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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Crónicas de Uma Empregada de Mesa: o tabaco.

- Oh menina, diga-me lá, qual é o tabaco mais fraquinho que vocês vendem? - apontando-me para a máquina do tabaco, justamente no momento em que recolhia os pratos da refeição de duas senhoras. 

- Querer que lhe seja sincera? Não faço ideia. Não fumo.

- Não me diga! Que chatice... Mas devia saber... Devia... Ora pois!

  

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No café onde trabalho como empregada de mesa vendemos um pouco de tudo. Sopas, refeições, cafés, sumos, pães, bolos, gelados. Usando a expressão recorrente do patrão só não vendemos dinheiro. Vendemos, como a grande maioria dos estabelecimentos do género, tabaco disponibilizado em máquinas próprias para esse efeito. O facto de existir uma máquina de venda de tabaco num estabelecimento comercial como cafés, restaurantes ou padarias, não implica obrigatoriedade de os empregados saberem qual a marca mais fraca de tabaco. Para isso existem as tabacarias. Ou talvez não... 

Carta às pessoas que utilizam wc nos cafés.

Pessoas! Queridas pessoas...

 

É importante, antes de mais, referir que quase todos os meus verões, desde a minha adolescência, foram passados a trabalhar em cafés, pastelarias e similares. O presente não é distinto. Portanto sei, por experiência, que isto acontece, não vale a pena negar. Mas deixemos o blablabla e falemos do que realmente importante... e, deixem-me esclarecer, este post não pretende ser simpático.

 

Pessoas! Queridas pessoas que utilizam as casas de banho dos cafés, pastelarias, padarias e similares: por detrás do balcão dos mesmos, ou a servir às mesas, existem pessoas. Exactamente... P-E-S-S-O-A-S, pessoas que fazem daquilo o seu trabalho e fonte de rendimento. Portanto, queridas pessoas, não custa absolutamente nada dar a essas pessoas por detrás do balcão de um qualquer estabelecimento um bom dia!boa tarde! ou boa noite! e colocar a questão dolorosa e que tanto parece atormentar certas pessoas Posso Usar a Vossa Casa de Banho? ou Posso Usar a Casa de Banho?, o wc ou usarem uma qualquer expressão. Agradecer, no final e mesmo que não consumam coisa alguma, também não fica feio mas, nós, empregados, já ficamos felizes quando nos dirigem meia dúzia de palavras de permissão sobre a utilização da casa de banho.

 

Pessoas! Querida pessoas, compreendo que, em férias, a liberdade e os dias de paz se sobrepõem ao stress, que o que mais desejais é gozar o tempo e não se arreliarem mas, não custa nada, absolutamente nada, dirigir meia dúzia de palavras ao funcionário do café para usar o wc. Ele não vos irá comer, acreditem! Pode ter ar disso ou, simplesmente, ar de cansado de horas a fio a aturar pessoas em férias, mais de oito horas de pé e com uma valente dor de pernas...  E, não somos menos do que vós por trabalharmos enquanto gozais. 

 

Porém, confesso, queridas pessoas, o que mais me surpreende, choca e dá vontade de falar e refilar meia dúzia de palavras é àqueles pais, mães ou pessoas mais velhas que, trazendo pequenas crianças, entram café a dentro, usam a casa de banho e saem tão calados como entraram, sem dirigirem qualquer palavra a quem trabalha. É algo que, juro, não consigo compreender. Faz-me espécie, confusão e dá-me vontade de envergonhar as ditas pessoas à frente dos pequenos. Pessoas, os vossos filhos, sobrinhos, netos imitaram o que aprendem de vocês e se suas excelências não se digam a dar um mero boa tarde! antes de usarem uma casa de banho, não se ESPANTEM que as pequenas crianças se tornem mal-educadas. Para mim, um pai, mãe, tio, avó ou seja lá o que for que, trazendo uma criança ao arrasto para usar um wc seja incapaz de deixar escapar meia dúzia de palavras ao empregado do estabelecimento, não passa de um adulto mal-educado. Atrevo-me a declara que sóis maus exemplos para os jovens petizes... e, depois, daqui a um par de anos, vinde reclamar que os jovens são mal-educados que eu conto-vos uma história! Pessoas, deveria existir uma lei que VOS multasse por MÁ-EDUCAÇÃO e maus exemplos... da mesma forma que vocês podem usar o livro de reclamações para falarem mal do serviço ou do empregado.

