Casa de doidos, prédio maluco.
A minha mãe, ao ver-me chegar com dois novos livros, diz-me mais ou menos isto*:
Oh filha, e arranjar um namorado, não?! Com vinte e seis anos já era altura.
Eu suspiro e conto mentalmente até dez, ponderando uma resposta. Porém, a minha irmã antecipa-se e, do sofá onde vê televisão, responde:
A mana, com aquele mau feitio e sempre agarrada aos livros dificilmente volta a arranja um namorado.
O meu irmão, para demonstrar o ar da sua graça, diz:
Ela vai-se casar com os livros...
Eu limito-me a gritar - um estridente ahahahah -, a minha mãe berra e diz que pareço uma doida, a irmã rir-se qual maluca, o irmão diz que não pareço mas que, efectivamente, sou doida e eu, depois de me calar, respondo:
Bolas! Como é que eu não vou ficar doida quando criticam a minha paixão por livros?! Eu também não vos critico por gastarem dinheiro lá no sporting nem em roupa. Irra, vocês...
E não cheguei a terminar o meu pensamento porque, do nada, ouve-se a voz grossa e elevada do nosso vizinho...
Oh paaiiiiii!!!
Escusado será dizer que a conversa terminou aqui, com os quatros às gargalhadas. Uma casa de doidos, um prédio de malucos.
* (vou tentar reproduzir a conversa o mais fielmente possível)
**(o prédio é de construção antiga e, portanto, os isolamentos péssimos. ou seja, volta e meia, ouve-se o berro de alguém para lá da parede ou, inclusive, o som de um prato a cair. é certo que eles também ouviram as nossas gargalhadas...)