Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

15 | Na minha estante... Glória Mortal.

9789898032423_1229687158.jpg

 Glória Mortal de J. D. Robb, pseudónimo de Nora Roberts, remete-nos para um cenário futurista, de crime e mistério. 

 

Eva Dallas é considera a melhor tenente da polícia de Nova Iorque. Uma mulher recheada de mistérios, ideias fixas e apaixonada. A primeira vítima, uma procuradora famosa e acarinhada, do ministério público da cidade, é encontrada num dos cantos mais estranhos da cidade, numa noite de chuva. A segunda, uma promissora actriz, no próprio apartamento. O que as ligas, para além de referências e caras conhecidas do público, é Roarke, o seu companheiro. Eva é obrigada a investigar uma longa lista de suspeitos, explorando todas as hipóteses, rumores e pistas, envolvendo homens de poder e perigo. Um livro recheado de mortes no meio televisivo, mostrando as disputas entre os diversos meios.

 

Nunca tinha lido nada de Nora Roberts/J.D. Robb. Provavelmente, nunca o teria feito se não fosse pelas meninas do clube das pistogas que lêem - composto pela Magda, Sofia e Nathy. Foram elas que deram o mote à leitura conjunta deste livro que, de outra forma, nunca teria lido. 

 

Nunca senti interesse em ler algo desta autora, embora reconheça que possui uma escrita interessante, envolvente, misteriosa. As críticas sobre a escritora norte-americana são excelentes e cativantes, sempre me falaram maravilhas sobre os livros dela mas, sempre senti desconfiança. Ler Glória Mortal serviu para confirmar as minhas suspeitas... acabei por não gostar e, bem sei que fui a única do clube a considerar penoso e de opinião negativa. A dada altura só queria desistir mas, lá consegui, rapidamente, chegar ao fim e esquecer a enorme desilusão que senti em ler J.D. Robb/Nora Roberts. Não sou apreciadora de policiais mas, apesar disso, optei por dar uma chance ao livro. O que me desiludiu foi o cenário futurista imaginado pela escritora. Glória Mortal passa-se em 2058, na era dos carros voadores, dos robôs como empregados de café e, segundo a escritora, das missas celebradas em latim. Não gostei dos cenários elaborados pela escritora embora, lhe admire e inveje a enorme criatividade para tais imaginações mas, para ler sobre um futuro tão distante e aparentemente tão pouco interessante, prefiro imaginar. O final, apesar das teias de interesses elaborada pela escritora, é um tanto ao quanto previsível.

 

Eu não gostei - desculpem meninas -, dificilmente voltarei a ler algo desta escritora mas, ainda assim, é uma leitura recomendável aos apreciadores de policiais, futurismo e suspense.

 

Glória Mortal é o segundo volume da Série Mortal de J.D. Robb/Nora Roberts; conta com mais de quarenta livros na série, cerca de quinze foram publicados em Portugal, tendo sempre como protagonistas a tenente Eva Dallas.

 

Os mortos eram a sua profissão. Vivia com eles, trabalhava com eles, estudava-os. Sonhava com eles. E porque isso não lhe parecia suficiente, num recanto profundo e secreto do seu coração, sofria por eles.

 

Hora de cuscar as opiniões dos restantes elementos do clube:

Magda, Sofia e Nathy.

13204_1577566269150315_5609953444683015600_n

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

* (mais sobre o livro e a autora em Saída de Emergência)

Condenação, pena de morte e o perdão.

