Os onze mitos associados a quem lê... e que eu escuto com frequência.
Livros e leitura fazem, desde a minha meninez e, embora nem sempre tão marcado, parte de mim. Companheiros silenciosos onde embaracei em aventuras, viagens e sonhos, onde aprendi a acreditar e a esperar por um lado bom. Ler é, provavelmente, uma das poucas coisas que me dá prazer. Um bom livro e a alegria de me deitar na cama enquanto percorro palavras, personagens, histórias e páginas...
Porém, a verdade é que, enquanto leitura assíduo e amante de livros, já ouvi um pouco de tudo... uma série de ideias um tanto ou quanto parvas e sem qualquer fundamento. Para quem diz não gostar de ler, é difícil compreender o que leva uma jovem a perder-se nas horas e mergulhar na leitura. Sou, confesso, conhecida como a menina dos livros, visto que jamais saio de casa sem a companhia de um livro - vá ele na mão ou na mala -, é frequente encontrar-me a ler e, um dos carteiros dos ctt desconfia que eu não leio livros... fazem parte do meu pequeno almoço. Bom, foi depois deste comentário do carteiro dos ctt que me lembrei de reunir essas ideias parvas e sem fundamento que tanto escuto... os mitos associados a quem lê. Vejamos,
Jornalistas. Com tantos livros que lês, certamente que darias uma bela jornalista...
Esqueçam. Não nasci com o dom da escrita. Gosto de escrever mas, sei bem que estou longe de ter um qualquer dom para a escrita. O facto de adorar ler não significa que eu realmente me tornasse uma bom jornalista. É o mesmo que admitir que qualquer mulher dará uma boa mãe -só porque é mulher e há a tal ideia da sensibilidade materna - ou que qualquer bom condutor passou ao lado de uma grande carreira como piloto de fórmula um. Simplesmente, é uma ideia parva. E, além do mais, eu e as línguas nunca fomos as melhores amigas... embora, admita que me passou pela ideia ser jornalista mas, não por adorar ler.
Vocabulário. Oh, a usar palavras caras? É dos livros que lê...
Certamente e, no decorrer de uma conversa sobre qualquer coisa que não me recordo o tema, usei a palavra obviamente. A palavra nada têm de extraordinário e escapou-me no decorrer da conversa. A pessoa que a escutou assumiu que, era graças aos livros que a conhecia (oh deus! oh deus!). Okey. Os livros dão-nos acesso a conhecimentos variados que, inevitavelmente, se traduz na forma como falamos. Mas, a verdade é que, por mais que tente usar palavras caras, jamais o consigo. Aliás, no que toca a falar, por mais livros que leia, serei sempre a que atenta contra a língua de Camões e atropela as palavras... sobretudo, se estiver nervosa. Pronto. Não sou boa a falar, prefiro escrever. E, tudo isto, não me faz nem pior nem melhor leitora.
Memórias. Tu consegues lembrar-te de todas as histórias que já lestes?
Infelizmente, não... eis a dura realidade. Por mais que eu queira, com o tempo, é inevitável que me comece a esquecer de histórias e personagens, pequenos detalhes que fazem a diferença. É o mal de quem adora ler. Relembro a história por alto ou pego nos livros para reavivar a memória mas, a verdade é que, o restante acaba por se escapar... infelizmente.
Novos livros. Mais livros? Mas tu consegues ler esses livros todos?!
É, provavelmente, a frase que mais escuto da minha mãe. A chegada de novos livros a casa é recebida com gritos histéricos da senhora minha mãe que, por mais que lhe tente explicar, com calma e paciência, não compreende a minha necessidade de adquirir novos livros. Para um leitor, quantos mais livros tiver, melhor! Nada me sabe tão bem como um novo livro e saber que, quando terminar um e apesar da escolha complexa, terei outros para escolher.
Velhos livros. É impossível que tu já tenhas lido todos aqueles livros que estão na estante! Não acredito!
Obviamente que não... alguns ainda não receberam a minha atenção e aguardam pacientemente pela vez! É isto que digo, regularmente à minha mãe quando me pergunta se todos os livros que tenho na estante já foram lidos. Tenho uma prateleira reservada aos livros por ler e, logicamente, que esses são os únicos que ainda não li. Os restantes, por mais estranho que lhe pareça, já foram lidos.
