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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Oh menina, trabalha aqui?

O meu actual trabalho permite-me nunca estar no mesmo sítio. Os dias são, todos eles, completamente distintos, quer em função quer em localidade, assim como no esforço intelectual necessário. Costumo dizer que o automóvel é o meu local de trabalho, visto que todos os dias são muitos os quilómetros que faço. Não sou comercial mas é algo do género. Portanto, sendo um trabalho que constantemente varia, volta e meia deparo-me com situações caricatas que me levam a pensar no tempo em que trabalhei como operadora de loja em hipermercado.

 

Diversas vezes, por semana, visito grandes superfícies comerciais, medindo lineares e retirando referências aos produtos, com auxilio de uma máquina própria. Faço-o com a minha roupa normal - umas calças de ganga ou pano, uma blusa básica e um casaco leve primaveril -, sempre (ou quase sempre) com um cartão de visitante ou fornecedor. Todavia, e vai-se lá compreender o porquê, existe sempre alguma alma que, por me ver com aquela máquina, acha que trabalho na loja e me pergunta se existe o produto x ou onde encontra o produto y. Julgam, provavelmente, que sou alguma chefe na loja. A história repete-se quer seja no Jumbo, Continente, Pingo Doce, E-Leclerc ou Intermaché e mais umas quantas grandes superfícies comerciais. E, se é verdade que existem algumas cadeias comerciais cujo fardamento dos funcionários deixa um bocadinho em dúvida, existem outras em que ele é claro e se distingue das roupas do dia-a-dia.

 

Trabalhei, até Fevereiro deste ano, num grande hipermercado e, mesmo usando o vestuário da empresa - da cabeça aos pés -, com a sigla da empresa visível, existia sempre alguma alminha que me perguntava "Oh menina, trabalha aqui?". Numa ou noutra ocasião chegava a responder que "Se não trabalhasse aqui certamente que não me via assim vestida". 

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Mudei de trabalho mas as histórias cruzam-se e repetem-se. Não sei se sou eu que, com o meu casaquinho florido e roupas básicas, dou a entender que ali trabalho ou se as pessoas simplesmente não querem ter o trabalho de procurar os produtos nos mais diversos corredores...

Mudar de vida...

...o momento é o agora.

 

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Uma das minhas três resoluções para o ano de dois mil e dezoito era o de mudar de vida a nível profissional. Estabeleci, inclusive, uma meta: antes do verão queria mudar a minha vida, seguir um novo caminho, abraçar um desafio profissional mais estimulante. O principal objectivo era, e ainda continua a ser, encontrar um emprego na minha área de formação ou numa vertente próxima. Não consegui mas estou um bocadinho mais próxima. Mudei a minha carreira profissional. Deixei de trabalhar como operadora de loja, entre folgas e horários rotativos, a repor bens alimentar para abraçar um novo caminho onde o automóvel é a minha principal ferramenta de trabalho. Os dias da semana nunca são iguais, diferentes em paisagem, pessoas, lojas, tempos e viagens. Nunca estou no mesmo sítio. Não existe um escritório. Não sou comercial mas é quase como se fosse. Os fins-de-semana ganharam outro sabor, num horário de segunda a sexta, sem ter necessidade de esperar seis semanas para os gozar. 

 

Fui operadora de loja como repositora de bens alimentares durante dois anos. Estava confortável, integrada no quadro da empresa mas, sabia-o desde sempre, que não era aquilo que queria fazer. Podia ter-me deixado ficar, no conforto de um trabalho rotineiro e no qual eu tão bem desenvolvia, mas queria desafiar-me e evoluir. Gostava do que fazia mas queria algo que me obrigasse a trabalhar o lado cerebral e menos o físico. O momento era o agora.

 

É ainda cedo para descrever o que sinto em relação ao novo trabalho. Desafia-me diariamente, embora solitário, sinto que preciso de trabalhar para lá do meu horário de nove-dezoito-horas. Não é na minha área de formação mas, quem sabe, um caminho para lá chegar? Uma oportunidade surgida inesperadamente... porque a mudança surge quando menos esperamos.

 

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Uma e principal resolução de ano novo era mudar de vida profissional e, decididamente, consegui. Estou a tentar tornar-me mais poupada, a minha segunda resolução e, a última, perder peso é algo que ainda preciso de começar a definir e a mexer-me.

Setes frases que escuto por trabalhar em hipermercado...