Pena de morte. Recordo-me, dos tempos de faculdade, falarmos deste tema sensível. Na altura, assisti a uma conferência organizada pela Amnistia Internacional sobre a temática, onde um ex-condenado norte-americano relatava a sua experiência de anos a fio no corredor da morte. Não me lembro dos pormenores exactos do crime mas, o Homem foi julgado e condenado à pena capital pela morte violenta da Esposa (e, creio que de um outro homem encontrado na casa que, se supôs ser o amante). A base foi o testemunho de alguém que os ouviu a discutir na noite do crime; o casal discutia com frequência e esse foi o mote para a condenação. Recordo-me de ele referir que, de facto discutiram com mais frequência nos meses anteriores à morte da Esposa mas, contrariamente à acusação, nunca lhe tinha batido e na noite em que a ela foi assassinada não se encontrava em casa. Mas, baseados na cena do crime e nas discussões que alguém testemunhará, o Homem esteve anos e anos à espera do momento em que lhe seria aplicado o método que lhe retiraria a vida. Anos e anos em suspenso, reclamando inocência, duas ou três vezes às portas de cumprir a pena, travadas pela acção do advogado. A reviravolta acabaria por acontecer muitos e longos anos mais tarde - não me lembro exactamente de que modo - e, com ela, a ansiada inocência e liberdade. Esta história marcou-me profundamente. Os anos à espera da morte, os anos de prisão, os anos em que a liberdade lhe foi roubada. Por maior que tenha sido a indemnização quem, perguntava ele, lhe devolveria os sonhos e projectos que lhe foram roubados naquela noite... ninguém ou nada. 

 

Michel foi condenado por alegadamente ter assassinado um camionista durante um tiroteio. Não foi condenado à pena de morte mas esteve 36 anos - repito, 36 anos - preso. Michel reclamou, ao longo dos anos, inocência. Recentemente, provou-se que nada teve a ver com a morte do camionista. Os primeiros momentos de liberdade foram registados por várias câmaras de todo o país,

 

(daqui)

 

Quando leio casos como o de Michel, mesmo que não tenha sido condenado a ficar sem a vida numa qualquer sala, relembro-me daquela conferência que assisti à anos atrás. Relembro-me de debater com os meus colegas, de as opiniões se dividirem entre o a favor, o contra e o meio termo. Fiquei-me pelo contra. Não sou a favor embora, admita que vacilo bastante, que não seja uma opinião segura... sobretudo, em questões de violação ou de crimes contra a humanidade (como exemplos, crimes perpetuados por ditadores). Perguntaram ao Homem sobre a pena de morte para estes crimes, a resposta deixou-me a pensar e de que serve matar outrem se não devolvemos a vida daqueles que mais amamos?; sobre a solução/pena, para ele, a solitária, onde não contactasse com ninguém.

 

Captura de ecrã 2015-04-28, às 08.54.24.png

 (in Público)

 

Recordemos os atentados à maratona de Boston, em 2013, nos EUA. Tamerlan, na época, com 26 anos e Dzhokhar, de 19 anos, irmãos nascidos na Chechénia, a viver legalmente naquele país, mataram através de bombas construídas em casa, três pessoas, deixando vários feridos e instalaram o pânico em quem assistia. Martin, um menino de oito anos, foi uma das três vitimas dos irmãos. Os pais do menino, todavia, não querem que seja aplicada a pena de morte a Dzhokhar porque, consideram que tal condenação não lhes devolveria de Martin nem curaria as sequelas físicas e emocionais. Nada nem ninguém lhe devolverá o menino ou apagará o horror daqueles dias. É importante referir que, os pais e a irmã de Martin, ficaram com graves marcas físicas, que os acompanharam até o último dia das suas vidas. 

 

Por esta altura, por mero acaso, li um livro dos livros que mais me marcou. Estrada da Noite de Kristin Hannah leva-nos a reflectir sobre a morte, o amor e o perdão. Jude vive para os filhos, os gémeos Mia e Zach, e para o marido. Lexi é uma jovem que nunca conheceu o verdadeiro significado de família e entrará na vida de Jude e dos gémeos, transformando-a irreparavelmente. A tragédia marcará o destino de Jude e Lexi... Estrada da Noite é, provavelmente, um dos temas que, embora longe de estar relacionado com a pena de morte, nos leva a pensar no caso dos pais de Martin. Para Jude, a única forma de acalmar a dor que sente é condenar a culpada pela tragédia. Porém, os anos passam e a dor não diminui. Embora acha relações de proximidade e familiaridade em Estada da Noite, que não existem entre Dzhokhar e os pais de Martin, a verdade é que a linha de pensamento dos últimos se aproxima à do livro, deixando a questão a prisão apaga o crime?

