As palavras da minha mãe.
Ir às compras numa grande superfície comercial com mil e um produtos é, para mim, um atentado: rapidamente desapareço para junto dos livros, bijutaria ou decoração de casa. Ontem foi dia de compras e, para não variar, deixei a minha mãe à caça da fruta enquanto me escapuli para junto dos livros. Ao regressar com mais um livro *, a minha mãe em alto e bom som, para qualquer pessoa no supermercado ouvir, diz
Mais um livro? Oh filha, tu precisas urgentemente de arranjar um namorado para deixares de ler tantos livros!
Escusado será dizer que, naquele momento, um buraco seria excelente e eu rapidamente me refugiava nele... não foi bonito e, para tentar desviar as atenções sobre mim, virei-me para as latas de conserva onde mantive uma conversa interessante e que se resume a rogar pragas à minha mãe.
Não é de agora que ela diz isto mas é a primeira vez que o faz em local público... eu, em tom de brincadeira, contra-argumento que o meu namorado vive num livro. Das duas uma: ou anda preocupada com o meu futuro pessoal e com medo de não ser avó (dos três filhos, apenas a mais nova namora mas, aos 17 anos, não se esperam filhos) ou anda preocupada com o estado financeiro das carteiras.
Que culpa tenho eu deste amor que nasceu comigo?
* ( o meu querido Zafón. fica a faltar-me As Luzes de Setembro para completar a colecção Carlos Ruiz Zafón.)