A Contadora de Histórias, da aclamada escritora Jodi Picoult, romance profundo e inesquecível, é uma viagem de encontro a um passado trágico e marcante de uma família judia nos campos de concentração da II Guerra Mundial.
Sager Singer é jovem, inteligente, curiosa e, porém, extremamente marcada pelos traumas do passado e incertezas do futuro. A morte dita-lhe a profissão: padeira. Sager trabalha de noite, preparando o pão e os bolos para o dia seguinte numa pequena padaria, gerida por uma ex-freira católica e a sua única amiga, e de dia refugia-se no sono para fugir à solidão e à dor pela perda da mãe. A perda trágica da mãe, pela qual Sager se responsabiliza, torna-a membro de um grupo de apoio onde trava uma amizade improvável com o velho Josef Weber.
Josef Weber, no alto dos seus noventa e muitos anos, não consegue ultrapassar a dor pela perda da esposa e, no entanto, não é a única morte que o marca. Elemento querido e reconhecido pelas suas actividades de apoio à da comunidade e aos jovens de Westerbrook, Josef esconde um terrível segredo... e um favor extraordinário a pedir a Sager.
Suponho que quando uma liberdade nos é retirada, reconhecemo-la como um privilégio e não como um direito.
Os protagonistas, deste livro, e de uma estranha e invulgar amizade, transformam-se no dia em que Josef revela o seu passado a Sager. A busca pela verdade e justiça, caminhará de mãos dadas com a traição, o amor e o perdão, um segredo que mudará a vida de Sager. No fundo, são histórias de vida dentro de outras histórias de vida que, rapidamente e surpreendentemente, se cruzam com a de uma judia sobrevivente do Holocausto e de um ex-alto dirigente de um campo de concentração nazi.
A Contadora de Histórias é um romance magnifico, grandioso, realista, distinto. A história de Sager e Josef tocou-me pela escrita inconfundível e maravilhosa de Jodi Picoult mas, sobretudo, pelo outro lado... poucos foram os livros que li sobre os campos de concentração nazi que revelassem os sentimentos de quem os dirigia e vigiava.
Se os meteres todos no mesmo saco por serem alemães, como podes ser diferente quando eles nos metem a todos no mesmo saco por sermos judeus?
Surpreendente e soberbo, este romance publicado pela Bertrand Editora, revela o lado alemão e a forma como os seus jovens se deixaram contagiar pelas ideias nazis, os sentimentos possíveis de quem se uniu aos campos de concentração para assassinar idosos, homens, mulheres e crianças, acima de tudo, pela religião que seguem, mas igualmente pela etnia, sexualidade ou posição política. Não é, de todo, uma justificação ou desculpa para actos imperdoáveis é, no entanto, um alerta para a facilidade com que nos deixamos facilmente influenciar por preconceitos e discursos inflamados de ódio.
Incrivelmente, não foi a coisa mais deprimente que alguma vez tínhamos visto: uma noiva, arrancada ao seu próprio casamento, separada do noivo e metida num transporte para Auschwitz.
Pelo contrário, deu-nos esperança.
Queria dizer que, independentemente do que acontecesse neste campo, por muitos judeus que eles continuassem arrebanhar e matar, continuava a haver mais judeus: a viverem vidas, a apaixonarem-se, a casarem, a partir do princípio de que o amanha chegaria.
Invulgar e espantoso, A Contadora de Histórias é uma leitura de cortar a respiração, cativando-nos desde a primeira página à última. Adorei cada uma das personagens, cada particularidade, cada sentimento, cada história...
Dentro de cada um de nós existe um monstro; dentro de cada um de nós existe um santo. A verdadeira questão é qual deles alimentamos melhor, qual deles destruirá o outro.
Ler A Contadora de Histórias depois de Viver Depois de Ti, um livro extremamente marcante e que me deixou sob efeitos de uma ressaca literária, elevou a minha fasquia... mas não desiludiu, pelo contrário, surpreendeu, elevando as leituras seguintes a patamares difíceis de igualar. Na verdade, 2015 têm-se revelado um ano de leituras marcantes...
Jodi Picoult
Nasceu em Nova Iorque, EUA, em 1966. Estudou Inglês e escrita criativa na Universidade de Princeton e publicou dois contos na revista Seventeen enquanto ainda era estudante. O seu espírito realista e a necessidade de pagar a renda levaram Jodi Picoult a ter uma série de empregos diferentes depois de se formar: trabalhou numa correctora, foi copywriter numa agência de publicidade, trabalhou numa editora e foi professora de inglês. Premiada com o New England Book Award, em 2003, pela totalidade da sua obra.
Dos cerca de vinte livros publicados por Picoult, apenas quinze se encontram traduzidos à língua portuguesa.