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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

O que fazer com às lembranças de ti?

Dois anos, quase três, deveriam marcar a diferença: esquecer-te. Mas, quando os meus olhos encontraram aquele saco com a caixa das lembranças do que fomos, não consegui evitar abrir e retirar cada uma das pequenas coisas do que um dia fomos. Uma caneca, uma camisola, os restos de um ramo de flores, as tuas cartas e palavras de amor, a nossa primeira fotografia, o teu peluche de infância. Pequenos momentos que sinto ao tocar em cada peça, em cada objecto, em cada lembrança. O meu coração é um tolo que desenterra pequenas lembranças do nosso passado. Naquela caixa, guardada no frio e escuro de uma garagem, tentei enterrar-nos, a ti e a mim, aos nossos maus e bons momentos. 

 

O que fazer com aos presentes de uma relação?

 

Durante anos debati-me sobre o que acontecia aos presentes dos casais. Não existe uma regra: ou se guarda ou desaparecem. Perguntava-me sobre o que aconteceria aqueles peluches, cartas e pequenas coisas que via os casais enamorados de amigos trocarem. Nunca perguntei a ninguém, amigo ou amiga, o que acontecia com aquelas pequenas lembranças dos ex-namorados mas, questionava-me. Colocava-me no lugar delas e acreditava que eu, provavelmente, os destruiria. Acreditava que, desta forma, seria mais fácil esquecer alguém. Até passar pelo mesmo...

 

Quando, à dois anos terminamos, quis destruir tudo: queimar, deitar fora ou simplesmente devolver. Achava que seria mais fácil assim. E, foi nesta altura que perguntei, pela primeira vez a alguém o que fazer com as coisas de quem um dia amamos. Disse-me essa amiga que, fosse qual fosse a minha escolha, nada apagaria as lembranças nem tão pouco o traria de volta. Ela reuniu as lembranças de ambos e guardou-as e, a mim, aconselhou-me o mesmo. Assim o fiz. Quis devolver o seu peluche que, ora me trazia boas lembranças, ora me devolvia discussões mas, faltou-nos a coragem para um último adeus. 

 

Tu não sabes, ninguém sabe, mas tenho apenas uma fotografia tua, nossa. A primeira que tiramos juntos naquela aldeia perdida na serra. Um dia de raiva e revolta apaguei, uma a uma, tu e nós. Não te queria ver mais...

 

Porém, uns dias antes de dizer adeus à eterna cidade que o coração adoptou e que é tua desde sempre, vi-te. Não sabes, mas mexeu imenso comigo... ver-te passar de carro (e, creio que, também me viste). Quase um ano depois, voltava a ver-te. Nessa noite adormeci agarrada aquele maldito boneco amarelo, entre lágrimas e uma caixa carregada de recordações na cabeceira. No dia seguinte ganhei coragem e enfiei o teu boneco num envelope com a tua morada... ainda hoje, a caminho dos três anos desde o fim, guardo aquele pedaço de ti fechado na solidão de uma garagem.

 

Lembrei-me de ti. Ando à uns dias a pensar em ti, a falar de ti. Não são saudades de ti ou de nós. De ti, queria apenas a amizade que me negaste, como se o que vivemos não tivesse valido nada. Para ti, talvez tenha sido mais uma mas, para mim, foi o mais próximo que tive de sentir que alguém gostava de mim de alguma maneira. Sei lá. O que sinto é um misto de saudades, de carência, de vontade de reviver os bons momentos que junto a ti vivi... mas com alguém que não tu.

 

O que vou fazer com as prendas do L.? perguntou-me a minha irmã, entre lágrimas, quando a relação deles terminou.

 

Tem dezassete anos e um mundo pela frente. Outros amores, lágrimas e sorrisos. Respondi-lhe Guardas-as numa caixa e ela, entre lágrimas, assim o fez, Porque independentemente de tudo o que sintas, nada apagará essas lembranças...

 

Porque, passem os anos que passarem, jamais esqueceremos os amores que nos marcam. 

 

E, perguntas-me, se soubesses que ainda penso em ti, porque te escrevo isto... e, a verdade, é que não sei. Queria apenas reflectir sobre os presentes que guardamos de uma relação e, inevitavelmente, o pensamento traiu-me. Falo de ti porque nunca me deixaste explicar o que sentia. Falo de ti porque acredito que já nem te recordas de mim... do meu nome e dos meus olhos, do meu corpo e da marca que caracteriza o meu rosto. Acredito que não sabes mais quem eu sou. Falo de ti porque acredito que não guardes, como eu, aquilo que um dia te ofereci... às vezes, imagino-te a destruir aquela enorme moldura com as nossas fotografias (e que tu, provavelmente, não imaginarás o trabalho que me deu!) ou aquele quadro que te pintei... ou, pior, atiradas para um caixote de lixo malcheiroso. Prefiro assim, imaginar tudo isto... e, confesso, às vezes peço às estrelas para eliminar da alma e do coração tudo o que é teu.

 

Hoje mexi naquela maldita caixa... e percebi que ainda não te esqueci. Será que se a atirar para um caixote de lixo, como acredito que tenhas feito comigo, me esqueço de ti?

 

O meu coração é um idiota... e, sei lá, eu também... por te escrever estas palavras.

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