*Sobre (a excitação em torno de) As Cinquenta Sombras de Grey.
Talvez seja problema que, sei lá, sou um tanto ou quanto exagerada ou, quiçá, seja um bocadinho anormal mas, sinceramente, não entendo o alarido em torno da adaptação cinematográfica de As Cinquenta Sombras de Grey. Sim, leram bem: eu, M*, não entendo o entusiasmos mundial e excitação feminina para com os livros e futuros filmes de E. L. James...
Bom, vamos por partes...
Eu li os livros. Ou melhor, eu li o primeiro livro e metade do segundo. Li pelo mesmo motivo que quase todas leram: curiosidade. Confesso: do primeiro gostei. Parecia uma espécie de história à Cinderela (talvez não seja a escolha mais acertada, mas não me lembro de outra história) dos tempos modernos. E, admito (se a memória não me falha), gostei dos gestos românticos e dos sentimentos de preocupação e conquista de Christian Grey. Do segundo livro, o mesmo já não posso dizer. Consegui, a muito custo, chegar a meio do livro. Não gosto de deixar livros por ler mas, foi-me impossível terminar a leitura: quando tenho necessidade de saltar partes, o interesse e entusiasmo pelo livro acaba por morrer. Sim, leram bem... na ânsia de tentar ler o livro até ao fim, saltei as partes de sexo que, embora diferentes, tornam-se sempre o mesmo. E, bah, eu não sou nenhuma santa, gosto de sexo e tenho as minhas fantasias sexuais, algumas retratadas no livro mas, sei lá, aquilo era exagerado... a cada duas páginas (e, mais uma vez, se a memória não me falha) uma nova cena de sexo... irra! Quanto ao terceiro livro, nem quis saber... contentei-me com o relato entusiasmado das minhas amigas e colegas, suspirando por Grey.
Segunda parte: a Anastacia é uma tipa sem sal a quem, por diversas vezes, me apeteceu entrar no livro e abanar a moça; e, o Grey, um gajo obsessivo, ciumento, manipulador e machista. Os gestos que gostei no primeiro livro, transformaram-se em cenários violentos de um namorado abusador. Enquanto amigas e colegas sonhavam tornar-se a Anastacia da vida real, eu questionava-me se achariam graça a um Christian real chantagista e possessivo, que as tenta afastar do melhor amigo e de tudo o que seja elemento masculino... talvez o problema seja meu que, exagero sempre um bocadinho e, em verdade se diga, não passa de um livro. Mas, quando, na altura, me apelidaram (as amigas) de exagerada, propôs-lhe o exercício simples de tentar imaginar um namorado como o personagem, relatando algumas das passagens do livro... e, a custo, lá cederam e concordaram comigo... Eu nunca deixaria que o meu namorado me tratasse assim ou sequer me tentasse controlar mas, oh, o Grey é tão charmoso e é esse lado possessivo que o torna encantador! - respondia-me elas.
Por último, eu tenho curiosidade em ver o filme. Sim, eu quero ver o filme. Inclusive, acompanho a página de facebook do filme e já vi os dois traillers. E, depois destas minha exposição negativa sobre os livros de E. L. James, porque raio ainda quero ver o filme? Essencialmente porque quero ver como irão transformar um livro que, mais não é, do que uma versão pomposa do kamasutra, em filme, sem o transformar numa pornografia barata de um qualquer site do género. E, porque, também, tenho interesse em ver como os actores interpretaram as personagens (sobretudo, depois da escandalosa escolha em torno do actor que dará vida a Grey). Mas, não pensem que tenciono ir a correr para a sala de cinema ou enfiar-me numa fila de quatro horas para comprar o bilhete (prevejo este cenário aquando da estreia). Não, nem pensar... 30 km entre a santa terra e a sala de cinema mandam mais do que um Grey (e nem falemos no preço absurdo dos bilhetes). Quando, e se algum dia chegar ao mundo da internet e dos filmes online, logo os vejo (aos três ou mais, não vá alguém lembrar-se de dividir o último livro em duas partes)... e, sinceramente, se não o vir, é-me igual.
Em resumo, nem todas as mulheres são Anastacias e, nem todos os homens são Greys, a considerarem-se donos das namoradas ou esposas. Admito que tenho uma visão romântica das relações: sim, eu quero alguém que me defenda e proteja, que esteja ao meu lado mas, acima de tudo, que respeite me respeite e aceite o meu espaço, as minhas amizades e as escolhas que tomo... não preciso de alguém que me vigie e me diga com quem devo falar ou estar (ou, inclusive, o que comer). Até porque, os Greys e Anastacias da vida real, muitas vezes, acabam em tragédia...
* (o título foi propositadamente colocada assim, uma vez que se trata de uma opinião (aliás, como tudo o que escrevo)... antes que alguma doidona pelo livro/filme me critique)
** (e não, não li mais nenhum livro do género)