 

A pena de morte, a condenação e o perdão são temas sensíveis. É difícil saber o que realmente sentiríamos se fossemos acusados de um crime que não cometemos, como o Homem e Michel e, consequentemente, passar anos à espera de cumprir uma pena irremediável, a morte. É, igualmente, complicado viver com a morte de um filho e as marcas que sempre, a um novo dia, lá estarão para recordar a tragédia. 

 

Quando leio sobre mortes violentas às mãos dos maridos, mães, avós ou qualquer outro familiar, sobre violações como esta notícia ou sobre os atentados cometidos contra milhares de vidas às mãos de uns quantos poderosos penso, imediatamente, que deveria ser condenados à morte. Mas, depois, recordo-me de casos como os que relatei acima e, enfim, a opinião altera-se e atirava-os para uma das celas mais degradante e solitárias. Quatro vidas marcadas pela justiça de outros homens - o Homem, Michel e os pais de Martin. Quatro vidas que me levaram a reflectir, ponderar e duvidar.

 

E, a que veio isto tudo, nesta salada russa? A propósito da história de Michel, dos seus 36 anos de prisão e da experiência de pedir algo tão simples para mim, como uma hambúrguer... repito, 36 anos a reclamar inocência, 36 anos a viver numa prisão.

13 | Na minha estante... A Bastarda de Istambul.

BASTARDA-DE-ISTAMBUL.jpg

 A Bastarda de Istambul é uma viagem à descoberta da história de dois países intimamente interligados entre si. Mais do que um romance, Elif Shafak convida-nos a mergulhar na memória de quem sobreviveu ao genocídio arménio comentido pelo Império Otomano, entre 1915 e 1917. Com sabedoria, usando e abusando, Shafak recorre à ironia e sarcasmo para relembrar os crimes do passado. A Bastarda de Istambul é, a meu ver, uma espécie de critica a turcos e arménios. De um lado, um povo que finge nunca ter cometido os crimes e, aqueles que admitem a sua existência, parecem descartar-se dos mesmo porque aconteceram sob domínio de um Império e não da actual Turquia; do outro lado, arménios que, de geração em geração, alimentam sentimentos sob o massacre arménio passando aos mais novos e cem anos depois, as memórias das atrocidades de quem sobreviveu. É, igualmente, uma critica a um país divido entre a modernidade e a tradição, entre o Ocidente e o Oriente, bem como ao papel das mulheres naquele país.

 

Elif Shafark dá-nos a conhecer duas jovens oriundas de famílias distintas, cujos sentimentos se assemelham e de vidas intimamente interligadas. Aysa, uma jovem determinada e irreverente, nasceu e sempre viveu em Istambul, numa casa rodeada de mulheres. Na família Kazanci os homens, em virtude de uma misteriosa maldição, vivem até perto dos quarenta anos de idade. Portanto, Aysa cresceu numa família de mulheres com personalidades distintas, encerrando em si, segredos e mistérios. Armanoush, é a prima arménia-americana de Aysa, a enteada de um tio que nunca conheceu, Mustafa, uma jovem introvertida e apaixonada por livros que, um dia, decidi conhecer a outrora cidade da família. A chegada da prima, levará Aysa numa viagem ao passado secreto da família e à história que interliga arménios e turcos.

 

A Bastarda de Istambul, nomeado para o Orange Prize For Fiction, é o primeiro romance traduzido e publicado, em Portugal, de Elif Shafak. Nascida em 1971, em França, é das escritoras mais lidas na Turquia e aclamada pela critica como uma das escritoras mais originais. Formada em Ciências Políticas, a leccionar em universidades dos EUA, Reino Unido e Turquia, Shafak dá voz, nos seus livros, às mulheres, minorias e subculturas. Uma última nota sobre este livro e a sua escritora: em 2006, foi levada a tribunal por "denegrir a identidade turca" em virtude de algumas palavras utilizadas pelas personagens arménias, mas as acusações acabaram por ser retiradas.

