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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

O Carro do Amor x First Dates.

O meu namorado, o M., começou a ver Casados à Primeira Vista muito por minha culpa. Inicialmente, o programa passou-me completamente ao lado mas, com o tempo e a projecção que o mesmo tomou, acabei por me render a ele e comecei a acompanhar as emissões dos diários d' Casados à Primeira Vista. Não assisti à relação bombástica entre Lídia e Francisco e apanhei as últimas semanas do casamento entre Sónia e João e frases machistas do senhor Conde. O certo é que, se inicialmente, tanto ele como eu que não tínhamos qualquer interesse no programa, deixávamo-nos viciar e reservávamos os domingos à noite para acompanharmos os casais e conhecermos os conselhos matrimoniais. 

 

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(imagem: MAGG)

 

No fim-de-semana passado decidimos roubar tempo à nossa noite para vermos as gravações de O Carro do Amor, da SIC, e First Dates, da TVI. Eu não tinha visto nenhum deles, durante a semana, e ele desde que estreou, acompanha o primeiro. Pessoalmente, nem um nem outro me agradaram. Ficamos fã d' Casados à Primeira Vista e achamos que estes dois são um bocadinho, assim que, para o parvo. Ele, apesar de tudo, prefere ver isto do que o já repetitivo Preço Certo, da RTP. O primeiro parece ser o mais engraçado dos dois, o segundo é curto e parece não incentivar ao conhecimento - é mais decotes e atracção sexual que se salienta. Confesso que, embora eu jamais conseguisse participar em qualquer um destes programas, se participasse no Carro do Amor, não poderia ser a condutora do automóvel: não gosto de conduzir com estranhos, focando a minha atenção na condução e menos em conversar e, com os nervos, provavelmente acabaria por ter um acidente. 

 

Os canais de televisão encontraram um novo chamariz de audiências: o amor. Infelizmente, o verdadeiro e puro amor jamais poderá ser encontrado no meio de câmaras televisivas e números de audiência. A agitação dos nossos dia-a-dia, as exigências que muitos de nós colocam no parceiro, a proliferação das redes sociais que parecem convidar à solidão, levam a uma cada vez maior banalização do amor... com uma semana de namoro, a palavra "Amo-te" torna-se insignificante. O amor é muito mais do que assistimos em Casados. Os primeiros passos na construção de uma relação de amizade e amor são muito mais elaboradas do que os jogos do carro. A vida real é cheia de complexidades, altos e baixos, que os programas televisivos jamais conseguirão captar. Não sei quantos mais programas do género nascerão sob a premissa do amor mas parece que veio para ficar... e creio que a sociedade não fica mais rica por isso.

Futuro.

A minha curiosidade sobre o futuro não é de agora. Quando era menina, procurava imaginar como seria a minha vida enquanto adulta: idealizava uma profissão e uma vida pessoal que, no presente, nada é igual àquela que imaginava em menina. Queria ser professora de História e usava as minhas poucas bonecas e peluches para me vestir no papel de professora. Imaginava que, quando fosse adulta e antes de completar os trinta, já teria casado com um homem bonito e teria duas belas crianças, uma vida encantadora e maravilhosa, numa casa gigante. Porém, o futuro que idealizei em menina é hoje o presente dos trinta e nele não existe qualquer formação na área da História, embora não lhe esteja longe, não sou nem serei professora, não casei e não tenho filhos... bom, nem tudo é mau, tenho um homem bonito, inteligente, simpático e a melhor pessoa que já conheci. 

A curiosidade sobre o futuro não é de agora. Quando frequentei a faculdade, embora séptica e muito reticente em relação à ideia, consultei duas tarólogas ou mulheres que lêem as cartas e dizem conhecer o futuro. Fui a conselho de uma amiga de faculdade e, não será difícil para as ditas pessoas que lêem o futuro, compreender os receios e sonhos de uma estudante universitária. Queria saber como seria o meu futuro profissional, se conseguiria trabalhar na área, queria saber sobre amores e sobre saúde, queria saber se o futuro me reservava coisas boas. A verdade é que, talvez por uma série de conjugações e fruto das minhas próprias escolhas, pouco do que ela previu se concretizou... a minha amiga, porém, diz que lhe adivinhou quase tudo ou, no fundo, talvez ela fosse mais crente nisso do que eu. 

