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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

22 | Na minha estante... Perguntem a Sarah Gross.

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 Perguntem a Sarah Gross é um livro sensível, uma viagem pela História da Polónia e dos Judeus naquele país, um livro invulgar. 

 

1968. Kimberly Parker, uma jovem professora de Literatura, procura num dos colégios mais elitistas dos EUA, o St. Oswald's, o refúgio para o esquecimento de um segredo terrível que marcará toda a sua existência. O colégio é dirigido pela carismática e misteriosa Sarah Gross, uma mulher de personalidade forte e sentido de justiça, por quem Kimberly nutrirá grande amizade e carinho. Porém, quando a pacatez do colégio é marcado pela tragédia, abalando a vida de todos, Kimberly embarcará na aventura ao passado, ao lado mais negro da História do século XX, à vida que Sarah Gross escondeu de todos. 

 

Perguntem a Sarah Gross é um livro com tanto de sensível como de invulgar. É um livro para quem, como eu, se sente atraído por um dos períodos mais negros e que tantos milhões de inocentes vitimou, contando a história da cidade de Oshpitzin, na Polónia, onde se instalou um dos piores campos de concentração, Auschwitz-Birkenau.

 

Há muito que a Grande Sinagoga e a Igreja da Virgem Maria se olhavam com complacência por cima dos telhados de Oshpitzin. Era ali que Sarah Gross aprendera a ser feliz. Mas eles chegaram e mudaram tudo. Até o nome da cidade. Auschwitz? Que raio era Auschwitz?

 

O livro de João Pinto Coelho é cativante difícil de abandonar. A cada nova página, a cada novo capítulo, mais desejava conhecer de Perguntem a Sarah Gross. É misterioso, numa escrita envolvente, imaginamos cenários distintos de vida para Kimberly e Sarah que, no final, ficam aquém do que imaginamos. O livro inicia-se lento e recheado de detalhes, quiçá o único aspecto negativo a apontar, mas rapidamente evoluí, dando-nos a conhecer o drama doloroso que envolve as personagens. Criativo e inesquecível, quem lê Perguntem a Sarah Gross dificilmente a esquecerá, ou abandonará o livro, um murro no estômago sobre a crueldade humano e a capacidade de perdoar.

 

E, depois, havia a fome...

Como se descreve a fome em Auschwitz?

Por palavras? Haveria que as inventar, primeiro.

 

A par d' A Bibliotecária de AuschwitzPerguntem a Sarah Gross tornou-se um dos meus livros preferidos sobre a temática do Holocausto Judeu e sem receio ou margem para dúvidas, são dois dos livros que recomendo a novos e velhos, mulheres e homens, ateus e crentes, ocidentais e orientais... pela forma tocante, inesquecível e sensível como um relata um pedaço da História cruel do Mundo. Setenta anos depois não podemos, simplesmente, deixar cair no esquecimento História tão negra e perturbante.

 

(...) mesmo após o relato detalhado que acabara de ouvir, continuaria sem saber como se sofria em Auschwitz. Como era o frio, a fome ou o medo. Talvez um dia o glossário da humanidade acrescentasse essas entradas novas. Até lá, restava a colecção de gestos como aquele; de alguém que nada tem e se agarra a uma colher ferrugenta como se da própria vida se tratasse. 

 

João Pinto Coelho

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João Pinto Coelho nasceu em Londres em 1967. Licenciou-se em Arquitetura em 1992 e viveu a maior parte da sua vida em Lisboa. Passou diversas temporadas nos Estados Unidos, onde chegou a trabalhar num teatro profissional perto de Nova Iorque e dos cenários que evoca neste romance. Em 2009 e 2011 integrou duas ações do Conselho da Europa que tiveram lugar em Auschwitz (Oswiécim), na Polónia, trabalhando de perto com diversos investigadores sobre o Holocausto. No mesmo período, concebeu e implementou o projeto Auschwitz in 1st Per-son/A Letter to Meir Berkovich, que juntou jovens portugueses e polacos e que o levou uma vez mais à Polónia, às ruas de Oswiécim e aos campos de concentração e extermínio. A esse propósito tem realizado diversas intervenções públicas, uma das quais, como orador, na conferência internacional Portugal e o Holocausto, que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, em 2012. Perguntem a Sarah Gross é o seu primeiro romance.

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