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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Sobre religião.

Sou baptizada. Frequentei os dez anos de catequese e, nesse percurso, participei em todas as actividades religiosas. Fui convidada para ser catequista, após os dez anos e quase aceitei. Quase. Acreditava que a religião católica era a mais verdadeira. Tinha 16 anos quando comecei a colocar tudo aquilo que ouvi durante anos em causa... porém, só anos depois, é que tive coragem de demonstrar a minha opinião.  

Por aqui, onde vivo, ser-se diferente é sinal de anormalidade. Onde vivo, demonstrar opiniões distantes à do geral é sinónimo de ter a mania que se é doutor. Onde vivo, todos devemos ser ovelhas e seguir o seu pastor, sem questionar... sobretudo, devemos engolir a opinião e manter a aparência. 

Portanto, quando à uns dias, numa conversa referi que se dependesse exclusivamente de mim, não iria baptizar um filho meu, caiu o carmo e a trindade. Quem ouviu ficou em choque, olhando-me como se eu tivesse dito que possuía uma doença altamente contagiosa. Passado o choque inicial da minha afirmação, uma senhora contra-argumenta e, de modo resumido, que se és católica o normal é que os teus futuros filhos também o sejam, portanto, tens de os baptizar.

Provavelmente, no passado, nem sequer tinha demonstrado a minha opinião depois da argumentação de uma senhora mais velha, mas não me contive e respondi-lhe:

Primeiro, podia-me chamar o que quisesse - católica, muçulmana, budista, etc. - mas que, para mim, a minha religião não tinha nome... ou melhor, sou agnóstica.

Segundo, acredito num Deus, sim. Mas não no nome ou forma que cada religião lhe dá. Acredito que, na vida, nada acontece por mero acaso e que tudo tem um propósito. É nisso que acredito, não no Alá, Jesus ou Buda.

Terceiro, o facto de ter frequentado actividades religiosas não faz de mim uma pessoa com mais ou menos fé. Não é por ir à missa todos os domingos que seja-quem-estiver-lá-em-cima me vai dar uma vida melhor ou vai ouvir todas as minhas rezas. A fé não se mede. Provavelmente tenho mais fé do que a senhora... (e, acreditem que ficou bastante ofendida e magoada com as minhas palavras sobre a sua fé)

Além disso, porque tenho que renegar as restantes religiões? Segundo ela, porque não estão correctas e são todos uns terroristas... retribuí-lhe com um tenho amigos muçulmanos e ainda não morri... aliás, são pessoas extremamente simpáticas e amigas. (sobre isto, apenas se limitou a olhar-me com desprezo)

Por fim, quem sou eu para impingir uma religião a um filho? Impingir não é educar e, embora tenha noção que às vezes seja necessário, no que toca à religião e exclusivamente dependendo de mim, não o será. Não vou obrigar a seguir uma religião, ponto. Porque é a ele quem cabe decidir no que quer acreditar... no Buda, no Alá, no Jesus, em ninguém ou em algum Deus que não sabemos nome ou forma. 

Terminada a minha explicação, a senhora em causa apenas me responde:

 

E se, imaginado, o teu filho morrer ainda pequeno, sabes que nenhum padre lhe vai realizar o funeral porque ele não foi baptizado, não sabes? É que, sabes, Deus às vezes, também é mauzinho com quem não acredita.

 

Naquele momento, o meu único pensamento foi a de a mandar a um determinado sítio (ela podia ficar magoada, mas eu não porque só me estava a avisar). Limitei-me a responder que esperava que esse dia nunca chegasse e que o Deus em que eu acredito não é uma pessoa vingativa nem mazinha com quem não acredita (imaginem a cara da senhora). Ainda tentou saber a minha opinião sobre o casamento mas não foi a tempo... limitei-me a responder que a minha forma de encarar a religião poderia não ser a mais correcta mas não a tentava impor, aceito e respeito qualquer religião (mesmo que não concorde). E, segui a minha vida deixeando-a falar mais umas quantas parvoíces.

Onde vivo, o hábito é antigo: achar que só eles sabem e são senhores da razão. Depois dessa conversa, para a senhora sou vista como alguém que não sabe o que quer da vida, uma perdida, cujo Deus castigou com o desemprego e que há-de ver solteirona... alguém com a mania da superioridade, a quem a universidade fez mal.

 

Como certa vez li algures, 

muitos dos males dos mundos devem-se, em parte, às religiões

e, não consigo discordar.

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