3 | A Grande Solidão de Kristin Hannah.
Quando a escritora portuguesa Helena Magalhães anunciou, no seu instagram, o lançamento pela Editora Bertrand de um livro de Kristin Hannah não resisti à tentação de o adquirir. A escritora americana não me é uma total desconhecida: os dois livros que já li dela, Estrada da Noite e O Rouxinol, são dos meus favoritos da vida. Estrada da Noite, que reli por duas vezes, levou-me sempre às lágrimas, tal como O Rouxinol. Tenho, na estante e em lista de espera, mais dois desta autora: Entre Irmãs e A Hora Mágica. Portanto, eu já esperava um livro e uma escrita arrebatadoras, capazes de me levar às lágrimas... Confesso que, numa fase inicial, talvez porque o lê-se aos bocadinhos, talvez porque não estivesse totalmente preparada para o ler, A Grande Solidão não me cativou nas primeiras cem a cento e cinquenta páginas.
A imensidão e magnitude do Alasca como cenário de fundo, A Grande Solidão de Kristin Hannah, relata-nos o percurso de vida de Leni, uma jovem de treze anos, que chega àquelas terras selvagens com a família em 1974. Ernest, o pai de Leni, é um homem destroçado e marcado pela Guerra do Vietname que procura, com a família, viver fora do sistema. Incapaz de manter um emprego e de sustentar a família, decide encontrar na vida selvagem do Alasca uma nova oportunidade de recomeçar. Cora, a esposa de Ernest e mãe de Leni, está disposta a tudo pelo homem que ama e assim deixa-se arrastar para uma vida desconhecida. Inicialmente, a família Allbright parece adaptar-se ao Alasca e ao seu lado selvagem e sem sistema, numa comunidade de homens e mulheres fortes, onde a entreajuda e a troca são o modo de pagamento. Porém, a chegada dos dias longos e frios de Inverno, revelam as fragilidades da família: o estado mental de Ernest agrava-se, revelando a Leni segredos que Cora procurava esconder... mãe e filha rapidamente compreendem que, para lá da vida selvagem externa, é com as ameaças internas que precisam de se preocupar e lutar. Uma terrivel verdade que mudará as vidas de Leni e Cora.
Kristin Hannah aborda, com mestria e talento, a fragilidade mental, a resiliência e a violência doméstica. Um livro que é um verdadeiro murro no estômago e uma lição de vida. Cora é o exemplo de milhares de mulheres vitimas de violência doméstica que acredita no poder do amor; com ela, compreendemos alguns dos motivos que levam a que muitas mulheres se "acomodem". Os traumas de guerra e a falta de acompanhamento mental, moldam a personalidade de Ernest, transformando-o num homem fechado, instável, resistente à mudança e violento. A filha do casal, Leni, revela-se uma jovem lutadora, embora o cenário de violência doméstica a tornem insegura, sempre com medo de desagradar ou de contrariar o pai. Leni é o exemplo do que relações toxicas como as tão bem descritas por Kristin Hannah podem significar e marcar uma criança. Revi-me nesta história, na personagem da Cora e nos medos de Leni. No passado vivi uma relação tóxica, marcada maioritariamente pela violência psicológica e senti que, se não tivesse detectado os sinais, que só compreendi muito depois da primeira tentativa de violência física, poderia ser como Cora.
No goodreads atribuí a este livro quatro estrelas. Não me perguntem onde estava com a cabeça quando fiz. A Grande Solidão é um grande cinco estrelas. Não me roubou lágrimas mas é mais um dos meus livros favoritos do ano de dois mil e dezanove e da vida. Kristin nunca desilude!
Ele ensinou-lhe uma coisa nova sobre a amizade: retomava no sítio onde a haviam deixado, como se não tivessem estado separados.
Conseguia compreender o medo e a vergonha. O medo fazia-nos fugir e a vergonha fazia-nos ficar quietos, mas aquela raiva pedia outra coisa: Libertação.
O amor não esmorece nem morre, fofinha.
Avaliação (de zero a cinco): 5*
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1974, Alasca. Indómito. Imprevisível. E para uma família em crise, a prova definitiva. Ernt Allbright regressa da Guerra do Vietname transformado num homem diferente e vulnerável. Incapaz de manter um emprego, toma uma decisão impulsiva: toda a família deverá encetar uma nova vida no selvagem Alasca, a última fronteira, onde viverão fora do sistema. Com apenas 13 anos, a filha Leni é apanhada na apaixonada e tumultuosa relação dos pais, mas tem esperança de que uma nova terra proporcione um futuro melhor à sua família. Está ansiosa por encontrar o seu lugar no mundo. A mãe, Cora, está disposta a tudo pelo homem que ama, mesmo que isso signifique segui-lo numa aventura no desconhecido. Inicialmente, o Alasca parece ser uma boa opção. Num recanto selvagem e remoto, encontram uma comunidade autónoma, constituída por homens fortes e mulheres ainda mais fortes. Os longos dias de verão e a generosidade dos habitantes locais compensam a inexperiência e os recursos cada vez mais limitados dos Allbright.
À medida que o inverno se aproxima e que a escuridão cai sobre o Alasca, o frágil estado mental de Ernt deteriora-se e a família começa a quebrar. Os perigos exteriores rapidamente se desvanecem quando comparados com as ameaças internas. Na sua pequena cabana, coberta de neve, Leni e a mãe aprendem uma verdade terrível: estão sozinhas. Na natureza, não há ninguém que as possa salvar, a não ser elas mesmas. Neste retrato inesquecível da fragilidade e da resiliência humana, Kristin Hannah revela o carácter indomável do moderno pioneiro americano e o espírito de um Alasca que se dissipa - um lugar de beleza e perigo incomparáveis. A Grande Solidão é uma história ousada e magnífica sobre o amor e a perda, a luta pela sobrevivência e a rudeza que existe tanto no homem como na natureza.