Atendimento ao público, nomeadamente num hipermercado, não é nem jamais será fácil. Existe uma panóplia curiosa de clientes que, mais ou menos fácil de aturar, pintam os dias de quem trabalha nestes estabelecimentos de distintos sentimentos. Variamos entre a vontade de incontrolável de nos rir-mos ou, frequentemente, em sentimentos de raiva que por vezes julgamos adormecidos. A verdade é que só quem um dia trabalhou com atendimento ao público, mais concretamente em hipermercado, compreende as palavras a que hoje me dedico. Um texto que sempre quis escrever, sobre as frases que escuto - ou o relato de situações que os meus colegas de trabalho viveram - com regularidade no meu ambiente de trabalho, enquanto operadora de loja. 

 

- Menina, trabalha aqui? - ou como um cliente consegue ser parvo:

Pergunto-me se a minha indumentária, com logótipo do hipermercado não será suficientemente claro para demonstrar que ali trabalho... curioso é quando a abordagem acontece quando me encontro a repor algum produto alimentar ou a tentar sobreviver/manobrar ao transporte de uma palete assassina (aquelas pesadonas em que é preciso comer um animal para a parar). Esta é, definitivamente, a pergunta que desperta uma dualidade de sentimentos em quem trabalha em hipermercado... 

 

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- Oh menina, estas bolachas são de graça? - tentativa de ser engraçado por parte de um cliente:

Não, na verdade, as bolachas não são de graça mas, tal como qualquer pessoa, provavelmente o colega esqueceu de colocar o preço correspondente. É, garantidamente com 100% de certezas, um esquecimento e não uma forma simulada de enganar os clientes. E, acrescento, o mesmo acontece quando o nome do produto não corresponde ao escrito na etiqueta. Já imaginaram colocar milhares de novos preços, numa mudança de folheto, e não deixar escapar um?! É, impossível...

 

- Olhe, não terá mesmo mais desta manteiga lá no armazém? - o cliente que duvida sempre de tudo:

Vou dar o braço a torcer: em 50% dos casos sim, até existe a dita manteiga. Na outra metade, a etiqueta que indica a falta temporária daquele artigo não está lá por mero acaso... é porque de facto não existe. Se, por vezes, a falha é do colaborador na hora de colocar o artigo, o mesmo não se pode afirmar quando o artigo falha por estar em promoção... porque a falha pode ser do sistema ou inexistência do produto por parte do entreposto ou fornecedor. 

 

- O papel higiénico é onde? - ou o cliente que se não quer ler:

A maioria dos hipermercados indica o que cada corredor possui e basta, para tal, olhar para cima ou cuscar. É simples e, a verdade é que, se repararem bem, seja Continente, Pingo Doce ou Intermaché, a disposição das lojas não altera muito. Ah e não vale a pena usarem a desculpa que, como já escutei, é verídica e passou-se com uma colega minha: "- Não venho às compras para ler etiquetas ou placas." Suponho que, assim sendo, também não lê o que anda a comprar.


- Menina, onde está o corredor das bolachas? E o champô? - ou o cliente que deseja que sejamos nós a fazer as compras:

Cliente distinto do anterior, é aquele ser chato que mais um bocadinho e nos entrega a lista de compras e nos pede que coloquemos os produtos no carrinho... depois de saber onde ficam as bolachas, quer saber onde está o champô, o vinho, o pão, o queijo, o salmão e o frango embalado.

 

- A menina trabalha aqui e deveria saber! - ou, o cliente que acredita que deveríamos experimentar todas as manteigas da loja e trabalharmos a rebolar:
Certa vez, nos primeiros meses como operadora de loja, tive um cliente que me questionou se a manteiga A seria melhor que a manteiga B, porque a primeira era mais cara do que a segunda, logo seria melhor. Eu respondi-lhe com honestidade e inocência, de que não sabia mas seguindo a lógica dele, talvez tivesse razão. A resposta do senhor foi algo entre o espanto, o choque, a confusão e a revolta: "Como não sabe? Você trabalha aqui e deveria saber qual a melhor manteiga." - Por meu turno, respondi com um mero: "Eu nem sequer posso comer manteiga!". 

 

- Olhe, amanhã trabalham? - a pergunta mais revoltante na quadra natalícia do cliente idiota:

Uma colega minha, a quem lhe perguntaram se a loja abria no dia de Natal, limitou-se a responder um "Sim, depois das duas da tarde." Sobre este género de cliente, pouco existe a acrescentar. É o mesmo que acha que o hipermercado deveria estar aberto vinte e quatro sob vinte e quatro horas, porque quem lá trabalha ganha imenso e não possui família ou vida social...

