariamente abusos psicológicos e físicos daqueles que suspostamente as amam e, quando tantas de nós continuam a morrer nas mãos de familiares, (ex-)namorados e (ex-)maridos. Não me desejem um dia feliz quando as mulheres continuam a ser descriminadas em termos salariais e profissionais. Não me ofereçam flores ou chocolates quando uma mulher é condenada por não querer ser mãe como se todas nós nascêssemos com o "relógio da maternidade", como se as suas vidas e felicidade se devessem unicamente de um filho. Não me digam que hoje é o meu dia quando, no resto do ano, me condenam e me julgam exclusivamente por ser mulher. Não me ofereçam workshops e vales de desconto em beleza quando continuamos a catalogar as mulheres por padrões de beleza pouco reais, quando nos julgam por sermos magras ou gordas, baixas ou altas. Não me desejem um feliz dia da mulher quando existe tanto por lutar, mudar e fazer... em Portugal e no Mundo. Poderia continuar, alongar-me nas muitas lutas diárias travadas por tantas de nós, mas deixo este texto que me parece resumir claramente tudo o que ainda falta mudar para ser um dia feliz...

 

Não me desejem feliz dia da mulher quando ontem apareceu a cabeça de uma de nós num saco a boiar num rio.

Não me desejem feliz dia da mulher quando tem que sair uma lei que obrigue a que haja cotas nos locais de trabalho para haver equidade entre géneros (e minguem vai respeitar a puta da lei).

Não me desejem feliz dia da mulher se esta semana saíram notícias de que em vários hospitais públicos foram causados obstáculos a muitas de nós optarem por IVGs.

Não me desejem feliz dia da mulher se trabalho com mais de 80% de famílias monoparentais em que cabe às mães a gestão integral da vida dos filhos com deficiência.

Não me desejem feliz dia da mulher se tentam resumir este dia com bombons e calarem a nossa revolta com flores como se fôssemos tontas.

Não me desejem feliz dia da mulher se a percentagem de mulheres em cargos de chefia é vergonhosas

Não me desejem feliz dia da mulher se continuam a “esterilizar” à força mulheres com deficiência mental, se não há empregos para mulheres com deficiência e se a violência sobre mulheres deficientes institucionalizadas é uma realidade camuflada.

Não me desejem feliz dia da mulher se violaram no outro dia uma mulher em coma que acabou por engravidar como se fosse apenas um saco de despejo de esperma.

Não me desejem feliz dia da mulher se o mercado sexual está todo virado para fazer de nós objectos e se a vulnerabilidade a que o sistema nos veta empurra tantas de nós para ele.

Na me desejem feliz dia da mulher se há tráfico de mulheres no Mundo e mutilação genital feminina (em Portugal também, não sejam inocentes)e tantos crimes hediondos dirigidos a nós todos os dias.

Não me desejem feliz dia da mulher, não me ofereceram as putas das flores, a não ser que sejam cravos na lapela amanhã nas marchas e nas ruas.

E -mais importante- façam um pirete a que vos desejar feliz dia da mulher. Este dia não é feliz: este dia é de luta.

Lutamos?

Ontem, em Viera do Minho, uma mulher morreu às mãos do marido. No mesmo dia, em Leça da Palmeira, a cabeça de uma mulher foi encontrada numa praia. Hoje, neste dia que é das mulheres, uma mulher viu o seu título de representação internacional, conquistado por mérito próprio, ser-lhe retirado por expressar a sua opinião política, num Portugal que se diz "democrático e com respeito pela liberdade de opinião e expressão". Não me desejem um feliz dia da mulher quando isto ainda acontece...

 

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3M/12L | Sonhos Proibidos de Lesley Pearse.

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 Sonhos Proibidos de Lesley Pearse é uma narrativa intensa e dramática, história de coragem e sobrevivência de uma jovem mulher num universo onde jamais escolheu entrar. O ano de 1910 ficará marcado irremediavelmente na memória de Belle Cooper...

 

A jovem tem 15 anos e vive uma vida despreocupada e solitária. O jovem Jimmy é o seu primeiro amor, colorindo-lhe os dias solitários de amizade e sonhos. Inocente, ingénua e doce, Belle não se apercebe de que a casa onde vive é um bordel. Gerido pela personalidade forte e marcante da mãe e graças aos extremos cuidados da ama, Belle compreenderá, de forma marcante, a noção de bordel e prostituição. O assassinato de uma das jovens da casa, em que Belle presenciará o crime, mudará irremediavelmente o destino da adolescente.

 

Primeiro volume da trilogia Belle, Sonhos Proibidos é uma história tocante e comovente sobre o tráfico de crianças e mulheres para fins sexuais. A história de Belle viajará por França e EUA, mostrando os caminhos negros da prostituição forçada no início do século XX. É as memórias de infância da mãe e da ama, bem como a ingenuidade dos gestos de um primeiro amor de Jimmy, que Belle se agarrará para escapar às mãos do tráfico. A ingénua Belle torna-se, a cada nova página, numa Belle corajosa e determinada, fitando o traçado destino. 

 

Belle é, inevitavelmente, a narrativa de muitas Belles do século XXI. A narrativa de Lesley Pearse retrata um passado que, infelizmente, permanece no presente. A história dramatica de Belle, misturados à miséria e crime, representa histórias de vida reais não muito distantes de nós ou diferentes da narrativa. Uma história intensa, revoltante e desafiante porque, no fundo, o tráfico de crianças e mulheres para fins sexuais do inicio do século XX não se afigura tão diferente do praticado no século XXI...

