14 | Na minha estante... E As Montanhas Ecoaram.
E As Montanhas Ecoaram, mil novecentos e cinquenta e dois. Numa pequena aldeia no Afeganistão, Saboor é um pai que um dia se vê a braços com uma das mais duras decisões da sua vida: vender a filha mais nova, com três anos, Pari, a um casal abastado de Cabul. Para continuar a sustentar a restante família, Saboor empreende a mais dura das viagens na companhia dos dois filhos, Pari e Abdullah, o irmão que sempre tomou conta da menina desde a morte da mãe de ambos. A viagem e consequente separação dará lugar a um permanente vazio na vida de Pari e Abdullah.
Khaled Hosseini convida-nos a viajar no tempo e a reflectir nas consequências das escolhas que, em algum momento, somos obrigados a fazer. Pari, toma para si o papel principal nesta viagem familiar uma vez que, sendo tão nova, as lembranças das origens e de Abdullah são substituída por um permanente vazio, para o qual não encontra respostas. Todavia, o autor não se limitou a escrever sobre o destino dos irmãos Pari e Abdullah. Criando histórias paralelas de quem com eles, de alguma maneira privou, Hosseini pinta-nos um mosaico de sentimentos: dos afegãos que partiram, de afegãos que ficaram e de daqueles que, não tendo nascido afegãos, procura mudar a realidade e o destino de país tão fatalmente marcado. E, foi tão fácil identificar-me com os sentimentos das personagens no que toca ao país de nascimento/país onde vivem...
Numa escrita fluida, dinâmica, criativa e clara, E As Montanhas Ecoaram, leva-nos a construir imagens vivas dos cenários imaginados de Khaled Hosseini. Porém, depois de Mil Sóis Resplandecentes e O Menino de Cabul (opnião: aqui), E As Montanha Ecoaram, deixou-me um pouco desiludida. A verdade é que, embora tenha ficado impressionada e seja um aspecto positivo do texto, as histórias secundárias nascidas da mente de Hosseini deixam perder um pouco da história dos irmãos, especialmente de Abdullah, tornando a leitura um pouco cansativa... demoramos vários capítulos até nos reencontramos com os irmãos porque, pelo meio, saltamos de histórias secundárias em histórias secundárias, da narrativa presente à narrativa passada. Embora um pouco aborrecida, rendi-me a Pari, Abdullah e restantes personagens... até porque, não existe uma personagem boa ou má, um herói ou vilão, todos são somas de resultados.
Khaled Hosseini, com este livro, consagrou um lugar especial no meu coração, enquanto escritor, tornando-se um dos meus favoritos. Não só me levou a conhecer mais sobre o Afeganistão, a sua história e gentes, como a reformular a ideia que tinha daquele país e a viajar numa realidade tão distinta. É, de facto, um excelente escritor e aguardo ansiosamente por um próximo livro.
É uma coisa engraçada, Markos, mas as pessoas geralmente interpretam isso ao contrário. Pensam que vivem de acordo com aquilo que querem. Mas, na realidade, o que as guia é aquilo de que têm medo. Aquilo que não querem.
Khaled Hosseini
Nasceu em 1965 em Cabul, no Afeganistão. A sua família encontrava-se em Paris quando em 1980 se deu a invasão soviética, tendo pedido asilo político aos EUA, onde o autor vive atualmente. Formado em Biologia e Medicina, publicou em 2003 o seu primeiro livro, O Menino de Cabul, que rapidamente se tornou um enorme sucesso a nível internacional. Em 2006, Hosseini foi nomeado Embaixador da Boa Vontade do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Em 2007 lançou Mil Sóis Resplandecentes, que a Presença publicou na coleção «Grandes Narrativas». O seu mais recente romance, E as Montanhas Ecoaram, foi vendido para 42 países.
E As Montanhas Ecoaram venceu, em 2013, o prémio Goodreads Choice Awards na categoria de melhor ficção.
(mais informações sobre o livro e autor em Editorial Presença)
(frases em Dos Meus Livros)