 

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Hoje em dia, com dois anos a trabalhar como operadora de loja, sei contornar ou ultrapassar comentários negativos ou rabugentas de alguns destes clientes... e, certamente, outras frases e tipos de clientes ficaram de fora. Porém, talvez o que mais me custe e revolte perceber é que, para muitos dos clientes de hipermercado, quem ali trabalha é como que considerado um falhado, uma pessoa sem qualquer formação educacional, que não merece escutar um simples "- Boa tarde!" ou "- Obrigado!". São, tristemente, cada vez mais frequentes situações de desprezo para com quem trabalha em hipermercado, como se não tivéssemos direito a nada quando, na verdade, muitos de nós possuímos habilitações de nível superior... e, mesmo que assim não fosse, palavras de boa educação ficam sempre bem em qualquer pessoa.

 

Eu, como detentora de licenciatura e mestrado, não me considero uma falha nem tão pouco me acomodei a um emprego que no qual não sou totalmente feliz mas, antes pelo contrário, persisto na minha busca... mas isto é tema para outro texto. 

Línguas estrangeiras.

As línguas nunca foram o meu forte. Nunca fui uma aluna exemplar com o inglês, era terrivelmente péssima, e nem o francês, língua pela qual sempre senti forte atracção, consegui mais do que uns meros suficientes (o chamado revés). A única língua na qual me destaquei, obviamente para lá do português, foi o espanhol. Teoricamente, seria a minha língua oficial, uma vez que nasci num país onde se fala espanhol mas, na prática, vivendo em Portugal desde os meus cinco anos de idade (tenho vinte e nove), a verdade é que o meu espanhol é mais o chamado portunhol, aquela mistura de português com espanhol, do que um espanhol fluente ou sem sotaque ou pronúncia. De resto, embora goste da língua italiana mas sem qualquer conhecimento para além do básico, como bambino ou ragazza, tenho um grande défice com as línguas. 

 

Este ano, por me ter candidatado a uma oferta de emprego onde o espanhol é requisito essencial, decidi investir nestas lacunas linguísticas. Preciso, claramente, de lutar contra estas falhas que talvez tenham influenciado negativamente ofertas de emprego a que me candidatei.

 

A primeira aposta é notoriamente com o espanhol. Eu entendo e compreendo muito bem a língua mas, na hora de falar, é mais do género "desenrasco-me"... o mesmo se aplica à escrita. Quando enviei o meu currículo a candidatar-me à vaga de emprego, fiz-o em espanhol recorrendo frequentemente ao "amigo google". Aproveitando o facto de morar próximo da fronteira com Espanha, decidi dar um saltinho até lá e adquirir dois livros na língua de "nuestros hermanos". Sim, a minha estratégia para aperfeiçoar o espanhol é ler mais na língua de Cervantes, ouvir músicas e assistir a séries cuja tradução esteja, escrita ou oral, em espanhol. E, claro, sempre que me for possível, quer no meu actual trabalho - como operadora de loja -, quer em casa - os meus pais ainda falam muito bem a língua -, tentar falar o máximo de espanhol. Acredito que estás opções me ajudaram a melhorar na primeira língua que aprendi. Afinal, as primeiras palavras que proferi, escrevi ou o primeiro livro que li foi em língua espanhola. O meu problema é, contudo, a escrita: não sei como treinar a escrita... o que me sugerem?

 

Quanto à língua inglesa, por agora, fica em stand-by... na verdade, qualquer outra língua. O meu foco é mudar de emprego e conseguir a vaga a que me candidatei em língua espanhol. Infelizmente, o facto de trabalhar por turnos rotativos, fins-de-semana incluídos, não ajudam a que consiga conciliar um curso com o trabalho. Provavelmente teria de optar por aulas particulares o que, de momento e por motivos financeiros, está totalmente fora de questão. No entanto e caso consiga realmente a vaga, será no inglês que investirei... porque quase todos os empregos pedem alguém que saiba relativamente bem inglês. O horário, sendo fixo, permite-me conciliar com um curso ou formações nocturnas. E, claro, à medida que conhecesse a língua de Shakespeare, aventurar-me nos livros. 

 

As minhas próximas leituras são, portanto, em língua espanhola...

 

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Albert Espinosa é a leitura de cabeceira e David Saflier a próxima leitura.