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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Setes frases que escuto por trabalhar em hipermercado...

Atendimento ao público, nomeadamente num hipermercado, não é nem jamais será fácil. Existe uma panóplia curiosa de clientes que, mais ou menos fácil de aturar, pintam os dias de quem trabalha nestes estabelecimentos de distintos sentimentos. Variamos entre a vontade de incontrolável de nos rir-mos ou, frequentemente, em sentimentos de raiva que por vezes julgamos adormecidos. A verdade é que só quem um dia trabalhou com atendimento ao público, mais concretamente em hipermercado, compreende as palavras a que hoje me dedico. Um texto que sempre quis escrever, sobre as frases que escuto - ou o relato de situações que os meus colegas de trabalho viveram - com regularidade no meu ambiente de trabalho, enquanto operadora de loja. 

 

- Menina, trabalha aqui? - ou como um cliente consegue ser parvo:

Pergunto-me se a minha indumentária, com logótipo do hipermercado não será suficientemente claro para demonstrar que ali trabalho... curioso é quando a abordagem acontece quando me encontro a repor algum produto alimentar ou a tentar sobreviver/manobrar ao transporte de uma palete assassina (aquelas pesadonas em que é preciso comer um animal para a parar). Esta é, definitivamente, a pergunta que desperta uma dualidade de sentimentos em quem trabalha em hipermercado... 

 

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- Oh menina, estas bolachas são de graça? - tentativa de ser engraçado por parte de um cliente:

Não, na verdade, as bolachas não são de graça mas, tal como qualquer pessoa, provavelmente o colega esqueceu de colocar o preço correspondente. É, garantidamente com 100% de certezas, um esquecimento e não uma forma simulada de enganar os clientes. E, acrescento, o mesmo acontece quando o nome do produto não corresponde ao escrito na etiqueta. Já imaginaram colocar milhares de novos preços, numa mudança de folheto, e não deixar escapar um?! É, impossível...

 

- Olhe, não terá mesmo mais desta manteiga lá no armazém? - o cliente que duvida sempre de tudo:

Vou dar o braço a torcer: em 50% dos casos sim, até existe a dita manteiga. Na outra metade, a etiqueta que indica a falta temporária daquele artigo não está lá por mero acaso... é porque de facto não existe. Se, por vezes, a falha é do colaborador na hora de colocar o artigo, o mesmo não se pode afirmar quando o artigo falha por estar em promoção... porque a falha pode ser do sistema ou inexistência do produto por parte do entreposto ou fornecedor. 

 

- O papel higiénico é onde? - ou o cliente que se não quer ler:

A maioria dos hipermercados indica o que cada corredor possui e basta, para tal, olhar para cima ou cuscar. É simples e, a verdade é que, se repararem bem, seja Continente, Pingo Doce ou Intermaché, a disposição das lojas não altera muito. Ah e não vale a pena usarem a desculpa que, como já escutei, é verídica e passou-se com uma colega minha: "- Não venho às compras para ler etiquetas ou placas." Suponho que, assim sendo, também não lê o que anda a comprar.


- Menina, onde está o corredor das bolachas? E o champô? - ou o cliente que deseja que sejamos nós a fazer as compras:

Cliente distinto do anterior, é aquele ser chato que mais um bocadinho e nos entrega a lista de compras e nos pede que coloquemos os produtos no carrinho... depois de saber onde ficam as bolachas, quer saber onde está o champô, o vinho, o pão, o queijo, o salmão e o frango embalado.

 

- A menina trabalha aqui e deveria saber! - ou, o cliente que acredita que deveríamos experimentar todas as manteigas da loja e trabalharmos a rebolar:
Certa vez, nos primeiros meses como operadora de loja, tive um cliente que me questionou se a manteiga A seria melhor que a manteiga B, porque a primeira era mais cara do que a segunda, logo seria melhor. Eu respondi-lhe com honestidade e inocência, de que não sabia mas seguindo a lógica dele, talvez tivesse razão. A resposta do senhor foi algo entre o espanto, o choque, a confusão e a revolta: "Como não sabe? Você trabalha aqui e deveria saber qual a melhor manteiga." - Por meu turno, respondi com um mero: "Eu nem sequer posso comer manteiga!". 

 

- Olhe, amanhã trabalham? - a pergunta mais revoltante na quadra natalícia do cliente idiota:

Uma colega minha, a quem lhe perguntaram se a loja abria no dia de Natal, limitou-se a responder um "Sim, depois das duas da tarde." Sobre este género de cliente, pouco existe a acrescentar. É o mesmo que acha que o hipermercado deveria estar aberto vinte e quatro sob vinte e quatro horas, porque quem lá trabalha ganha imenso e não possui família ou vida social...

 

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Hoje em dia, com dois anos a trabalhar como operadora de loja, sei contornar ou ultrapassar comentários negativos ou rabugentas de alguns destes clientes... e, certamente, outras frases e tipos de clientes ficaram de fora. Porém, talvez o que mais me custe e revolte perceber é que, para muitos dos clientes de hipermercado, quem ali trabalha é como que considerado um falhado, uma pessoa sem qualquer formação educacional, que não merece escutar um simples "- Boa tarde!" ou "- Obrigado!". São, tristemente, cada vez mais frequentes situações de desprezo para com quem trabalha em hipermercado, como se não tivéssemos direito a nada quando, na verdade, muitos de nós possuímos habilitações de nível superior... e, mesmo que assim não fosse, palavras de boa educação ficam sempre bem em qualquer pessoa.

 

Eu, como detentora de licenciatura e mestrado, não me considero uma falha nem tão pouco me acomodei a um emprego que no qual não sou totalmente feliz mas, antes pelo contrário, persisto na minha busca... mas isto é tema para outro texto. 

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