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Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

Um Mar de Pensamentos

... nasce do desejo inconstante de partilhar um pouco de mim e do que sou numa espécie de diário. Resumo-me em: Maria, 32 anos, signo gémeos, amante de livros, sonhadora, romântica, dramática q.b., viciada em chocolates.

9 | Da minha estante... A Menina Que Fazia Nevar.

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 A Menina Que Fazia Nevar é, provavelmente, um dos livros mais bonitos que li até hoje. Uma história tocante e sensível, curiosa e diferente. Uma agradável surpresa onde temas como a religião, solidão, fanatismo e o bullying se misturam com o amor, a fé, o perdão e a imaginação. 

 

Judith é uma menina de dez anos que vive com o pai numa pequena cidade. Não tem amigos e é constantemente agredida, física e psicologicamente, pelos colegas. O pai, um homem de grande fervor religioso, trabalha numa fábrica e rege os dias da família segundo os mandamentos religiosos. Todos os dias ao regressar a casa, Judith e o pai, rezam e analisam textos da Bíblia. Pai e filha, atrevo-me a dizer, são dois desconhecidos que apenas falam de Deus e dos seus ensinamentos. Por conseguinte, os dias de Judith são passados na solidão do seu pequeno quarto. Nele construiu um pequeno mundo em miniatura, através de restos de lixo, que apelidou de Terra de Leite e Mel. Judith acredita que faz milagres quando, pela primeira vez, fez nevar no seu mundo em miniatura e, na manhã seguinte, a pequena cidade se vestiu de branco em pleno mês de Outubro. Judith acredita, igualmente, que fala com Deus.  

 

A Menina Que Fazia Nevar despertou, em mim, um turbilhão de sentimentos: ora de revolta pela forma como Judith é tratada pelos demais, ora de querer entrar no livro e acordar o pai do mundo religioso, ora de reflexão sobre os perigos do fanatismo religioso... e, se de facto todos seguíssemos os mandamentos da religião, independentemente de qual seja a religião, o Mundo seria um lugar extremamente difícil de se viver. Aliás, quando entregamos e vivemos mediante o que interpretamos de um livro, corremos o risco de sermos meros fantoches e de arrastar os demais, sem conseguirmos viver e aproveitar os dias. 

 

O livro esta repleto de questões e momentos de reflexão. Os milagres e poderes que Judith fala - para mim, golpes de sorte ou traçados pelo destino - leva-nos a reflectir sobre eles, mostrando-nos quem têm a força para os concretizar: nós? Deus? ou ambos?. Outra questão que fica em aberto: será, de facto, que Judith falava com Deus ou seria algum transtorno psicológico da menina?

 

Grace McCleen escreve de forma cativante e ponderada, uma escrita que nos vicia e não nos permite abandonar a leitura... uma escrita que nos troca as voltas.

 

Comprei A Menina Que Fazia Nevar, como anteriormente referi aqui, por me recomendaram. Mas, não só... A capa é extremamente cativante, embora goste mais desta (a versão brasileira, mais próxima da realidade do livro), bem como pelo título e sinopse. Não sendo eu de modo algum crente ou ligada à religião - aliás, tenho uma visão um pouco radical das religiões que, acredito, serem o grande problema de quase todos os conflitos - estes temas, de cariz religioso, sempre me interessaram, especialmente aqueles com pitadas de polémica (como, A Filha do Papa de Luís Miguel Rocha). Ainda assim, este livro tornou-se inesquecível... especialmente, pela reviravolta que sofre.

 

A Menina Que Fazia Nevar de Grace McCleen é uma leitura que recomendo a judeus, cristãos, muçulmanos e qualquer religioso, a cépticos e não crentes.

 

(mais informações sobre o livro em Editorial Presença)

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