O ano de dois mil e dezoito foi um ano, a nível literário, estranho e imprevisível. Iniciei o ano a ler uma oferta natalícia - de uma ex-colega de trabalho - que consta no meu bolo de leituras favoritas do ano que terminou: Para Lá do Inverno de Isabel Allende. A escritora chilena já era a autora de um dos meus romances históricos favoritos de sempre, Inés da Minha Alma, e com este Para Lá do Inverno conquistou um lugar especial na tribuna das escritoras mais apreciadas.
Para Lá do Inverno mistura drama e romance, com temas marcantes e actuais, como o racismo, a imigração e a busca de um futuro melhor dos povos da América Latina e do Sul no sonho americano, drogas e o drama do tráfico de seres humanos, crime e vidas agitadas. Foi uma narrativa que me tocou particularmente porque, e talvez poucos saibam, nasci num país da América do Sul, a Venezuela, conhecida pela significativa violência e crescente instabilidade social e económica, e senti que este livro poderia ser um bocadinho a minha história se, algures no meu destino, os meus pais não tivessem interpretado os sinais. É um romance que pode, e acredito que, seja mais real e verdadeiro do que ficcional, inspirado nos diversos relatos de quem procura noutros países um futuro melhor... porque ninguém abandona o país onde nasceu do simples nada quando ele nos proporciona segurança, trabalho e estabilidade social. Para Lá do Inverno é, definitivamente, um dos melhores livros de dois mil e dezoito e uma leitura que eu recomendo a qualquer amante da leitura.
Diana Gabaldon ganhou a minha admiração e a saga Outlander tornou-se a minha favorita de todo o sempre - excepto Harry Potter. A minha irmã ofereceu-me, pelo meu aniversário, um dos livros da saga e eu senti-me na obrigação de ler o primeiro volume. Confesso que, numa primeira fase, sentia receio pelo número de páginas do livro Nas Asas do Tempo mas, também, pela quantidade de livros já editados, salvo erro, oito volumes. Porém, as cerca de oitocentas páginas que compõem o primeiro volume de Outlander, Nas Asas do Tempo, senti-as voar tal era a minha avidez e curiosidade em conhecer a história de Jaime e Claire... provavelmente, uma das mais belas histórias de amor literária. Li, ao longo do ano que terminou, os três primeiros volumes e tenho mais dois na minha estante para ler em dois mil e dezanove. Outlander foi uma magnífica surpresa, um saga cativante e impossível de resistir. Invejo Diana Gabaldon pela incrível mestria com que mistura o presente com a importantes acontecimentos da História do século XVIII.
No País da Nuvem Branca de Sarah Lark, uma das últimas leituras do ano, entrou directamente para o meu top literário pela escrita agradável e cativante da escritora, assim como pela própria narrativa. Trata-se de um romance histórico, cujo cenário de fundo é o "nascimento" e colonização da Nova Zelândia, no ano de mil oitocentos e cinquenta e dois. Gwyneira, nasceu numa família nobre e rica mas, cuja personalidade rebelde e à frente dos costumes da época, a coloca em situações desagradáveis e perigosas; Helen é uma jovem preceptora que sonha casar e constituir família mas que, aos vinte oito anos sente que jamais o conseguira. Duas mulheres fortes e marcantes que procuram num país desconhecido, que promete ser o paraíso, o caminho para a felicidade. É, este No País da Nuvem Branca, um romance sobre amor e ódio, o poder da amizade e os laços fortes da família.
As Flores Perdidas de Alice Hart de Holly Ringland destaca-se nas minhas melhores leituras de dois mil e dezoito por ser um romance forte sobre, mais do que flores, o perdão e o saber seguir em frente. O romance de estreia de Holly Ringland tornou-se um dos meus livros preferidos e um dos melhores romances que já li. Poderoso e marcante, As Flores Perdidas de Alice Hart é mais do que um livro, é um pedacinho de vidas tão reais. Holly Ringland surpreendeu-me muito pela forma profundamente trabalhada da personagem principal, assim como pelas restantes mulheres, que se interligam tão perfeitamente.