 

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Confesso que sempre quis saber sobre o meu futuro... porque tenho medo dele. Assusta-me saber que qualquer escolha que faça pode ser a mais errada e irremediável e não conseguir antever o mesmo deixa-me com medo e num estado de ansiedade nem sempre fácil de controlar. Saber, no entanto, que um dia os meus sonhos se concretizaram, mesmo que por intermédio de coisas que não se explicam, leva-me a sonhar. E, no entanto, também o receio com medo de o alterar nas escolhas presentes que tenho de tomar. Sou constantemente bombardeada pelos "e se's" do passado aos quais não consigo responder e sinto-me presa à necessidade de, por fim, alcançar os meus objectivos. O futuro assusta-me e saber que cada decisão se traduz numa consequência à qual eu não consigo prever ou mudar, deixa-me ainda mais assustada e ansiosa. Sempre quis saber sobre o meu futuro e, no entanto, não o quero porque tenho medo dele, de nada ser como eu quero ou simplesmente o alterar... a vida, resumindo, deveria trazer manual de instruções e pistas que nos ajudassem a compreender se são as escolhas mais acertadas para atingir determinados sonhos.

Coisas nossas...

O amor é... quando ele te seca o cabelo porque tu, por preguiça, não tens vontade de o secar completamente. 

O M. lê...

Quando conheci o M., o meu namorado, à quase dois anos, ele não era dado à leitura. As leituras dele resumiam-se aos jornais, seja o desportivo ou generalista, e aos artigos específicos da sua área de trabalho. Não tinha o hábito de ler porque, como ele me confidenciou, não sabia muito bem o que ler.

 

Invejava, no entanto, o meu amor pela leitura. Impressionou-se com a recheada estante de livros que já tinha lido e com a pilha de leituras que parecia - e parece - nunca terminar. Comigo, onde quer que vá, anda na minha mala ou no banco do meu carro, um livro. Admirava-se que, sempre que esperava por ele, quase sempre fizesse agarrada a um livro. Cedo compreendeu que os livros eram como um amante... teria de aprender a lidar com uma mulher que adora ler. 

 

Um dia, porém, o M. confidenciou-me que gostava de ler mais, gostava de me acompanhar nas leituras, e pediu-me que o ajudasse. Perguntei-lhe sobre géneros literários com os quais se identificasse. Queria, para começar nesta coisa das leituras, uma leitura leve e agradável, que não puxasse muito por ele. Maldito Karma (de David Safier) foi uma das minhas sugestões, por já o ter lido e ainda ter o livro na estante, que o levou a desejar embarcar em novas aventuras literárias. Seguiram-se livros como Uma Praça em Antuérpia (de Luize Valente), A Sombra do Vento (de Carlos Ruiz Zafón) ou O Cônsul Desobediente (de Sónia Louro) e, cedo identificamos o género literário do meu M.: os livros onde a História seja escrita sem ornamentos ou romances, onde a Sociedade seja analisada e compreendida. O M., contrariamente a mim que prefiro o romance histórico, devora aqueles livros pesados de História, Política ou Sociedade e, tal como eu, detesta livros de terror. Vai lendo, volta e meia, outros géneros mas regressa sempre às suas paixões. 

 

O M. lê sempre que pode. Desliga a TV quando nada lhe agrada e lê. Porque trabalho aos fins-de-semana, lê enquanto estou a trabalhar, no café da terra. O livro não o acompanha sempre mas tira umas horas da semana para ler. Não lê todos os dias mas vai lendo. O M. descobriu o seu género literário. Não fui eu quem o incentivou a ler, foi ele quem quis compreender, com esforço, a minha paixão e acabou por ficar rendido. 

 

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O M. lê e qualquer um pode abrir um livro... basta querer. O M. lê e qualquer pessoa que não possua o hábito da leitura pode descobrir o género literário que mais lhe agrade.... basta querer. O M. lê e qualquer pessoa pode dedicar alguns minutos do seu dia à magia da leitura... basta querer. O M. guarda os livros que comprou e já leu, porque muitos outros sairam da minha estante, numa caixa de sapatos e qualquer um pode transformar uma, ou várias, caixa de sapatos numa espécie de estante privada.