Como explicar isto? A verdade é que, para mim, o Natal pouco me diz. Começa cedo demais. Farto-me cedo dele.
Não me interpretem mal,existe sempre explicação para qualquer coisa e este não é um caso distinto (pode é não agradar mas, enfim, nada posso fazer),
Cá por casa, o Natal não possui o mesmo significado que, quiçá, a maioria lhe atribui: um dia em que a família se reúne em torno de uma mesa farta e recheada de iguarias e doces, árvores repletas de presentes, crianças felizes no universo dos novos brinquedos e mais qualquer coisa. A verdade é que desconheço qual o verdadeiro significado do Natal. Não me recordo de festejar o Natal. Não me recordo de Natais com a família reunida e mesa recheada. Não me recordo de presentes. Em toda a vida, recebi apenas dois presentes dos meus pais: quando tinha uns sete anos, presentearam-me com uma boneca gigante que contemplava durante horas à porta da loja e, uns anos mais tarde, com uns quinze anos, com dinheiro que regressou à carteira dos meus pais.
De facto, para mim, o Natal não assume o mesmo valor que quase todos lhe atribuem... são poucas as pessoas que trabalham no dia de Natal e, por azar ou sorte, os meus pais são dessas pessoas. Cresci com o meu pai a valorizar o trabalho em lugar do lazer e, com a minha mãe a praticamente não descansar; sabem o que é crescer na miséria e, desde sempre, evitaram que os filhos sentissem o mesmo, ensinando-nos a importância do trabalho. Não são médicos ou bombeiros ou algo do género, mas pessoas que viveram para trabalhar. Portanto, para eles, esta época festiva é mais uma de trabalho e onde podem conseguir algum dinheiro extra para emergências (como problemas de saúde ou uma despesa extra inesperada; e das quais não se encaixam férias em família). A verdade é que, para nós, o Natal é mais uma época como qualquer outra. Mesmo quando era miúda e refilava por não ter um dia de Natal como as outras crianças ou mais presentes, a resposta era sempre a mesma: o importante é que temos todos saúde ou eu quando tinha a tua idade não sabia o que eram presentes. E, se para a minha mãe, o mais importante nesta época é a celebração religiosa já, para o meu pai, o mais importante era e é passarmos a noite juntos e continuarmos com boa saúde...
O meu sentimento natalício é completamente distinto daquele que hoje em dia existe. Gosto de receber presente, como qualquer outra pessoa, mas continuo a sonhar com uma enorme árvore de natal, com crianças e família reunidos, uma mesa enorme e recheada, filmes e jogos natalícios... essas coisas todas que sempre alimentei dos filmes. Hoje em dia é tal a nossa preocupação no que oferecer que mal nos lembramos do que realmente é o Natal. Não falo do sentimento religioso porque, na verdade, não sigo religiões. Falo das luzes, das árvores decoradas, do Pai Natal, das bolas e grinaldas, das renas e do ambiente nostálgico. É disso que gosto no Natal. Mas estou farta desta época... Das publicidades despropositadas, dos incentivos ao consumo e do consumismo louco, dos shoppings recheados de gentes num entra e saí desenfreado em lojas... Sinto-me cansada de ninguém se lembra do que realmente é importante no Natal e, sobretudo, de ninguém se lembrar de mostrar isso aos mais pequenos. O Natal é mais do que prendas ou do que religião (embora seja uma festa religiosa), é reunir a família. Quantas vezes reunimos pais, filhos e filhas, avós, netos e netas, tios e tias, primos e primas à volta da mesa? Eu falo por mim, apenas uma vez no ano... mas, talvez, noutras famílias seja distinto.
E aqueles seres que não se falam o ano todo mas, chegadas as festas natalícias é Feliz Natal e todas as prendas desejadas no sapatinho para aqui Feliz Natal e todas as prendas desejadas no sapatinho para acolá? Aquela gente falsa, que critica tudo e todas, fala mal de qualquer coisinha e, chegados a Dezembro, parecem que são assombrados pelo espírito bonzinho do Pai Natal ou da Mãe Natal (mediante a pessoa)? Sim, essas mesmas que, tanto podem ser da família como a vizinha do quinto esquerdo ou o senhor da papelaria...
É um sentimento confuso, bem sei... talvez confuso demais para se explicar. Gosto do Natal e não gosto dele. Gosto do simples, mas detesto o consumismo que adquiriu o Natal. Começa cedo demais (em meados de Outubro já existe publicidade televisiva), espalha-se por todo o lado e torna-se cansativo... provavelmente, a culpa é de nunca ter conseguido viver o verdadeiro sentimento de Natal. E, o meu desânimo é tal com esta época que, pelo segundo ano, não me darei ao trabalho de montar a árvore de Natal...
Talvez um dia conheça o que é o Natal no seu verdadeiro significado.