 

Pessoas! Queridas pessoas, não basta entrar café dentro, ignorar quem lá está e usar o raio da casa de banho... pessoas, caso não tenham percebido, a casa de banho de um café NÃO é pública. Para quem não sabe, vou dar uma novidade: a utilização das casas de banho implica, para o estabelecimento, custos de água, papel e detergentes, e sem contar com o trabalho de limpeza. Sim, é verdade, pessoas! E, por outro lado, o facto de ser um wc de um café também não vos dá o direito de a deixarem imunda... ou em casa fazem o mesmo? Não se admirem porém, se algum dia as casas de banho destes estabelecimento começarem a ser pagas! 

 

E, dizem vocês: ah, fechem a porta da casa de banho às chaves, assim as pessoas falam convosco!. É, sem dúvida, uma boa hipótese porém, queridas pessoas que pressuponho nunca trabalharam num café ou similar, a teoria é boa mas, na prática, não funciona... vi o meu patrão arrombar a porta de um wc porque uma pessoa querida levou as chaves, tive de deixar de fazer o meu serviço para dar a uma mãe e criança chorona as chaves e outras histórias similares. Não funciona. Ponto. Simples. 

 

Acredito, pessoas, que nas grandes cidades, este género de comportamentos funcione bem e passe despercebido à grande maioria, que o stress, a agitação e o tempos curtos não permita reparar que entraram num café e que, azar do caraças, até está ali outra pessoa por detrás do balcão... porém, pessoas, num café pacato na ponta norte do país, numa pequena vila, estás coisas não ficam bem. Ninguém gosta. Fica feio. É mau sinal. Pessoas. Queridas pessoas, nos cafés, pastelarias, padarias e similares, trabalham pessoas e não somos menos do que vocês, embora já o tenha ouvido, que trabalham noutra qualquer área... e, também não somos empregadas ao vosso dispor a cada dois segundos.  

 

Cumprimentos de uma (ex-) funcionária de café,

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Crónicas de Uma Empregada de Mesa: o saloio.

De facto, no Norte ou pelo menos para mim e na zona onde moro, a expressão saloio têm um significado pejorativo. Mas, pessoas, não é preciso ficarem ofendidas quando eu digo que o cacete se chama saloio... compreendo que, lá para Sul, o nome do cacete seja distinto mas, não é caso para me quererem bater. No fundo, sou uma simples empregada de café e padaria, não tenho dotes de adivinhação para saber de que zona chegam ou o nome que atribuem a cada pão ou bolo. Cada terra chama-lhes nomes distintos. Na minha zona, é baguete saloia. 

 

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E, afinal, quem são os saloios?

Crónica de Uma Empregada de Mesa: o gelado.

Ser empregada de mesa, num café, especialmente em época de calor e férias longas, é uma experiência... peculiar, cansativa, diferente e um tanto ou quanto divertida. Identificamos e definimos, facilmente, todo o tipo de clientes mediante conversas e comportamentos para connosco e, assim, temos o cliente simpático, o cliente compreensivo, o cliente brincalhão, o cliente chato, o cliente mal-encarado, o cliente antipático (obviamente, que isto também se aplica à cliente mulher) e por aí em diante... e, claro, jamais poderia faltar o cliente queque e a cliente tiazinha.

 

Uma destas tardes, depois de vender um gelado magnun sandwich, a cliente regressa, visivelmente chateada e com o gelado mal comido, dirige-se a mim e diz-me (uma vez que foi comigo que fez a compra):

 

- Oh menina, pode-me trocar o gelado? É que este têm um sabor estranho, sabe tão mal!

- Ah?! Como assim?
- Eu ainda ontem comi um igual a este noutro café e não me sabia mal... este sabe a peixe! É. Sabe a peixe. Vocês guardam peixe nesta arca?!
- Não. Esta é a arca dos gelados. O peixe fica noutro lado.

- Oh menina, mas este sabe a peixe. Olhe, feche-o novamente, guarde-o na arca e mostre-o ao vendedor de gelados. 

 

A política de boa educação para cafés e afins diz que o cliente têm sempre razão (política à qual, de todo, não concordo) e, portanto, a solução passou por trocar o gelado à dita senhora, que feliz devorou um cornetto de morango. 

 

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Quanto ao gelado, esse, estava longe de saber a peixe...