Quatro de Janeiro.
Dia quatro de Janeiro é, desde há cinco anos, a data mais importante do meu ano, mais do que mudar o ano no calendário ou, inclusive, do que o meu próprio aniversário. É uma data com um significado especial que talvez não consiga descrever pela circunstâncias que a marcaram e por tudo o que senti mudar na minha vida desde aquele dia. Significa, para a maioria, que o ano novo e a respectiva celebração foi há quatro dias atrás mas, para mim, traduz-se numa simbólica transformação interior e num momento de reflexão.
Hoje, quatro de Janeiro, faz o blogue Um Mar de Pensamentos cinco anos de existência. Nasceu numa manhã fria, com uma manta sobre as pernas e na minha sala de estar onde escrevia, num computador apple, as primeiras palavras sobre mim e os meus desabafos. Cinco anos depois, num computador acer, sentada na minha cama e com uma manta sobre as pernas - porque cinco anos depois continuo a ser uma velha -, celebro uma das datas mais importantes de mim: um blogue, mais um dos muitos blogues que criei antes dele, que é o meu refúgio, o meu diário, os meus sentimentos e desabafos, o meu eu.
O blogue Um Mar de Pensamentos assistiu a tantas mudanças ao longo dos cinco anos de mim. Desabafei choros e estados de alma, conquistas e fracassos, sonhos e desistências. "Viu-me" crescer pessoal e profissionalmente. Assistiu a mudanças e foi palco de destaques - quer no sapo blogs quer pela porta editora. Foi um diário pessoal, um diário de leituras e um diário de reflexões sociais. Permitiu-me conhecer pessoas fabulosas e dar-me a conhecer. Mudou de layout inúmeras vezes. Viu nascer novos blogues, desaparecer alguns e ver outros quase a desistir... como ele próprio. Mas, cinco anos depois, com mais ou menos post, com mais ou menos seguidores, com mais ou menos comentadores, mantém-se porque, apesar de tudo, este é o espaço onde eu sempre me encontro e onde posso escrever um mar de pensamentos que carrego na alma, sem julgamentos.
Hoje, porque para mim é e será sempre uma das minhas datas preferidas e importantes, quero reflectir sobre o quão mudei e mudou a minha vida desde aquela manhã de dois mil e catorze até o ano de dois mil e dezanove.
Não sou a mesma menina triste e solitária daquela manhã. Cresci psicologicamente, tornei-me mais forte e mais segura de mim embora, no fundo, ainda tenha tanto para mudar. É um processo demoroso e lento, que requer muita vontade mas, aos poucos e poucos, sinto que consigo melhor o que julgava nunca conseguir trabalhar. Não emagreci como, desde há muitos anos quero, em parte porque me falta a auto-disciplina e, noutra parte, porque tenho sempre uma desculpa para que nada mude. Quero mas não quero. Parece estranho, tão estranho como eu mesmo me sinto, mas são estas pequenas estranhezas de mim que, ao longo dos anos, consegui moldar e mudar.
Conheci o amor e o significado. Cruzou-se, no meu caminho, um homem que como ele mesmo me diz "nunca me deixa cair". Uma pessoa especial que me ajudou e ajuda, continuamente, a mudar e a querer ser melhor. O amor, mais do que palavras, são os gestos que realizamos para com o outro. Sinto, por este M., um amor profundo e uma gratidão enorme por me fazer acreditar que posso ser melhor, por me incentivar a nunca desistir de escrever e lutar, por me devolver a esperança de que o amor é muito mais do que aquela estranho e violento romance que um dia vivi. Não sei o que o amanhã nos reserva mas, no hoje, sinto que o quero para todo o sempre e que sem ele me "afundaria". Encontrei quem nunca julguei possível encontrar... sou, no amor, uma feliz e apaixonada sortuda.
Cinco anos de leituras. Quando o blogue nasceu, um dos meus objectivos, era escrever sobre livros. Precisava, tal como desabafar o que sinto, de partilhar as minhas experiências literárias. Não considero Um Mar de Pensamentos como um blogue de cariz literário é, na sua essência, um diário pessoal com um grande foco nos livros. Os livros, como a escrita, possuem em papel essência e fundamental em mim. Posso passar dias sem ler, mas não consigo passar meses sem tocar num livro. Preciso de ler como preciso de ar para respirar... ou talvez seja exagero da minha parte, mas é-me fundamental ler, independentemente do tempo que demore a ler um livro. A maior conquista que este blogue teve foi, para mim, está...
... porque se trata de um dos livros mais bonitos que li na minha vida. Quando nasceu, jamais sonhei que este blogue conquistasse tal privilégio e tão pouco com ele alcançasse uma oferta literária... obviamente que, se mais do género surgirem, não me negarei a elas: porque livros são sempre muito bem-vindos e nunca são suficientes para mim.
A nível profissional sinto que estes cinco anos foram feitos de altos e baixos. Passei quase dois anos em busca de trabalho na minha área de formação sem nunca o conseguir. Não sei se foram as minhas carências profissionais, falhas pessoais ou eu não saber para que lado me guiar ou, ainda uma conjugação de tudo e pouca sorte, mas por mais que tentasse, e continue a tentar, parece que todos os esforços me escapam pelos dedos. Trabalhei dois anos como operadora de loja, tendo integrado os quadros da empresa, e embora eu gostasse do que fazia, sentia que desperdiçava tempo e energias em algo no qual eu não me conseguia imaginar muito tempo. A conjugação de coisas negativas que aconteceram no mesmo ditaram que mudasse de emprego. Inicialmente, parecia um emprego bom e estimulante mas, depressa percebi que se misturam ingredientes de solidão, rotina e longas horas de automóvel que, novamente, me reacendeu a chama pela busca de um novo trabalho. Não sei se este ano será o ano em que, por fim, encontro o "tal emprego" mas é mais um ano de busca e procura...
Um Mar de Pensamentos assistiu a tantas mudanças que, enumeradas, deixariam este post demasiado repetitivo, cansativo e longo. Este é o meu espaço, uma espécie de filho para cuidar e mimar, um mar de escritas, livros, sonhos, conquistas e fracassos. Não sei quantos anos durará, nem as conquistas que alcançarei ou que o espaço alcançará. Não sei quantos posts escreverei sobre desilusões, magoas ou fracassos, nem tão pouco quantos serão os textos sobre livros, trabalho, família, amizade e amor. Não sei quantos me seguem desse lado do ecrã e a quanto mais chegarei ou perderei. Sei, unicamente, que quero continuar a escrever enquanto a vida e o destino me deixarem, quero que este Um Mar de Pensamentos viva mais cinco anos, dez ou vinte, o tempo que acreditemos que deverá viver. Não serei nem tão pouco ambiciono ser A Pipoca Mais Doce ou A Melhor Amiga da Barbie ou se algum dia deixarei, simplesmente, sobre o manto do anonimato mas, serei sempre a M* ou a Maria - que é, de facto o meu nome e do qual poucas pessoas conhecem o rosto - do blogue Um Mar de Pensamentos.
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