Nunca gostei destas duas palavras...
emigração
1. acto ou efeito de imigrar
2. saída voluntária do local onde se vive para se estabelecer noutro
3. conjunto de pessoas que emigram
imigração
1. acto ou efeito de imigrar
2. entrada de estrangeiros num país com o fim de nele se estabelecerem
Quem é que não conhece alguém que esteve ou está numa situação idêntica? Um familiar, um amigo, um conhecido?
Uns meses antes de terminar o curso, ainda antes de imaginar as voltas que a vida dava e quando se debatia sobre o futuro, a maioria dos meus amigos diziam que queria sair de Portugal. Porque aqui não à emprego, Porque este país não vale nada, Porque se eu conseguir ir para aquele país vou conseguir fazer coisas que cá nunca poderei, porque isto e aquilo e outros argumentos mais para se querer fazer parte da larga camada de jovens lá fora.
Eu não. Argumentava que este país ainda tinha muito para dar e que só aceitaria a hipótese de abandonar o país quando começasse a perder completamente a esperança, quando começasse a enviar centenas de emails com o meu currículo e ninguém me respondesse. Porque vi partir uma amiga e, sempre que chega o último dia de férias, me parte a alma vê-la chorar e despedir-se da mãe e da irmã... Sobretudo porque, contrariamente à maioria dos meus amigos, eu sou filha e fruto da emigração dos anos 70.
Na época, como agora, muitos foram os portugueses que abandonam o país na esperança de, um dia, conseguirem um futuro melhor. No país que os acolheu, como tantos portugueses, com o pouco dinheiro que tinham conseguiram criar uma vida estável. Por entre lágrimas, dificuldades e amarguras, os meus pais conseguiram abrir o próprio negócio e colocar os dois filhos pequenos um dos melhores colégios privados da região à época. Durante muitos anos viveram bons e maus momentos no país que os acolheu. Porém, a crescente insegurança e violência no país que me viu nascer, obrigou-nos a medidas mais drásticas e, assim, privar-me de pai durante cerca de dois anos - tempo para resolver questões legais e burocráticas, entre outras coisas.
Já em território português e embora ainda pequena, senti na pele o que era ser uma estrangeira: alvo de gozo dos colegas por não saber uma única palavra de português, colocada de parte pela professora por qualquer motivo que nunca entendi. Durante anos não me senti portuguesa e pedia insistentemente aos meus pais que regressassem ao país que me viu dar os primeiros passos. Queria saber como era viver nele, como era a sua história e as suas gentes porque cedo me foi negado conhecer. Pedi a todos os "santos e mais alguns" para que esse dia chegasse até, finalmente ganhar consciência de que esse dia dificilmente chegaria. Aceitei-me com sendo portuguesa, descobrindo o que mais me fascinava neste país... provavelmente, a riqueza histórica, o passado de vitórias e conquistas tão belas de um pequeno país.
Provavelmente e contrariamente aos meus colegas que tanto mal falam de Portugal, tenho um orgulho imenso por este pequeno país à beira mar planto. E, sobretudo, eu não me quero ir embora. Não quero virar costas, mais uma vez, a um país que tanto amo e a matar saudades uma a duas vezes ao ano.
Costumo dizer que os meus pais ficaram órfãos de Portugal quando foram obrigados a abandonar o país em busca de uma vida melhor. Sou filha da emigração e órfã do meu país porque nunca se vive em paz. Voltar a partir é ficar novamente órfã...
Por tudo isto e porque me soam terrivelmente mal, odeio as palavras emigração e imigração, porque nelas não me quero incluir, porque traduzem dor, lágrimas, sacrifícios, ausências... mas, sobretudo, porque parecem palavras cada vez mais próxima de mim.