Livros. Estes livros são todos teus, Maria?
Não, alguns roubei à minha vizinha, outros ao Papa e alguns à Rainha espanhola... claro que são meus! Não tenho muitos, aproximadamente cento e cinquenta, para quem contempla a minha pequena estante, parecem muitos. E, claro, esta frase remete-nos a outras...
Tempo. Como é que tu consegues arranjar tanto tempo para ler? Eu não tenho tempo nenhum!
Neste momento e, apesar de ajudar o meu pai com o estabelecimento comercial dele, a verdade é que estou desempregada. Tento gerir o meu tempo livre que, não é muito, visto que passo quase toda a tarde na loja. Por isso, ou leio durante a manhã (quando não me apetece escrever no blog) ou à noite, um ou dois capítulos. E, mesmo que tivesse a trabalhar, creio que seria isso que procuraria fazer... ler um ou três capítulos por dia. Só não lê quem, no fundo, realmente não quer. E, mesmo com crianças, certamente que se arranja tempo para uns capítulos... Existe sempre tempo... nem que seja enquanto esperamos pela consulta do dentista ou pelas crianças à porta da escola.
Dinheiro. Como é que tu compras tantos livros? Eles são caros!
Livros cujo valor seja inferior a dez euros, em segunda mão e através de grupos de facebook (ou olx e afins). Campanhas com 50% de desconto ou semelhantes. Trocas. Feiras de livros. Enfim, as opções são várias... basta escolher! E, claro, gestão do dinheiro - estou desempregada, portanto, muitas vezes quem paga os meus livros são os meus pais logo, há que saber gerir...
Livros grossos. Mas tu consegues ler esse livro tão grande?
O livro Diz-me Quem Sou de Julia Navarro conta com mais de mil páginas e, por ser a minha actual leitura, faço-me acompanhar dele sempre, apesar da grossura e tamanho. Por isso, quando uma cliente me viu entrar na loja do meu pai com o livro na mão, perguntou-me como era capaz de ler algo daquele tamanho... ora, é simples, da mesma maneira que se lê um livro de quatrocentas páginas. O importante é que o livro realmente me cative. Ou, será que julgam que me iria dar ao trabalho de andar com um calhamaço como este só porque sim?!
Conhecimentos. Ah! Essas coisas todas sabes porque as lês dos livros...
No final de uma discussão sobre a violência na era de Salazar, dizia eu que apesar de ela existir, obviamente que não era divulgada, havia a censura e Salazar não queria mostrar um país inseguro. Ora, a senhora não vai de modos e, diz-me, depois de reflectir na minha opinião, tu sabes isso tudo porque lês dos livros. Por acaso, li pouco sobre Portugal na era de Salazar mas, gente, pasmem-se, antes dos livros, andei na escola! Completei todos os graus de ensino e ingressei o ensino superior portanto, embora os livros contribuam bastante para conhecer novas histórias e eras, a verdade é que existem coisas que se aprendem para lá dos livros... E, depois, não é preciso ler nem ter vivido na época de Salazar para compreender que a violência existia mas, a comunicação social era censurada para não a mostrar... basta somente conhecer um pouco da história de Portugal!
Título/Capa. Mas que raio de título é esse? E que capa mais pirosa!
A eterna avaliação de um livro pela capa ou título... oh que lamechas, oh que parece-me ser um livro interessante, oh que livro com título parvo. E, quando tal avaliação serve para avaliar quem lê? Um romance pimba? És uma romântica parva... Um livro histórico? És uma seca... Um livro erótico? Deves ser fresca, deves... (enquanto me olham com cara de idiotas) Sim, isto acontece. E é chato. Dá vontade de perder o amor aos livros e atirar com o livro à cabeça da pessoa. Não deixo de ler um livro onde quero e me dá na telha mas, às vezes, admito que tenho vontade de arranjar uma daquelas capas para livros e esconder o que ando a ler... evito olhares.
Resumidamente, quem lê é visto como um ser um tanto ou quanto estranho e, eis assim, as onze frases que regularmente escuto.
Quem lê, lê pelo simples prazer de ler. Pelo gosto do conhecimento, da aventura, do sonho, da viagem. Lê porque lhe dá prazer, porque lhe transmite paz e calma. Amo livro, leio com frequência e, serei sempre assim... um bicho raro dos livros.