 

Sonhos Proibidos é inspirador e empolgante, um dos melhores livros que já li da autora. Fã de Lesley Pearse desde Nunca Me Esqueças e depois de vários livros lidos da autora - Nunca Me Esqueças, Nunca Digas Adeus, De Amor e Sangue, A Melodia do Amor, Segue o Coração e Procuro-te -, o primeiro volume desta saga tornou-se num dos meus livros favoritos. A escrita da autora foge, um pouco, ao registo habitual, usando expressões e termos poucos usuais nos seus livros. No entanto, é uma narrativa que nos cativa e prende. 

 

Belle, enquanto personagem, representa a força e a coragem das mulheres para fugirem ao traçado destino... é impossível esquecer Belle, reencontrando-a em A Promessa, o segundo volume da saga.

 

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Lesley Pearse foi a minha escolha para o projecto 12 Meses, 12 Livros. O objectivo deste desafio é ler um livro subordinado a uma temática particular. O dia internacional da Mulher celebrou-se no dia 9 de Março e, como tal, o livro do mês deveria ser de uma escritora. A escolha não foi ingénua. Lesley Pearse é uma das minhas escritoras favoritas e Sonhos Proibidos, ao abordar a temática da prostituição e tráfico de crianças e mulheres relembra o quanto ainda necessitamos de mudar pela igualdade entre Mulheres e Homens.  

 

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Título Original: Belle, 2011 (vol. 1)
Autora:
Lesley Pearse, Inglaterra
ISBN:
9789892321493
Páginas:
624
Editora:
Asa, 2012
Sinopse:

Londres, 1910.
Belle tem quinze anos e uma vida protegida. Graças aos cuidados da ama, ela nunca se apercebeu de que a casa onde vive é um bordel, regido com mão de ferro pela sua mãe.
Porém, a verdade encontra sempre maneira de se revelar... Para Belle, será no trágico dia em que assiste ao assassinato de uma das raparigas da casa. Ingénua e indefesa, ela fica à mercê do criminoso, que a rapta e leva para Paris, onde se inicia como cortesã.

Afastada do único lar que conheceu, a jovem refugia-se nas memórias de infância e acalenta o sonho de voltar aos braços do seu primeiro amor, Jimmy. 
Mas Belle já não é senhora do seu destino. Prisioneira da sua própria beleza, é alvo do desejo dos homens e da inveja das mulheres. Longe vão os anos da inocência e, quando é levada para a exótica e decadente cidade de Nova Orleães, ela acaba por apreciar o estilo de vida que o Novo Mundo tem para lhe oferecer. Mas o luxo e a voluptuosidade que a rodeiam não mitigam as saudades que sente de casa, e Belle está decidida a tomar as rédeas da sua vida. Um sonho que pode ser-lhe fatal, pois há quem esteja disposto a tudo para não a perder. No seu caminho, como barreiras fatais, erguem-se um continente selvagem e um oceano impiedoso.
Conseguirá o poder da memória dar-lhe forças para sobreviver a uma viagem impossível?

No Dia Internacional da Mulher,

esqueçam os descontos, as florzinhas, os jantares e almoços, as sessões gratuitas no sítio xpto e toda aquela campanha comercial do dia. Proponho um exercício simples: às mulheres para reflectirem no tudo que ainda falta fazer e aos homens, no tanto que ainda nos falta mudar... porque, acredito que a igualdade só se atinge aquando homens e mulheres se unirem. 

 

No dia oito de Março, mulheres e homens relembrem as lutas do passado, num exercício simples de compreender a origem deste dia.

 

No dia oito de Março, mulheres e homens olhem os nomes das mulheres vítimas de violência domésticas. As do passado, reflectindo no presente, no futuro. Até quando iremos permitir que uma mulher, esposa, mãe, irmã ou filha morra às mãos de um homem que diz amá-la? Até quando iremos permitir que um filho ou filha fiquem marcados pela violência de um pai sobre a mãe? Até quando homem julgar-se-á dono da mulher ou acalentará a ideia de que lugar da mulher é na cozinha?

No dia oito de Março, mulheres e homens analisemos as desigualdades salariais, o assédio sexual no local de trabalho, a facilidade em arranjar trabalho quando se é pai de família porque, se é homem, certamente que não faltará ao trabalho para auxiliar um filho ou filha doente ou, tão somente, as dificuldades em alcançar cargos de chefia ou de poder político.

 

No dia oito de Março, mulheres e homens relembremos que nós somos donas do nosso corpo, que ser feminista não é desejar exterminar homens ou deixar crescer os pêlos das pernas e calemos o assédio sexual de rua num piropo disfarçado de elogio.

 

No dia oito de Março, mulheres e homens não esqueçamos que não é menos mulher quem não deseja ter filhos, quem usa um decote ou mini-saia não está a pedir nada nem tão pouco é seja lá o que for e, por fim, esqueçam o estereotipo da mulher perfeita, de cabelo liso, magra e em constantes dietas, sempre maquilhada. 

 

No dia oito de Março, neste dia, mulheres e homens relembrem: somos todos iguais, o que muda é a fisionomia do corpo. Relembremos que falta tanto por mudar, por fazer, por alterar. Neste dia sejamos capazes de esquecer o lado comercial e pensar, lutar, mudar. No dia oito de Março, faltam mil e uma coisas para atingirmos o patamar da igualdade. Somos mulheres em luta, ontem, hoje e amanhã, porque não mudamos em mil e umas coisas. Todos os dias são oito de Março.

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