Do excesso de peso...
É curioso como, para os demais, o excesso de peso parece incomodar-lhe mais do que à própria pessoa em si.
Não falo, obviamente, de obesidade mas, de algum excesso de peso. Vi, no passado e antes de entrar na faculdade, como a balança marcava os três dígitos e as evidentes dificuldades que manifestava; com o tempo e as claras mudanças nos meus dias, o número desceu e, as tais dificuldades, escaparem-se. Sempre lidei mal com o meu peso, com os comentários, com os olhares. Evitava praias e, num determinado período da minha vida, mergulhava em dietas malucas para emagrecer. Preocupava-me. Não queria, evidentemente, ultrapassar os cem quilos antes pelo contrário, queria perder uns bons vinte quilos. Era, sempre, uma enorme alegria quando o número das calças diminuía e, com raiva e desanimo, percebia quando as mesmas deixavam de servir. Foi, desde sempre, uma luta constante entre mim, a balança e a comida.
Não fui sempre gordinha. Começou por volta dos dez anos, depois de me submeter a uma cirurgia (a que se lhe seguiu, num curto espaço de tempo, outra), as mudanças no corpo e o facto de não me sentir confortável no novo colégio - onde aliás, nunca me senti realmente integrada. E, portanto, à despreocupação dos meus pais, mais preocupados em discutirem um com o outro, foi na comida que encontrei conforto... poderia, tê-lo feito nos livros, como volta e meia o fazia nos intervalos mas, tal só iria contribuir para me dificultar a vida no colégio (sim, porque os miúdos são maus e eu já sofria por ter excesso de acne e ser das mais altas raparigas da turma). No fundo, nunca ninguém me disse que, acima de tudo, deveria gostar de mim, aceitar-me como sou e mudar por mim e não pelos demais. O primeiro (e até hoje, único) namorado surgiu aos vinte e dois embora, admita que, tivesse tido uma ou outra aventura. Quiçá pressionada pelos demais e pelos comentários que sempre escutei, deixei-me mergulhar numa relação que haveria de destruir a minha terrível e baixa auto-estima. Desengane-se quem julga que existem certas coisas, sentimentos, momentos e histórias que só acontecem aos demais... reparem, eu não me considerava inculta ou algo do género mas, a necessidade de me sentir amada e o medo da solidão permitiu que mergulha-se numa espiral de insultos e afins (e, bom, acho que também não tinha o melhor exemplo em casa). A verdade é que, imaginei uma primeira relação algo tão distinto e maravilhoso do que realmente foi na realidade. E, ainda antes de a relação terminar, antes mesmo de colocar-lhe um fim, dei por mim a comer que nem uma desalmada... e vi-me aproximar perigosamente dos cem. Resolvi inverter a tendência, colocar a pena de mim mesma de lado e, mudar-me. Não era uma dieta rígida mas, para mim, bastava-me atingir um valor confortável, com o qual sempre vivi. Longe de chegar a esse número na balança, as coisas mudaram-se novamente - porque a vida é uma constante mudança - e, mergulhei numa nova espiral de pena e sentimentos de fracasso, onde comidas e livros serviram para afogar as mágoas... pelo menos, até a meio deste ano, quando decidi parar de olhar a comida como um refúgio e procurar o conforto na dança zumba - longe de ser coordenada ou ágil, divirto-me bastante e aquela hora de dança, um verdadeiro escape.
O meu drama com o peso é, desde cedo, uma história recheada de altos e baixos, de momentos de luta e fracasso. Na maior parte dos meus dias, lido bastante bem com o meu peso. Dediquei-me a seguir, via facebook, algumas modelos ditas plus size que transpiram confiança e amor próprio, esperançada de que tais me transmitissem um pouco de inspiração. Em parte, afirmo que resultou. Mas, evidentemente, não chega. E, o problema não reside em mim - na maior parte dos dias, nem me lembro que tenho peso em excesso - mas, nos demais que, vai-se lá saber o porquê, se lembram em falar. Como se não fosse suficientemente mau entrar numa loja, ver uma peça de roupa linda linda e, quando tentamos experimentar, ou não existe o nosso tamanho ou não serve... portanto, há-de haver sempre meia dúzia de almas a falar sobre o excesso de peso que temos. Tens uma cara tão gira, se emagrecesses um pouco, ficavas uma brasa dizia-me, certa vez, o meu ex-namorado, Com esse peso todo, é normal que não tenhas namorado dizem-me frequentemente as tias ou Já pensastes em emagrecer para o bem da tua saúde? dizia-me, certa vez, o meu pai. Bem sei que não são comentários ditos com más intenções (excepto uma ou outra alma) mas, a verdade é que em nada contribui para que emagreça de hoje para amanhã. E, por exemplo, no caso do meu pai, farta dos seus comentários, certa vez respondi-lhe que, se tinha problemas com o peso, a ele também lho devia, obrigando-me a encher o prato, a nunca abandonar a mesa sem tudo comido e a não me permitir praticar o desporto que realmente queria (entre outras).
O meu peso incomoda, evidentemente, mais os demais, do que a mim mesma. Uma das funcionárias do meu pai começou, recentemente, a praticar futebol. Provavelmente, deveria fazer como ela, contar a minha vida aos sete ventos, não me limitar a dizer que não gosto de futebol, mencionar a dança zumba que pratico duas vezes por semana e, quiçá, evitasse os desagradáveis comentários A Maria é que precisava de ir para o futebol, para emagrecer... tu já estás magra, não precisas (como se, por ser magra, tal impedisse de exercitar o corpo). O peso, como costumo dizer, incomoda os outros, não a mim. No fundo, o que realmente me incomoda são os outros, os comentários, os olhares e as certezas de que sabem sempre tudo sobre ser-se gorda ou magra.
O meu peso é, por mais que o negue, um dos meus pontos fracos. É algo que trabalho, que procuro mudar, esconder dos demais. Comecei a dar pequenos passos no caminho da mudança mas, como em tudo na vida, leva o seu tempo. Desengane-se quem pensa que uma gorda o é porque querer ou porque se dedica a comer porcarias. A verdade é que, esta questão de peso, mais não é do que uma construção social, um ideal de beleza pré-concebido com elevada tendência a mudar... se antes se promovia a beleza magra, hoje em dia promovesse a beleza real, a das curvas, celulite e afins. E, são coisas distintas, sentir bem comigo mesma com e agradar aos demais.
O meu peso incomoda mais aos demais do que a mim mesma... e, lamento, mas não vou pedir desculpas ao mundo por isso. Sim, tenho excesso de peso e não me vou desculpar!
20 respostas para aqueles que te mandam emagrecer
Não, para ficar magro e infeliz como você? Pois gente feliz de verdade não se incomoda com a vida alheia.