Da história dela e dos meus medos.
Eu não sabia os motivos, até à uns dias, quando por entre lágrimas e soluções, ela revelou que ele a traiu porque a atracção física já não existia. Uma relação de três anos que chega ao fim e em que, segundo ele, embora a ame, não sente atracção por um corpo demasiado cheio.
Ela chorava pelas duras palavras dele enquanto, nós, as amigas, a lhe dizíamos que era o melhor e que não podia deixar que aquelas palavras a afectassem. Como se fosse possível esquecer tais humilhantes palavras. Dizia que não conseguia viver sem ele e nós tentávamos convencer que um homem que a julga pelo aspecto físico não a merece. Se, em vez de usar as palavras e a traição, a tivesse ajudado a perder peso... mas não, ele optou pelo caminho mais fácil. Quantos não optam pelo caminho mais fácil?
Ela chorava como se o mundo fosse terminar naquele momento... e, no lugar dela, quem não o faria ou não sentiria o mesmo? Palavras duras que ficam gravadas na memória e medos que nascem deste final. Entre soluções, dizia que deveria ter tido mais cuidado, que a culpa era dela, que se desleixou... e nós, à procura das palavras correctas, dizimo-lhe que ela já era assim quando se conheceram.
Esta é a história de uma amiga cujo o factor 'excesso de peso' foi determinante (ou um mero argumento para fugir à culpa) para o fim de uma relação. Enquanto ela chorava foi-me impossível ignorar os meus medos. Também eu tenho medo de um dia viver o mesmo ou que o meu corpo não seja suficientemente atraente para que a vida me permita conhecer alguém... *
* (e, sobre este medo e a rejeição, uma experiência social)