Dorothy Koomson com A Sereia de Brigthon aborda com mestria temas delicados como o racismo e o preconceito, a violência policial, a violência contra mulheres e as marcas que a violência na infância se traduzem num jovem adulto. É uma narrativa incrivelmente cativante, mergulhando rapidamente na história e no drama vivido por Nell, onde só queremos descobrir toda a verdade e justiça para quem lhe fez tanto mal. A capacidade com que mistura, nos seus livros, suspense, drama, amor, amizade e temas sensíveis e actuais é genial e invejável, sendo impossível ficar-lhe indiferente. Não considero este livro como um romance e creio que está longe de o ser, é mais um género de policial ou mistério. Independentemente da categoria atribuída a este livro, recomendo a leitura de A Sereia de Brighton... muito bom!
A Casa das Meninas Indesejadas de Joanna Goodman tinha de figurar nesta categoria. Uma narrativa brilhante, à qual não lhe ficamos indiferentes, pela veracidade dos factos reais. É um confronto doloroso e chocante com uma realidade não muito distante que marcou negativamente a história do Canadá. Maggie Hughes tinha tudo para ser uma adolescente feliz e despreocupada: um pai que a amava, um negócio familiar que gostava e que herdaria, a possibilidade de estudar e uma beleza que não passava despercebida. Porém, quando aos dezasseis anos, Maggie engravida de Gabriel, o jovem vizinho de quem os pais não gostam, os sonhos da adolescente afundam-se e, com eles, a menina que dará à luz. Elodie, a menina que nasceu deste amor adolescente, é enviada para um orfanato miserável, onde não existe amor ou sem nunca conseguir ser adoptada por uma família. Mas, quando o o governo canadiano decide atribuir mais dinheiro aos hospitais psiquiátricos do que aos orfanatos geridos pela Igreja Católica, a vida da pequena Elodie também se altera. Declarada deficiente mental e enviada para um hospital, Elodie é o espelho das milhares de meninas e meninos que sofreram maus tratos e abusos sem apresentarem qualquer tipo de deficiência. Baseado em factos reais da sua própria família, Joanne mostra-nos os laços fortes e poderosos que unem mães e filhas.
Para terminar a minha lista dos melhores livros de dois mil e dezoito, um clássico da literatura juvenil: Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa. Inspirado na sua própria infância, Judith Kerr dá vida a Anna, uma menina judia que, um dia, se vê forçada a abandonar a casa, a escola, os amigos e o seu amado peluche coelho cor-de-rosa para encontrar refúgio noutro país, juntamente com a família. É um romance poderoso e incrivelmente tocante, sobre os laços de amor da família e o quão marcante e traumático para uma criança é tornar-se refugiado. Um livro que aconselho vivamente a crianças e jovens que dá a conhecer, de forma sensível, o significado de refugiado e o poder de Hitler sobre a comunidade judia num dos períodos mais negros da História da Humanidade.
O ano de dois mil e dezoito encerra-se com trinta e um livros lidos. Foi um ano, como já disse, de alto e baixos literários: se, por um lado, houve períodos em que mal li e demorava quase um mês para concluir uma leitura, senti que a meio do ano me voltei a agarrar à leitura com ânsia e desespero.... existiram meses em que nada li e meses em que li entre três a quatros livros. Fiz leituras enormes, como os livros da saga Outlander, e livros pequeninos como Uma Prece ao Mar e Uma Vida Muito Boa. Abandonei o livro Pássaros Feridos porque, mais de cem páginas depois, não consegui criar empatia com as personagens e considerei a narrativa demasiado monótona e lenta. Conclui leituras que não me aqueceram a alma. Li muito sobre a II Guerra Mundial e romances históricos diversos, narrativas inspiradoras e factos desconhecidos. Li livros maioritariamente escrito por mulheres e estrangeiras. Li à hora do almoço e nos pequenos intervalos que o trabalho me permitia. Li durante horas. Conheci histórias especiais e personagens que não esquecerei. Os livros, independentemente de tudo, andaram sempre comigo. Dois mil e dezoito foi um ano, a nível de leituras e de livros concluídos, um dos melhores anos... que dois mil e dezanove seja melhor, ainda.
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