É por isto que não gosto de rever colegas.
Casei (...) Tenho um emprego estável e que me proporciona algum conforto (...) E vou ser papá de gémeos (...)
Parabéns, muitos parabéns.
Repito os parabéns à medida que me vai contando as boas novas dos anos em que perdemos o contacto. Aos vinte e cinco anos, o meu ex-colega de secundário, irradia felicidade e orgulho. Parece feliz, embora algo apreensivo com a chegada dos gémeos, prevista lá para outubro ou novembro... é a primeira vez e logo de dois, não será fácil mas, sei que será capaz; e é isso que lhe digo,
Tenho a certeza que te sairás muito bem nessa função.
Falamos mais um pouco sobre ele e a actual vida... mas será por pouco tempo.
A conversa volta-se, inevitavelmente, para mim. Chegamos à parte que menos gosto: falar de mim. Quer saber o que tenho para contar, se casei ou tenho namorado, se trabalho ou não... tal como ele falou sobre si. Olho o relógio na expectativa que entenda a minha (suposta) presa e não perceba que (subitamente) desejo fugir à conversa (e atirar-me a um rio, também). Fico feliz por ele, não lhe invejo o sucesso, mas também não quero que tenha pena de mim e do meu fracasso. Digo-lhe que não tenho nada de novo a contar e limito-me a um,
Terminei o mestrado e agora estou à de um procura de trabalho minimamente estável.
A conversa desenvolve-se em torno do habitual blablabla,
Não és a única (...) A culpa é da crise (...) Na tua área é complicado (...) Abre-te a outras áreas de trabalho (...) Procura no estrangeiro (...) Tens de ter calma e paciência (...) Já colocaste alguma cunha num ou noutro sítio? (...).
Contenho-me. Apetece-me explodir a chorar e explicar que não é o primeiro a dar-me aquela espécie de sermão ao qual eu conheço bem demais. Respiro fundo. Escuto-o. Respondo-lhe às questões. Tento (ou convenço-me de que pareço) parecer serena e animada, com esperança de que amanhã conseguirei o meu desejado trabalho. Porém, volta à carga, parece não ter entendido os meus olhares sistemáticos para o relógio e depois do profissional, volta-se para o pessoal.
Mas tu não tinhas um namorado? Julguei que também já tinhas casado. (...) Mas o que aconteceu?
Tinha. Já não tenho. Limito-me a isto. Respondo-lhe à última questão com um simples e resumido não tinha porque dar certo. Responde-me com um,
Oh, que pena! Mas ainda és nova, vais encontrar alguém em breve.
Corto-lhe a palavra antes que lance outra questão. Justifico-me com outras tarefas a realizar e um pedido de desculpas por lhe interromper o pensamento. Fica a promessa de conhecer os gémeos e de relembrar memórias de secundário juntamente com a esposa.
Entro no carro. Olho em redor. Certifico-me que ninguém me observa e deixo as lágrimas correr. É por isto que não gosto de rever colegas. Porque uma coisa leva a outra e eu não estou na melhor fase da minha vida... porque, como no passado, não quero que percebam que nada em mim e na minha vida mudou (a gordinha que será sempre um fracasso, como alguém me disse um dia... não quero dar-lhe razão).