 

O meu interesse e curiosidade por A Bastarda de Istambul nasceu graças às diversas notícias a que tive acesso, além de envolver conteúdo da história internacional e visão actual das sociedades mencionadas - sobretudo da turca. Em si, a sinopse não me despertou especial atenção mas, de facto, o marketing é uma arma poderosa... e, neste caso, ainda bem. De facto, Shafak escreve de forma original, irónica e sarcásticas, prende-nos a cada palavra, a cada frase e, rapidamente, conseguimos nutrir sentimentos de empatia pelas personagens; embora, exija especial leitura, pela temática e por saltar entre o presente e o passado. A capa é, para mim, uma das mais bonitas que vi em livros e, quanto ao título, considero que se enquadra perfeitamente na história... até porque, o final é surpreendente.

 

Por tudo isto, espero, sinceramente, que outros livros de Elif Shafak sejam traduzidos para português. Recomendo, por conseguinte, a leitura deste livro.

Armanoush tinha a sensação de que sob as constantes objecções da tiazinha Varsenig às suas leituras se encontrava uma preocupação mais estrutural, se não primordial: um instinto de sobrevivência. Simplesmente não queriam que ela brilhasse demasiado, que se destacasse do rebanho. Escritores, poetas, artistas e intelectuais foram os primeiros dentro do millet arménio a serem exterminados pelo antigo governo otomano. Tinham-se livrado primeiro dos "cérebros" e só depois começado a extraditar os restantes - os leigos. Como muitas famílias arménias na diáspora, ali a são e salvo mas nunca totalmente à vontade, os Tchakhmakchian sentiam-se simultaneamente eufóricos e humilhados quando uma das suas crianças lia demasiado, pensava demasiado, desviava-se demasiado da normalidade.

 

* (mais sobre o livro em Editorial Presença

** (outras frases em Dos Meus Livros)

11 | Na Minha Estante... A Confissão da Parteira.

01040548_A_Confiss%C3%A3o_da_Parteira.jpg

 A Confissão da Parteira é mais do que uma capa bela e um título apelativo, é uma viagem de mistério e descoberta sobre ao passado de três mulheres unidas pelo sangue da amizade. 

 

Noelle, mostra ser uma mulher feliz e apaixonada pela vida e pela profissão que escolheu ainda em menina, ajudar bebés a nascer; excêntrica e misteriosa, é inseparável das amigas que conhecem na faculdade. Porém, quando Noelle se suicida, as amigas Tara e Emerson empreendem uma viagem para encontrar respostas ao desfecho trágico. A carta por terminar de Noelle transformará a vida das amigas, mostrando-lhe uma Noelle que não conheciam... e, aos poucos e poucos, decifrando o mistério que as envolve. Cada segredo revelado por Tara e Emerson é um novo mistério - aliás, julguei, uma ou outra vez, ter desvendado o mistério de Noelle mas, uma nova página levava a mais um segredo.

 

A Confissão da Parteira mais do que mentiras, segredos e mistério, conduz-nos aos caminhos da amizade, das relações conjugais, das relações entre mães e filhos adolescentes e ao peso da maternidade. Um livro que nos leva a reflectir, desencadeando uma montanha russa de sentimentos, onde ora compreendemos Noelle ora a detestamos... é, na verdade, uma história intensa e tocante.

 

Diane Chamberlain recheou o livro de histórias familiares dinâmicas e reais e de temas polémicos, como o suicídio ou as barrigas de aluguer, numa escrita envolvente, inteligente e fluida. Dizem que este é um livro para os fãs de Jodi Picoult. Para mim, sendo o primeiro livro que leio de Chamberlain, considero que Diane e Jodi se aproximam na forma como nos levam a envolver com as personagens.

 

É uma leitura que recomendo, não só aos fãs de Picoult, mas a todos aqueles que gostem de romances familiares recheados de surpresa e mistério. E, não se deixem enganar pela capa fofa... A Confissão da Parteira está longe de ser um romance melodramático. 

- Às vezes as pessoas guardam as coisas dentro delas (...) Até as pessoas que nos são mais próximas. Nunca as conhecemos verdadeiramente. 

 

* (mais informações sobre o livro em Editorial Presença)

** (mais frases do livro em Dos Meus Livros)